quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

“O Que Vemos Quando Lemos”
de Peter Mendelsund

Imagino, leio, logo existo

 
 
Que atire a primeira pedra quem nunca sonhou, imaginou, personagens, locais, e situações retiradas dos grandes clássicos da literatura. Como seria a feição de Ismael de “Moby Dick”? Algo próximo de Richard Basehart? Teria Anna Karenina idêntica beleza que Keira Knightley?

Estes dois exemplos cinematográficos funcionam como o paradigma dessa transposição do papel para o grande ecrã, como uma transferência do reino da imaginação, ainda que induzida, para algo mais real, humano.

São essas as regras em que se move “O Que Vemos Quando Lemos” (Elsinore, 2015) de Peter Mendelsund, um livro que desafia o simples ato de ler, e o leitor, a entrar dentro de um mundo imaginado, não apenas através daquilo que o nosso cérebro interpreta mas também pelas coordenadas que nos chegam pelo discurso do autor.

E quem melhor que Peter Mendelsund, responsável máximo pela agência criativa Knopf’s Associate, e um dos maiores génios criativos e responsável por algumas das mais icónicas capas dos livros lançados pela editora, para nos colocar dentro desse universo que mescla realidade e fantasia, discurso e imagem?

Ao ver o trabalho de Mendelsund transparece um forte sentido de paixão, do amor pela leitura aliado ao seu lado mais artístico, e isso também está bem patente nas páginas de “O Que Vemos Quando Lemos”, uma espécie de ferramenta que ajuda o leitor a capturar o sentimento de quem escreve através de um exercício que mescla filosofia e o “simples” ato de ler, de interpretar o livro e a palavra escrita, e ajuda a explorar a ideia de entender uma obra de formas diferentes e por via de conceitos díspares.

Isso acontece porque todos nós temos, e seguimos, diferentes métodos de análise e cogito e, nesse sentido, “O Que Vemos Quando Lemos” é uma combinação de letras, palavras, frases, ideias, conceitos, e imagens, através dos quais, Mendelsund “ilustra” a sua perspetiva e passa ao leitor (a nós) um outro manancial e potencial que permite assimilar a mensagem da obra e do autor da mesma.

Como “bónus”, temos direito a inúmeras referências a outros livros que, no limite, nos vão obrigar a relê-los ou a folhear as suas páginas pela primeira vez.

Aquilo que Mendelsund fez foi criar um livro que vive por si e (muito) pelos seus pares e vai deixar extasiado quem é amante do ato de ler e que quer completar a sua lista de obras obrigatórias.

In Rua de Baixo

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