domingo, 12 de julho de 2015

NOS Alive'15, dia 2

Foi você que pediu um dia eclético? 


Fusão, noise, rave versão hardcore, hip-hop, dance, soul, pop e alguns silêncios. Eis aquilo que muito se ouviu no segundo dia de NOS Alive, data que ficou marcada pelo apelo excêntrico dos Blasted Mechanism, pelo punk urgente dos meninos Marmozets, pelo elogio da palavra da senhora Capicua, pelo desvario dançante dos The Ting Tings e Róisín Murphy, pela irreverência synthpop dos Future Islands, passando pela dicotomia caos/silêncio de The Prodigy e James Blake.

Blasted Mechanism | 18h00, Palco NOS

Uma das bandas que faz parte do imaginário coletivo dos portugueses, os Blasted Mechanism são a prova de que vale a pena subir aos palcos e distribuir magia em forma de música, tenho ganhado, merecidamente e há muito, um especial culto.

No ano em que completa duas décadas de existência, o coletivo de Valdiju, Guitshu e companhia continua a ser responsável por um rock de fusão que tem as principais referências na World Music e nos filões alternativos e eletrónicos, não sendo estranha a convivência entre guitarras elétricas de duplos braços, bambulecos, um didgeridoo, tambores e aquilo que a imaginação propuser.

Visualmente (e, por vezes, também sonoramente) herdeiros da excentricidade de uns Sigue Sigue Sputnik, ainda que sem ramificações cyber-punk, os Blasted Mechanism voltaram a ocupar lugar no palco principal no Alive, depois do concerto memorável que deram na edição do Alive Oeiras 2007. E, tal como nesse dia, ontem os Blasted voltaram à carga com mais um espetáculo carregado de energia, que teve como um dos principais atrativos “Egotronic”, o mais recente álbum da banda.

E seria mesmo “Really Happen”, canção retirada do novo disco, a abrir a contenda e a espalhar brilho, excentricidade e um ritmo forte à base de riffs pujantes, batidas certeiras e uma eletrónica bem latente, alicerçada na habitual e competente componente cénica, desta vez com os membros da banda “vestidos” em tons de negro e branco.

Ao longo de perto de uma hora bem passada, os Blasted Mechanism fizeram o já muito público dançar, bater palmas e sentir o seu espólio criativo com clássicos como a galáctica “Blasted Generation”, a descaradamente dançante “Karkov (Nadabrovitchka)”, o interventivo “Puxa Para Cima a Tua Energia”, o também recente “Liberation” e, a fechar, o instrumental “The Atom Bride Theme”, composição que colocou definitivamente o coletivo no radar da música nacional.

Marmozets | 19:20, Palco NOS

Energia, garra e entrega. O concerto de Marmozets incendiou por completo o palco NOS, numa hora em que ainda poucas pessoas se concentravam na plateia e em que o sol começava timidamente a caminhar em direção ao horizonte do atlântico. Amplificadores de guitarra no máximo (nível 11), baixo possante e distorcido, bateria agitada e uma voz feminina que consegue ir do registo dito normal à berraria. A ficha técnica dos Marmozets sublinha que estes são afiliados à editora Roadrunner, casa-mãe de bandas como Slipknot, Caliban, Hatebreed e Lamb of God. Isto explica muito daquilo que se passou em palco.

São miúdos, é verdade – a média de idades deverá rondar os 25 anos (se tanto), sendo que a vocalista, Becca Macintyre, tem 19 anos. Mas isso não lhes impede de se comportarem em palco com a mesma postura dos trintões e quarentões que exercitam o mesmo género. Becca, irmã de Josh (bateria) e Sam (guitarrista), vai apresentando as músicas ao público à medida que as interpreta, gingando pelo palco ao bom estilo de Jagger e aumentando a concentração de testosterona na plateia. Os seus irmãos, bem como Jack e Will Bottomley (guitarra e baixo, respetivamente), vão assegurando a parte instrumental, e, sempre que podem, vão puxando pelo público - numa das pausas, um dos guitarristas consegue bater o recorde de “fucks” numa frase, rematando com um “you’re fucking amazing” e levando a plateia ao delírio.

