segunda-feira, 30 de março de 2015

“A Guerra da Guiné”
de António Trabulo


Os números diferem consoante a fonte, mas estima-se que perderam a vida na Guerra Colonial Portuguesa mais de oito mil pessoas. Jovens que partiram para o desconhecido, para um conflito que não era deles mas que, pela pátria, sacrificaram-se, deram o melhor, a milhares de quilómetros de distância, no Portugal Ultramarino.

Passadas cerca de cinco décadas, muitas das feridas daqueles que combateram no Ultramar continuam por sarar, abertas, no corpo e alma dos ex-combatentes. Além disso, ficaram histórias por contar, peças que continuam por encaixar num puzzle que deixará marcas na cronologia recente – e futura – do país.

É essa “contextualização” que António Trabulo faz em “A Guerra da Guiné” (Editorial Cristo Negro, 2014), um livro em forma de “diário de bordo” onde o ex-neurocirurgião lembra as operações militares no campo, ao mesmo tempo que destaca o perfil de alguns dos personagens principais da guerra, traçando um panorama social da África antes da independência portuguesa.

De forma imparcial e fruto de uma cuidada investigação, Trabulo traz à memória os 100 mil soldados metropolitanos que passaram comissões bianuais por terras da Guiné, presta a devida homenagem aos mortos em combate e faz uma tangente a António de Spínola – e, acima de tudo, à vida e obra do pensador e revolucionário africano Amílcar Cabral.

Ao longo das mais de duas centenas de páginas de “A Guerra da Guiné” é-nos relatado o assassinato de Amílcar Cabral, apresentadas Guiné-Bissau e Cabo Verde, o fim da utopia imperialista, várias operações bélicas, notas de passado, esperanças de futuro e curtas notas sobre o nascimento e a preparação do 25 de abril de 1974.

Tal como diz metaforicamente António Trabulo, o conflito do Ultramar assemelha-se a uma «árvore arrancada violentamente do solo antes de os frutos amadurecerem». Até Portugal reconhecer a independência da República da Guiné-Bissau, a 10 de setembro de 1974, ficou mais de uma década de combates.

Ainda que se tratasse de uma terra pobre e pequena, comparativamente com Angola ou Moçambique, a Guiné era um dos alicerces para o completo domínio das colónias de acordo com o pensamento político português da época. Para Lisboa, os meios (exagerados) justificavam os fins e a questão colonial começou a ser delineada por um conjunto de pormenores que incluíam a invasão militar ao território guineense.

In deusmelivro

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