quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

“Doutor Sono”
de Stephen King

Here’s…Danny!


Qualquer fã de Stephen King, principalmente aqueles que acompanham a sua obra desde sempre, já muito que aguardavam, nervosamente, a edição de “Doutor Sono” (Bertrand, 2016), a sequela de “The Shinning”, do fantástico mundo de Danny Torrance e do “seu” Hotel Overlook. Mas será que a espera valeu a pena?

Vamos por partes. Se o objetivo é ler uma continuação direta e explicita do livro lançado originalmente em 1977, recuperando a mesma sensação claustrofóbica de um terror atrativo, a espera terá sido em vão. Mas se se quer um bom livro que mistura suspense com terror, “Dr. Sono” é uma excelente companhia e tem como bónus sentir as mais recentes deambulações de Danny Torrance.

Agora adulto, Torrance tornou-se num alcoólico mas sente que tem de mudar, recuperar. Ainda assombrado pelos residentes do Hotel Overlook, anda há décadas à deriva, tentando libertar-se do legado de desespero e violência deixado pelo seu pai. Instala-se numa cidade de New Hampshire, apoia-se na comunidade local dos Alcoólicos Anónimos e trabalha num lar. O único brilho que lhe resta oferece é um derradeiro conforto aos moribundos, assumindo-se como o «Doutor Sono», sempre acompanhado por um misterioso gato.

Entretanto conhece Abra Stone, uma antiga companheira de infância cujos poderes suplantam os seus. Vivem-se tempos atribulados, principalmente devido a uma nova seita composta por “vampiros psicológicos” que se fazem transportar à boleia de autocaravanas, que se autointitula “Nó Verdadeiro”, seres (quase) imortais que vivem do vapor produzido pelas crianças, com o seu brilho quando são lentamente torturadas até à morte. Stone anda a ser perseguida pela seita e cabe a Torrence protegê-la e salvar a sua alma.

Ainda que com uma narrativa sólida (sim, King é King…), “Doutor Sono” deixa a desejar em alguns pormenores. Os seus monstros, por exemplo, não têm o mesmo perfil assustador de outros (volta, Pennywise!). Porque, simplesmente, não o são. Um dos poucos momentos que se sente, de facto pânico, e as mãos suam, regista-se aquando do rapto de um rapaz cujo destino é ser devorado. Talvez, dizemos nós, Stephen King tenha de sair um pouco de dentro da cabeça dos seus personagens maléficos – alguns deles, como por exemplo Corvo, Nozes, Sam Harmónica, Petty, a chinesa, ou até mesmo o Avô Flick, são neste livro vítimas de alguma falta de conteúdo, com papéis de meros antagonistas – e dar-nos mais a conhecer dos seus lados pérfidos.

Mas King está além da forma pois o seu conteúdo continua…brilhante. A caracterização dos personagens é fantástica, sendo, por exemplo, quase impossível não sentir uma (real) simpatia por Torrance. Rose (Hat) O’Hara é também uma mais-valia ainda que esteja muito longe, por exemplo, do magnífico Randall ‘Walking Dude’ Flagg.

Apesar disso, e das talvez demasiado elevadas espectativas, “Doutor Sono” é um (muito) bom livro, apresenta uma trama consistente, apresentada em “camadas” crescentes de interesse, vai, com certeza, saciar a sede dos fãs de Stephen King em ler o mestre.

In Rua de Baixo

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