Por este palco já passaram bandas como Paramore, verdadeiras desilusões no que toca à performance ao vivo. Estes miúdos, com apenas um álbum editado, de onde retiraram temas como “Love You Good”, “Captivate You”, “Born Young And Free” e “Hit The Wave”, conseguiram chegar e vencer. Ainda para mais depois de se terem atirado a uma versão de “Iron Man”, dos Black Sabbath, para regozijo dos publico mais velho. Há que ser inteligente...

Capicua | 20.50h, Palco NOS Clubbing

O circular constante num espaço como é o festival NOS Alive proporciona assistir a fenómenos curiosos. Muitos são os que aproveitam as tendas dos palcos temporariamente vazios para descansar, comer ou simplesmente conversar. À medida que os artistas chegam ao palco, alguns vão à procura de melhor destino.

Mas também há casos em as pessoas acampam para esperar pelo seu artista preferido, para ter o melhor lugar, para ver bem de perto tudo o que se passa e é transmitido no palco. E foi isso que aconteceu com o (muito aguardado) concerto de Ana Matos Fernandes, conhecida no meio musical como Capicua.

Com a tenda do NOS Clubbing a abarrotar pelas costuras, Capicua, M7, Virtus na programação, DJ D-One no scratch e Dário na arte desenhada em forma de grafitti informático, ofereceram um dos momentos mais memoráveis deste segundo dia de NOS Alive, com a habitual mestria de um Hip-Hop que tem como especial encanto a descarada métrica da língua portuguesa e a genialidade das letras de Capicua, mulher que não vira a cara à luta e que é, hoje, um dos nomes maiores da cultura musical nacional.

Ainda que lesionada, Capicua não deixou de saltar, timidamente, pedir braços no ar e dar, de mão beijada, música com sentido, palavras cujo fado versa sobre causas sociais, medos diversos, injustiças, ódios, política, amor, desejos e uma liberdade que, nas suas palavras, "é feita e conquistada todos os dias".

Depois de uma entrada à capela em que Capicua, qual mulher do Norte, reforça que todos podemos ser "o fruto da cultura", “Mão Pesada” foi o primeiro capítulo musicado, seguindo-se de “Jugular”, um dos temas incluídos no coletivo de remisturas intitulado “Medusa”, o swingante “Sereia Louca” e “Maria Capaz”, tema a que nem um “prego” de Capicua retirou o brilhantismo.

Com toda a gente de braços de ar, Capicua não deu tréguas e desfilava, com distinção e um delicioso fôlego “tripeiro”, temas como “Tabu”, “Casa de Campo” e “Medusa”, momento que contou com a presença de Valete.

O concerto terminaria com “Barulho”, não sem antes o muito público presente ter direito a fazer uma viagem até “Vayorken”, tema que torna impossível não dançar, vibrar, sentir Capicua, ou, por que não dizer, "a Ana da bronca, sempre do contra".

Um passeio pela cobiçada zona VIP, ao som de Sheppard

A avaliar pela quantidade de pessoas que se aglomeram na entrada da zona VIP do festival, esta é uma das zonas mais concorridas do recinto. Há quem tente intrujar os seguranças à porta. “Mas a minha amiga entrou”, “mas o outro disse-me que podia”, “mas eu sou filho ou sobrinho de fulano tal” - todos os argumentos são válidos para aceder ao terraço do espaço, que fica mesmo de frente para o palco principal, mas a uma distância generosa. Mas, afinal de contas, o que haverá de tão aliciante nesta zona? Vamos averiguar.

No piso térreo podemos dar de caras com um ambiente digno de uma festa da discoteca Lux. Há miúdas giras, de sorriso rasgado, a garantirem que vale a pena permanecer algum tempo dentro do espaço e não ir já embora. Há um DJ a tocar num prestigiado Funktion-One e algumas pessoas a conversar aqui e ali. Há quem se cruze connosco de nariz empinado, transparecendo um enorme sentimento de superioridade. Afinal de contas, VIP é a sigla para “Very Important People”. Mas também há quem olhe para nós e pense que somos importantes, filhos de algum músico, primos de algum elemento da organização, ou, até, quem sabe, um dos artistas que vai pisar um dos palcos secundários. Este é o quem é quem versão festival, um poker face ao nível da mais profissional liga de poker.

