quinta-feira, 4 de junho de 2015

Best Coast - “California Nights”

Boas vibrações com sabor a verão


Muitas vezes, a construção - aqui entendida como idealização - da música deve muito ao local onde é feita, à sua atmosfera. Aconteceu isso entre, por exemplo, os The Beatles e Liverpool, os Joy Division e Manchester, os Nirvana e Seattle, os The Beach Boys e a Califórnia.

Nesse sentido, essa mesma Califórnia está para os Best Coast como o céu para as estrelas, neste caso como o sol para as notas musicais. Porque a Califórnia é calor, é praia, é diversão como forma de catarse e é isso que os Best Coast fazem: uma música para encher o ego sob o pretexto das mais vulgares idiossincrasias quotidianas misturadas com laivos de despretensioso mas eficaz lirismo.

Essa filosofia sente-se desde 2010, data em que o duo formado composto por Bethany Cosentino e Bobb Bruno lançou “Crazy For You”, um álbum cheio de energia surf, boa onda, canções curtinhas inspiradas em temas como o amor, a perda e o ciúme, que se justapõem a partir de um certo negrume mas cujo resultado são composições easy-listening, melódicas, brilhantes e descaradamente pop. No fundo, a fórmula é simples (não confundir com simplista) e os cerca de três minutos que duram, em média, as canções dos Best Coast soam com um doce e prazenteiro rebuçado, metáfora que assenta na perfeição a “California Nights”.

Logo a abrir, “Felling Okay” é um claro (e assertivo) piscar de olhos aos solarengos anos 1980, onde a guitarra pop provoca uma paixão imediata, enquanto baixo e bateria são sinónimo da satisfação que significa um copo de água fria depois de um dia de calor. Sem demoras, “Fine Without You” avança na direção de um turbilhão emotivo suportado pela voz de Cosentino, que emerge sobre um riff acutilante. São as duas primeiras canções de “California Nights” e são dois bons exemplos do que nos reserva esta terceira toma da discografia dos Best Coast.

Tal como nos anteriores trabalhos da banda, a produção a si associada sabe o que fazer para não tirar sentido à voz e música. Canções como “In My Eyes” e “Run Throught My Head” são, por exemplo, formas inteligentes de lidar com as camadas estruturais entre a reverberação das guitarras, a omnipresença da dupla baixo-bateria e a melosa interpretação de Consentino. Essa fórmula resulta também nos momentos mais calmos (ou “negros”) do disco, como “Wasted Time” ou “California Nights”.

E, para provar que os Best Coast não se deitam à sombra da palmeira, existe uma maior noção de distorção em “California Nights” do que nos dois álbuns anteriores, neste caso utilizada como uma ferramenta que infeta toda a estrutura pop que serve de alicerce a um disco que é, felizmente, mais que uma simples estrutura baseada na filosofia verso-refrão-verso.

Fiel aos seus princípios, “California Nights” é um disco coeso, a espaços escuro, e prova que Cosentino e Bruno sabem o que querem fazer com a sua música. O matrimónio entre uma raiz pop e um desafogado sentido indie continua de boa saúde, longe de uma qualquer quebra emocional, com o terceiro disco dos Best Coast a ser uma espécie de lua-de-mel auditiva que renova os laços de uma segura paixão.

Alinhamento:
1. Feeling Ok
2. Fine Without You
3. Heaven Sent
4. In My Eyes
5. So Unaware
6. When Will I Change
7. Jealousy
8. California Nights
9. Fading Fast
10. Run Through My Head
11. Sleep Won't Ever Come
12. Wasted Time

Classificação do Palco: 8/10

In Palco Principal

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