quarta-feira, 25 de novembro de 2015

“A Irmandade do Santo Sudário”
de Julia Navarro


Tinha o sonho de ser bailarina mas acabou por se entregar ao jornalismo. Natural de Madrid, Julia Navarro é uma das mais conhecidas vozes da comunicação em Espanha e, há mais de uma década, autora de romances – podemos dizer best sellers.

E é sobre a primeira das suas obras, “A Irmandade do Santo Sudário” (Bertrand Editora, 2015) – lançado primeiramente em 2004 e recentemente reeditado -, que versa esta reflexão, um livro que, nas palavras da própria autora, resulta de uma intrínseca vontade de “inventar histórias em frente de um monitor.

Com um ambiente que decerto entusiasmará os fãs de Dan Brown ou do “nosso” José Rodrigues dos Santos, o livro abre com o relato de um misterioso incêndio na Catedral de Turim, repositório do conhecido Santo Sudário, que levou à morte um homem com algumas sequelas físicas pouco comuns: sem língua e com as impressões digitais deformadas.

Para tentar esclarecer este invulgar caso é chamado à cena do crime Marco Valoni, detective do “Departamento de Arte” da Polícia Italiana. A investigação leva a crer que se trata de algo mais do que um acidental incêndio, trazendo à memória um acontecimento, ocorrido no mesmo local, anos antes e que tinha no seu epicentro um ladrão… sem língua e desprovido de impressões digitais. Dá-se assim o início a uma extensa busca que vai colocar a vida de Valoni em perigo.

A narrativa tem um início algo pausado mas, à medida que os acontecimentos se sucedem, aumenta o seu ritmo e, preparem-se os leitores, a velocidade pode vir a ser alucinante, sublinhada com traços de clara influência cinematográfica.

Julia Navarro traça um caminho bifurcado em “A Irmandade do Santo Sudário”: se, por um lado, somos envolvidos na própria história do Santo Sudário, por outro sentimos, de chofre, os estilhaços inatos a uma investigação moderna. E, como em muitos dos livros do género, as conspirações abundam ao virar de cada capítulo, neste caso alternando entre acontecimentos do passado e presente.

Valoni é obrigado a lidar com vários grupos de interesses distintos, entre eles uma facção cristã turca com sede na cidade de Urfa, comunidade fundada no rescaldo da morte de Jesus.

Somos assim levados num carrossel emotivo que rodopia através dos séculos e que acompanha o trajecto do Santo Sudário, que terá sido encaminhado e vendido em Constantinopla – seguindo depois para terras de França.

Reclamando por algo que apelidam como seu, os referidos cristãos de Urfa desesperam por recuperar o Sudário. Mas os problemas avolumam-se, pois o grupo não está sozinho neste resgate já que os Templários, escondidos do mundo, apostam tudo para que a santa peça de vestuário não acabe em território turco.

A luta promete não dar tréguas, e quem ganha é quem tem o livro nas mãos e “devora” páginas repletas de acção, thriller, intriga e espirais conspirativas, cujo explosivo clímax revela algumas surpresas. O único senão são alguns acontecimentos mais “laterais”, que podem criar alguma confusão e pouco (ou nada) acrescentam ao rumo dos acontecimentos.

Ainda que a linguagem usada por Julia Navarro neste livro seja de uma natureza mais simples (não confundir com simplista) que a de outros títulos seus, “A Irmandade do Santo Sudário” é um livro para ler ou reler, cativante e que deu, e continua a dar, excelentes sinais do que se seguiu e seguirá na bibliografia da autora.

In deusmelivro

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