No piso superior, o ambiente é similar. Não há DJ nem nenhuma atividade aliciante, salvo uma projeção vídeo alusiva à cidade de Lisboa (Ponte 25 de abril, Rio Tejo, etc.), mas há um bar que serve um gin tónico à maneira. Neste patamar, quem toma as rédeas da música ambiente são os Sheppard, coletivo australiano responsável pelo êxito radiofónico “Geronimo”. Está-se tudo nas tintas para o que a banda faz ou deixa de fazer em palco. Desde que garantam uma música de fundo para que as pessoas possam falar à vontade, sem recear que o vizinho do lado possa perceber que, na verdade, estão a falar mal dele. Sim, os VIPs são como nós, comuns mortais - também cortam na casaca uns dos outros.

Ouvem-se as primeiras notas de “Geronimo”. Algumas pessoas deixam a conversa ao meio e correm em direção ao parapeito desta gigantesca varanda e.... sacam do telemóvel para filmar o momento. Cantam o refrão um par de vezes e regressam ao grupinho onde estavam com a sensação de dever cumprido. A música chega ao fim, ouvem-se uns aplausos eufóricos como se este estivesse a ser o melhor concerto do mundo, e a coisa continua, com a apatia normal de quem está a ouvir música de fundo. O gin está bom, o sorriso das raparigas giras é cativante, mas vamos pregar para outra freguesia.

The Ting Tings | 22.10h, Palco Heineken

Inquilinos privilegiados de um luxuoso edifício musical alicerçado numa mistura de rock indie, new wave e elevadas doses de um descarado punk dançável e sintético, a dupla britânica The Ting Tings, composta pelos multi-instrumentalistas e cantores Katie White e Jules de Martino deu, sem dúvida, um enorme e vibrante espetáculo, tornando, durante uma hora, o palco Heineken numa gigante pista de dança.

Depois da introdução excitante que foi “Jim Morrison Speaks” e do gingão “This is What you Want”, com toda a tenda a saltar ao movimento da deambulação frenética de White, a menina dos The Ting Tings não perdeu a oportunidade de exercitar o seu português através de uma cábula, ao qual não faltou um ou outro requintado palavrão, mas que tinha como mensagem primordial um elogio à celebração da música. E foi, religiosamente, dizemos nós, cumprida a missão.

Mais orgânicos e “pesados” ao vivo, Katie e Jules, na companhia de um DJ, atacaram, numa primeira fase, temas como “Great DJ” e “Hang it Up”, retirados respetivamente de “We Started Nothing” e “Sounds from Nowheresville”, os dois primeiros discos da banda, e faziam crescer as expectativas, pois é difícil entender quais os limites que os The Ting Tings conseguem estabelecer em palco.

Enquanto Katie White troca de guitarra, Jules de Martino, divide a atenção entre bateria e também guitarra, e “Hang it Up”, com muito scratch à mistura, é o trampolim perfeito para a chegada de uma das estreias da noite. Falamos de “Green Poison”, tema incluído no recente “Super Critical”, que foi apresentado com especial pedido de coloração em palco e cujo estonteante groove atinge os nossos ouvidos, e corrente sanguínea, de forma certeira. A celebração seguiu-se com “Shut Up & Let Me Go”, um irresistível apelo à dança onde os esparsos acordes da guitarra de Katie White são como um sentido obrigatório numa estrada sem limites de velocidade.

Mas nem só de guitarras e bateria se faz a dupla Katie & Jules, pois, em vários momentos do espetáculo, foram seis as mãos a manobrar os efeitos sonoros, samples e afins, que trouxeram ao Palco Heineken, por exemplo, ecos dos desconcertantes Talking Heads, através de excertos de “Once in a Lifetime”.

Já de regresso ao set habitual, seguiram-se “Fruit Machine”, em ritmo descaradamente clubbing, o punky “This is Not My Name” e, envolto num saudável caos sonoro, “Hands” seria a apoteose de um magnífico concerto que levou mesmo, nos instantes finais, Jules de Martino a gravar o momento no telemóvel.

Mumford & Sons | 22:20, Palco NOS

Há em Mumford & Sons dois tipos de Mumford & Sons: o acústico e o elétrico. O primeiro de todos – menos interessante, no nosso entender – tem como epicentro o banjo e a viola, indo buscar inspiração à folk pastoral, responsável pelas sonoridades presentes em “Sigh No More” e “Babel”, os dois primeiros álbuns do coletivo. O segundo – mais atrativo para os nossos ouvidos – liga-se à corrente elétrica e vai buscar nos amplificadores a energia necessária (com conta, peso e medida) para explodir ao vivo. Se funcionaram os dois em concerto? É óbvio que não, até porque é a própria banda a primeira a afirmar que já não se indentifica assim tanto com o banjo e os campos verdejantes da folk, sendo este último álbum, “Wilder Mind”, um excelente exemplo disso.

