sexta-feira, 24 de julho de 2015

Of Monsters and Men - “Beneath the Skin”

O suave travo da bonança


Corria o já longínquo ano de 1988 quando se sentiu, de uma forma definitivamente pronunciada, o primeiro grande eco alternativo da música feita na Islândia. O álbum “Life's Too Good” trazia os The Sugarcubes ao radar europeu (e não só) e era impossível ficar indiferente a tal assombro indie rock, que viria a atingir o seu auge com “Here Today, Tomorrow Next Week”, disco editado em 1989 e que confirmava a genialidade musical de Bjork Guðmundsdóttir e restante banda. Dessa safra, ficariam para a história temas como “Birthday”, “Deus”, “Regina” ou “Tidal Wave”.

Depois, já com Bjork a aventurar-se a solo, foram surgindo, naturalmente, mais focos de interesse vindos da Islândia. Com maior ou menor fulgor, nomes como os Múm, Gus Gus e, mais recentemente, Sigur Rós elevaram a bandeira islandesa e invadiam majors e editoras mais independentes. Curiosamente, ou não, a este movimento emigratório sonoro não se associavam bandas de cariz mais comercial – entenda-se o termo como não necessariamente depreciativo. Até que tudo mudaria em 2011, com a edição de “My Head Is An Animal”, trabalho de estreia dos Of Monsters and Men e que logrou escalar os tops britânicos e norte-americanos.

O sucesso do quinteto liderado por Nanna Bryndís Hilmarsdóttir e Ragnar "Raggi" Þórhallsson desenhava-se através de temas descaradamente pop, como “Disty Paws” ou o hit “Little Talks”, e essa magnitude fez-se sentir aquando da passagem da banda pela edição do Optimus Alive'13, com um palco Heineken completamente a abarrotar.

Três anos depois, a banda regressa com um muito aguardado “Beneath The Skin” e o resultado é um disco muito interessante, mais interior e emotivo, onde se destacam canções como as pérolas “Crystals” ou “I of the Storm”, os dois primeiros singles retirados do álbum, que revelam um relativo distanciamento da harmonia entre as vocalizações de Nanna e Ragnar, evidenciando um também caloroso formato, que privilegia refrões orelhudos sublinhados por uma bateria muito interventiva mas que, ainda assim, não esconde a veia folk da banda.

Por exemplo, “Human”, a segunda faixa de “Beneath the Skin”, eleva a presença da bateria (algo tribal), ainda que sejam deliciosamente audíveis laivos de cordas e, ocasionalmente, um feedback que desperta de alguma letargia. Aqui, as vozes masculinas e femininas misturam-se sem medos, algo que também sucede em momentos mais escuros como a tranquila e sedutora “Hunger”. E porque a luz, por vezes, se esconde por detrás das montanhas do pensamento, momentos como “Organs”, à base de piano, uma guitarra acústica e um quase impercetível violoncelo, conferem uma tranquilidade sublime em ritmo desacelerado.

Independentemente de cadências e estruturas sonoras, o segundo disco dos Of Monsters and Men é uma coleção de excelentes canções. Além das já referidas, destacamos ainda peças como “Black Water” ou “We Think”, momentos de indesmentível beleza que versam sobre palavras saídas de um qualquer conto efabulatório, ou não.

Sem grandes alaridos ou a tendência de dar um salto maior do que a perna, os Of Monsters and Men sabem o que querem fazer e até onde podem ir, e “Beneath the Skin” mostra ser um disco competente, assertivo, bonito e com um par (ou dois) de excelentes canções. Excelente para a época estival, este é um disco de consumo moderado, que se aprende a ouvir e, como um bom vinho, deixa um travo agradável no palato depois de consumido.

Alinhamento:

01. Crystals
02. Human
03. Hunger
04. Wolves Without Teeth
05. Empire
06. Slow Life
07.Organs
08.Black Water
09.Thousand Eyes
10.I of the Storm
11. We Sink

Classificação do Palco: 8/10

In Palco Principal

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