domingo, 12 de junho de 2016

“Império do Medo – No Interior do Estado Islâmico”
de Andrew Hosken

Políticas de Terror


A história geopolítica das últimas décadas tem sido assombrada por vulgares ataques terroristas, atos que atentam não só contra os ideais do Ocidente mas, acima de tudo, subjugam a vida de inocentes e espalham uma sensação de insegurança e desconfiança.

Nesse sentido, o percurso do ISIS (Estado Islâmico) reflete uma “filosofia” violenta e assassina, frequentemente alvo de destaque nos noticiários de todo o mundo. Somos assim forçados a assistir a histórias reais, de um horror inusitado, cuja assinatura é sinónimo de genocídio, um dos mais vulgares desígnios da cobardia terrorista.

Somos levados a tentar entender as razões para tal, o que motiva os terroristas, quais os seus objetivos, quando irá parar a sangria e qual a real proximidade da mesma. Os recentes ataques que o território Europeu tem vivido tornam a ameaça presente e induz-nos uma sensação de medo permanente pois, afinal, isto não acontece só aos outros.

É com base nestas premissas que Andrew Hosken, jornalista da BBC e uma das principais figuras que cobriram o 11 de setembro e a “Primavera Árabe”, escreveu “Império do Medo” (Planeta, 2016), um livro que versa sobre o Estado Islâmico desde a sua génese, quando era uma célula subsidiária da Al-Qaeda, até hoje, assumindo-se como força dominante de uma vasta área que ocupa territórios entre a Síria e o Iraque e que teima em aterrorizar o resto do mundo.

Ao longo de 15 capítulos, Hosken, profundo conhecedor do perfil do Estado Islâmico, analisa a complexa teia da organização, bem como a sua ascensão, através de uma cronologia de terror crescente. Ficamos assim a saber, por exemplo, que Abu Musab al-Zarqawi, o primeiro líder jordano do ISIS, recebeu o seu batismo radical numa prisão através dos “conselhos” de um extremista islâmico, e como depois conseguiu aliar à causa seguidores com o objetivo de purgar inimigos, especialmente no Iraque, espalhando a morte como uma espécie de obscena assinatura, até conseguir, em 2014, declarar o califado, com uma área semelhante à Grã-Bretanha e governado segundo as leis da Charia, ato que envolveu o domínio de Mosul, no Iraque.

Pelo meio, Hosken opina sobre a (desastrosa) opção norte-americana de dissolver o partido Baath (constituído por maioria sunita, anteriormente liderado por Saddam Hussein até à sua queda em 2003), que levou a que muitos se aliassem à “causa” terrorista, relata a chegada de Abu Bakr al-Baghdadi ao lugar cimeiro do ISIS, depois da morte de al-Zarqawi’s em 2006, e que envolveu uma crescente escalada de terror com a vulgarização de atentados suicidas, massacres, decapitações, raptos e violações de mulheres e crianças, principalmente na província de al-Anbar, uma das maiores do Iraque. Mas talvez um dos principais passos políticos de al-Baghdadi foi a decisão de entrar na Guerra Civil síria em 2011, ato que forneceu ao grupo terrorista um novo ímpeto que acabou com a já referida declaração do califado.

Em “Império do Medo” há ainda tempo e espaço para uma reflexão sobre a reação norte-americana a todo este processo, bem como à ruptura da liderança iraquiana no coração do próprio território, o que possibilitou a homens como Nouri al-Maliki se tornarem donos de uma impensável riqueza, à boleia do lucro proveniente da venda de petróleo, sendo um dos principais mecenas do ISIS na sua abordagem mais global.

Outra das questões mais pertinentes deste livro é a reflexão que o leitor pode fazer de tal manobras de contextualização e questionar o porquê dos desesperados gritos de asilo por parte dos sírios que chegam, desesperados, à Europa com o objetivo de fugir a uma sina de morte e destruição. E enquanto o mundo assiste e ajuda os milhões de refugiados na sequência deste verdadeiro tsunami migratório, outros aproveitam as ondas e espalham marés de terror onde os verdadeiros objetivos são o controlo, o poder e a vingança, a qualquer preço.

Na sua essência, “Império do Medo” é a ferramenta ideal para quem quer entender o contexto político do Médio Oriente (do e no Estado Islâmico) e o seu conteúdo intenso, real e arrepiante, escrito com uma assertividade apenas ao alcance dos grandes jornalistas, faz transparecer a angústia e o medo de um presente envenenado pela violência.

In Rua de Baixo

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