É de admirar a coragem que Marcus Mumford teve para redesenhar a sua sonoridade, arriscando perder alguns fãs e reconstruir o seu batalhão de seguidores. Porém, tal afastamento parece não ter acontecido. As pessoas que cantaram e aplaudiram “I Will Wait”, single do álbum “Babel”, despachado nos primeiros momentos do concerto, foram as mesmas que acenderam isqueiros em “Believe”, belíssimo single do mais recente disco, que conta com um magnetizante crescendo, desembocando numa explosão controlada de instrumentos. Ainda assim, é de salientar que foi maior a entrega do público em temas como “Tompkins Square Park”, “Snake Eyes” e “Ditmas” do que em canções como “Below My Feet”, “Thistle & Weeds” e “The Cave”. E falamos do público em geral, não só dos fãs. É tudo uma questão de décibeis debitados.

Future Islands | 23:30, Palco Heineken

Provavelmente, um dos melhores concertos desta edição do NOS Alive (não façamos juízos precipitados, para não corrermos o risco de sermos apedrejados em praça pública pela falta de coerência das nossas afirmações). A banda de Samuel Herring voltou a repetir a proeza alcançada no Musicbox, desta vez num espaço maior, com mais público e mais condições a nível sonoro, levando o público ao êxtase com um concerto altamente competente, combinando todas as energias e mais algumas que é possível encontrar no cerne do seu vocalista e frontman: elétrica, atómica, sub-atómica, nuclear, térmica. Todas e mais algumas, capazes de nos deixar a refletir se é humanamente possível atingir tal patamar de entrega.

Samuel Herring devorou todos os manuais sobre como ser um bom frontman. Nem precisava cantar. A sua expressão corporal é tão eficaz que consegue substituir de forma fidedigna o uso da palavra. Pura linguagem gestual. Ele abana-se, contorce-se ao bom estilo de Ian Curtis, dança o kalinka, movimenta-se que nem um verdadeiro Cassius Clay (flutua como uma borboleta e pica como uma abelha), esbofeteia-se, dá murros no ar, no peito, esquiva-se de balas perdidas, arremessa objetos invisíveis, ergue taças de líquido imaginário, brinda com o público e bebe de golada, e, ao mesmo tempo, por mais incrível que pareça, canta. E grita. E grunhe. Cada palavra, perdão, cada letra daquilo que diz é sentida, desde a unha dos pés à ponta do cabelo suado. Aqui está um frontman como deve ser. Louco e visceral.

“I don’t wanna talk, lets make some music”, diz-nos no início do concerto. “A Dream of You and Me” é a primeira do alinhamento, uma verdadeira aula de aeróbica para quem quer perder uns gramas para a atual época estival, seguindo-se outras músicas do repertório da banda, como “Walking Through That Door”, “Before the Bridge”, “Doves”, “A Song for Our Grandfathers”, “Light House” e, claro, para satisfação de muitos, “Seasons (Waiting on You)”, um regresso àquele mítico episódio do programa Late Night Show with David Letterman que os catapultou para a ribalta. O público canta, dança, aplaude, tenta acompanhar alguns dos movimentos protagonizados em palco por Herring, e sai do concerto visivelmente satisfeito, com um sorriso que só se equipara à própria qualidade musical dos Future Islands. Sem espinhas.

The Prodigy | 00:30, Palco NOS

O que se quer de um concerto dos The Prodigy? Certamente não serão os solos de guitarra e muito menos momentos melodiosos protagonizados por algum piano ou violino. Também não são as qualidades vocais dos seus vocalistas (neste caso, mestres de cerimónia), muito menos a inteligibilidade das suas letras. O que se pede num concerto dos The Prodigy é força e potência. Quer-se que as músicas nos cheguem aos ouvidos e corpo como paredes intransponíveis de décibeis, capazes de nos atropelar os sentidos e contaminar o corpo com uma espécie de vitamina para dançar.

