segunda-feira, 18 de maio de 2015

“O Bicho-da-Seda”
de Robert Galbraith

«Lightning» Strike 




Após resolver o fantástico enigma que foi a morte de Lula Laundry em “Quando o Cuco Chama”, Cormoran Strike está de volta, mais uma vez na companhia da sua secretária Robin Ellacott.

Na ressaca do referido caso, Strike é agora um detetive famoso, um nome muito procurado no campo da investigação. Os clientes brotam como cogumelos embora a maioria procure Cormoran para questões ligadas a infidelidades e outros assuntos menos interessantes para o ex-militar da britânica SIE.

Mas tudo muda quando o escritor Owen Quine desaparece e Leonora, a sua mulher, contrata Strike. Ainda que de princípio se pense que Quine tenha desaparecido por uns dias, como era seu hábito, e Leonora peça a Cormoran para seguir o seu paradeiro e o faça regressar a casa, com o decorrer da investigação torna-se evidente que a ausência do escritor esconde uma situação mais complicada.

O facto de Quine ter sido autor de um romance cujos personagens ridicularizavam, perversamente, a maioria do seu círculo de conhecidos, adensa essa ideia. Ao ser publicado, o livro destruiria essas vidas e para que isso fosse evitado convinha à generalidade dos visados o silêncio do escritor.

Quando Strike dá de caras com o cadáver de Quine, assassinado com uma incrível brutalidade, e uma meticulosidade digna de um muito pensado ritual de sacrifício, inicia-se uma corrida contra o tempo para entender o que motivaria alguém a cometer tão bárbara e cruel ação. Quem será, de facto, o assassino? O que o move? Estas são perguntas que surgem na cabeça de Strike que se depara com a mais estranha situação que a vida profissional se proporcionou.

E, sem grande surpresa, “O Bicho-da-Seda” (Editorial Presença, 2015), é um policial que se devora com uma saudável animosidade literária pois o enredo pensado por Rowling apresenta uma estrutura irresistível. E, à semelhança do que acontece com Robert Langdon no mundo de Dan Brown, Cormoran Strike é “o” detetive de Robert Gailbright, uma já referência para Rowling que tem planeado sete títulos (sinónimo de sete casos diferentes) para o britânico com nome de gigante.

No que toca à narrativa propriamente dita, o caso (o assassinato) revela níveis de brutalidade nunca antes vistos no universo da criadora de Harry Potter que, para apimentar a trama, evoca ao longo das quase 500 páginas do livro uma série de suspeitos, cada qual com um motivo particular para ter morto Quine.

Toda a ação tem Londres como cenário, algo que Rowling faz com um noção de pormenor e conhecimento assinaláveis e que torna toda a história mais verdadeira. Também com grande apropriação, são descritas situações e modus operandi do mundo editorial, que em “O Bicho-da-Seda” é um dos centros da problemática narrativa e que caricatura autores com um ego maior que o mundo, escritores auto publicados que reclamam uma categoria que excede a compreensão dos editores, responsáveis editoriais invisíveis e um mundo mesquinho de boatos e invejas que leva a crer que se queria fazer uma profunda crítica ao mercado editorial.

Rowling tem todo o mérito em juntar vários estilos narrativos no típico policial académico (principalmente de origem britânica): entrevistam-se testemunhas, juntam-se provas, criam-se teorias, surgem pistas desconexas ou falsas e um clímax onde tudo é revelado. Muito interessante é também o facto de cada capítulo ter um epigrafo inspirado em várias outras obras de referência de nomes como Thomas Dekker, William Congreve, Francis Beaumont, Philip Massinger, John Webster ou Ben Jonson que contextualizam a narrativa.

A par de tudo isto está uma irrepreensível construção dos personagens que denotam peculiares pormenores de dimensões emocionais, profissionais, sociais e até políticas. Strike e Robin são, particularmente, exemplos dessa riqueza, especialmente no caso do detetive que se assume como um personagem que se deixa afetar pelos problemas pessoais, principalmente na pessoa de Charlotte, sua ex-noiva. Também Robin, uma criação excelente diga-se, revela mais pormenores da sua relação com Matthew e tem um maior protagonismo na resolução e captura do criminoso(a). Também relevante e notório é a inspiração nas tradicionais histórias de vingança jacobinas e a presença de alguns fetiches sexuais e violência a eles associada.

In Rua de Baixo

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