terça-feira, 9 de dezembro de 2014

“A Primeira Guerra Mundial”
de John Keegan

Uma tragédia com epicentro na Europa


 Um das questões mais importantes quando falamos de não-ficção é a pertinência dos factos, esses elementos aglutinadores que tornam a realidade como uma balança que oscila mediante os seus protagonistas, os seus acontecimentos e, acima de tudo, a ambiência conjuntural.

Quando o cenário retratado nos remete para um conflito bélico à escala planetária (ou quase), são muitas as questões que surgem. Qual a génese de uma guerra? Para que serve a mesma? Existe alguma legitimidade para tal?

Cético, Sir John Keegan, professor da Academia Militar de Sandhurst e historiador britânico especialista em conflitos bélicos, entretanto falecido em 2012, não tem dúvidas em caracterizar a Grande Guerra como “um conflito trágico e inútil”. Tal pode ser lido nas primeiras linhas de “A Primeira Guerra Mundial” (Porto Editora, 2014), um extraordinário livro assente em uma linguagem acessível e contagiante sobre um recontro que teve a sua origem no assassinato de Francisco Fernando, arquiduque da Áustria, em 28 de junho de 1914.

Assim, há precisamente cem anos, o mundo dito moderno estava a braços com a Primeira Guerra Mundial e foi este terrível evento que vitimou cerca de 10 milhões de pessoas que definiu, à força, a história de um século que viria a ser, mais tarde, assombrado pelo nascimento do nazismo, a afirmação da Rússia Soviética, os ecos da Guerra Fria, a desintegração da Europa Central assim como os bárbaros conflitos no Médio Oriente e o policiamento do universo por parte dos Estados Unidos da América.

Neste livro, dedicado a todos os que não tiveram a felicidade de regressar do palco do conflito, Keegan traça uma tangente sobre os vários vértices da guerra vivida entre 1914 e 1918, debruçando-se sobre a tragédia que assolou a Europa nesse período, os planos de guerra, a chamada crise de 1914, a batalha das fronteiras e do Marne, a alternância vitoriosa no Leste bem como a leitura da dureza das próprias batalhas assim como os seus efeitos nefastos sobre os militares ou o papel dos norte-americanos na ponta final daqueles que foram quatro anos negros.

A par de uma rica bibliografia, algumas das mais emblemáticas fotografias do conflito assim como mapas que explicam os avanços e recuos das forças militares, “Primeira Guerra Mundial” apresenta ainda uma pertinente reflexão que analisa a presença dos portugueses no conflito e as suas consequências em termos do futuro deste país à beira-mar plantado.

In Rua de Baixo

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