Este teria sido um concerto perfeito se o som para o público estivesse bem mais alto. O desempenho em palco do coletivo foi tremendo, com Keith Flint e Maxim incansáveis no incentivo e nas juras de amor ao nosso país, mas a amplificação mostrou-se insuficiente na altura de injetar no público o soro produzido em palco. E, desta vez, a culpa é completamente alheia à banda. Culpe-se o técnico de som. Fogueira com ele.
A abertura do concerto é feita com “Breathe”, um trunfo forte para agarrar o público no primeiro momento.

Os comentários sobre o volume são imediatos e quase unânimes: por esta altura qualquer aparelhagem caseira ou mesmo o rádio a pilhas do nosso avô é capaz de tocar mais alto do que os altifalantes pendurados à esquerda e à direita de cena. A guitarra ouve-se mal, os sintetizadores também, o que nos chega é uma mistura mal amanhada de frequência graves. A história repete-se em “Nasty”, “Omen” e “Firestarter”. Primeiras músicas estragadas. Ainda assim, não há quem se prive de fazer a festa e dançar. Que isto não seja impedimento para a diversão. A purga é fundamental.

Só em “Voodoo People” é que as coisas melhoram – entretanto, pelo caminho, ficaram canções como “Roadblox”. Por esta altura, os instrumentos estão mais audíveis e o técnico parece ter subido ligeiramente os faders da mesa de mistura. “Invaders Must Die” já nos chega em condições, apesar da versão quase irreconhecível servida pela banda, e “Smack My Bitch Up” já nos entra pelos ouvidos qual tsunami devastador, acompanhada por um jogo de luzes quase psicadélico que, ao longo do concerto, foi pintando palco e plateia de forma irrepreensível. “Take Me To The Hospital” é o grito final da banda britânica, um tema carregado de energia, perfeito para rematar em grande a atuação.

James Blake | 01.00h, Palco Heineken

Ainda com muitas convivas a trocarem palavras sobre os concertos dos The Tings Tings e Future Islands naquele mesmo espaço, era impossível ficar indiferente às descargas incendiárias que chegavam do Palco NOS, por via da energia dos The Prodigy.

Alguns estavam mesmo apreensivos sobre como poderia James Blake sobrepor o seu “silêncio” ao referido ambiente, mas, aos primeiros acordes de “CMYK”, o perfil dolente, quebrante e lânguido do universo do músico britânico abafou tudo à sua volta. Estávamos, assim, prontos para uma viagem que iria percorrer "um pouco de tudo", por isso, aconselhava o músico, a tarefa do público era, foi, "divertir-se".

“I Never Learnt to Share”, numa atmosfera quase cerimonial, como de resto é toda a música de Blake, libertava impulsos térmicos, quentes, como os espasmos de uma particular pulsação. Essa matemática sonora encontrou na perfeita equação que é “Limit to Your Love”, um original de Feist, a prova do inquestionável desafio ao silêncio que são as criações presentes em discos como “Overgrown”. Nem mesmo a insatisfação de James Blake com a sua performance – que o levou a repetir o início desta canção – arrefeceu o ambiente. O público respondia afrmativamente e as palmas, tímidas de início, acompanhavam o coro que ganhou ainda mais corpo com o desalinho mais “agressivo” de sublinhado trip-hop.

O desfile seguiu-se entre as marés mais calmas de “I Am Sold”, a mais eletrónica “Life Round Here” e o sussurro que é “Lindisfarne II”. Pelo meio, em alguns pontos da assistência, muitos não conseguiam disfarçar a excitação do dia, tentando elevar a voz acima da música para se fazerem ouvidos, criando um indesejado ruído, mas que se combatia ao fechar os olhos e deixar os sentidos absorver a magia que provinha do palco.
Os agradecimentos de James Blake a tão devota assistência eram transformados em forma de canção e os mais expressivos “Digital Lion” e, principalmente, “Voyeur”, escondiam a fragilidade, timidez e solidão da alma do artista britânico, que encontram verdadeiro sinónimo em composições como a muito aplaudida “Retrograde” e o tomo final que foi “The Wilhelm Scream”.

Ainda que uns furos abaixo da magnífica atuação da edição do Optimus Alive de 2011, James Blake deu um bom concerto, com casa cheia, e que pede um reprise numa sala mais intimista e perto de nós.

Com: Manuel Rodrigues

Fotografias: Marta Ribeiro e Rita Bernardo

In Palco Principal

Sem comentários:

Enviar um comentário