domingo, 1 de maio de 2016

The Lumineers
"Cleopatra"

Ecos na escuridão


Inicialmente apontados como parte de um movimento folk de características declaradamente pop que incluía bandas como os Mumford & Sons, os norte-americanos naturais de Denver, The Lumineers conseguiram, rapidamente, fazer-se notar muito por culpa de uma canção que teimou em invadir as rádios de todo o mundo.

Retirada do debutante álbum homónimo do quinteto liderado por Wesley Schultz e Jeremiah Fraites, “Ho Hey” tornou-se num hino açucarado que andou de boca em boca tornando-se num dos maiores sucessos de verão dos últimos anos.

Uma análise mais atenta a “The Lumineers”, disco editado em 2012, revelava algum desequilíbrio no alinhamento ainda que com alguns momentos muito bem conseguidos. Não sendo um grande álbum, deixava adivinhar boas perspetivas para o que seguiria e quem assistiu ao (bom) concerto que a banda deu na edição de 2014 do festival Nos Alive pode testemunhar isso mesmo.

Mergulhados nessa salutar expectativa que é receber mais notícias da banda, eis que chegam as esperadas boas novas. O disco chama-se “Cleopatra”, reúne 11 canções e o resultado final é uma muito boa surpresa, superando, com distinção, o para muitos fatídico título de muito aguardado segundo álbum.

Com um perfil mais recatado, recheado de narrativas delicadas, tocantes e assombrosos poemas que derivam em excelentes canções, “Cleopatra” mantém um ambiente folk mas ousa percorrer caminhos mais crus (mesmo indie), longe de qualquer gratificação imediata e sublinhando um delicioso caracter “shoegaze”.

A coesão entre as músicas - que nunca ultrapassam mais de três minutos - faz ressaltar um estado mais maturado, lírico e adulto dos The Lumineers, com uma produção que procura fazer as canções crescer sem sobressaltos, respirando à sua medida e sem muitos “adereços”.

Esse caracter intimista apenas encontra exceções em momentos como “Ophelia” ou “Cleopatra”, composições que poderão, eventualmente, ombrear com a agitação da já referida “Ho Hey”.

Todo o disco funciona como uma viagem serena. Desde “Sleep On the Floor”, faixa inaugural do álbum”, até “Patience”, último suspiro de “Cleopatra”, percebe-se a paixão de fazer música sem pressas, a vontade (e sapiência) de transformar simples melodias em humildes momentos de prazer que vão perdurar no tempo, pois falamos de um disco cuja estética merece ser apreciada com vagar refutando consumos imediatos.

Sinta-se o harmonioso e tímido crescendo de “Gun Song”, a declaração sentimental de “Angela”, o atrevido swing de “In the Light”, o maravilhoso lamento de “Gale Song” ou os exercícios dolentes e elétricos de “Long Way From Home” e “My Eyes”, a lembrar, no horizonte, os sons enamorados de Jeef Buckley, e devora-se cada acorde, cada respirar, cada silêncio.

Ao contrário do que muitos esperariam, os The Lumineers, felizmente, optaram por fazer um caminho menos óbvio, deliberado, recusando holofotes e refugiando-se na escuridão, ponderando cada palavra, investido claramente numa vertente mais estética e contida. O resultado é um disco que se revela maior a cada audição, que nos leva ao seu regresso, recusando qualquer laivo de agitação dispensável e encontra aliados de sucesso numa precursão sóbria e no casamento perfeito entre guitarra e piano.

Alinhamento:
1. Sleep on the Floor 2. Ophelia 3. Cleopatra 4. Gun Song 5. Angela 6. In the Light 7. Gale Song
8. Long Way from Home 9. Sick in the Head 10. My Eyes 11. Patience

Classificação: 9/10

Editora: Universal

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