quarta-feira, 5 de novembro de 2014

“CounterSpy”
PS3, PS4, PSVita

Contraespionagem ao ritmo do Jazz



A Guerra Fria foi um dos períodos mais tensos da história recente. De costas voltadas e assumidamente as maiores potências bélicas do Mundo, Estados Unidos da América e a ex-União Soviética atemorizaram o globo entre o pós-Segunda Guerra Mundial e a aurora dos anos 1990.

É, em grande parte, esse o cenário de “CounterSpy”, um dos mais recentes jogos da norte-americana Dynamighty que combina um perfil assumida e encantadoramente indie com uma funcionalidade cross-save (e também cross-buy…) entre as várias plataformas Sony. Para além disso, é possível jogar “CounterSpy” em ambientes Android e iOs.

A jogabilidade sidescroller remete-nos para um ambiente 2.5 D que leva o nosso (anti)herói a percorrer uma miríade de salas onde o perigo, e o humor de características negras, surge ao virar de cada esquina e recanto.

Mas vamos à narrativa de CounterSpy. Estamos na década de 1970 e as conspirações são frequentes. Espiões lutam em favor de duas das mais poderosas superpotências jamais conhecidas. Os Estados Imperialistas e a República Socialista esgrimam argumentos atómicos e os mísseis estão prontos a dizimar o inimigo e a ser o dono da autoria do primeiro ataque nuclear à Lua.

A missão de C.O.U.N.T.E.R, ou seja, a nossa demanda, é evitar que tal aconteça e para tal temos de travar uma batalha bipolar. O plano é a invasão dos quartéis-generais dos dois países e conseguir resgatar as ideias científicas (fórmulas e planos secretos) de ambos assim como as suas principais armas. Mas tão importante quanto o arsenal utilizado é a descrição da ação em si assim como as capacidades entretanto adquiridas nas salas de jogo que vão desde o aumento da resistência em combate, da habilidade de persuadir o inimigo até à mestria em termos de disfarce e precisão de disparo ou perícia informática. E claro, quando mais imprudente for o assalto, maior será o nível DEFCON (de 1 a 5, sendo 1 o mais elevado) acionado e o inimigo não perdoa.

Com uma excelente banda-sonora jazzy, somos convidados a percorrer salas e espaços onde a natureza stop-and-go de “CounterSpy” alterna entre a extrema facilidade e uma aguda dificuldade. Um dos segredos é estar muito atento, memorizar os movimentos adequados para cada ação e seguir ao risco as indicações caras a todos os jogos stealth. Os combates são fluidos e a espionagem está ao rubro.




A tática a aplicar resulta de uma mescla entre precisão de tiro e a capacidade de abater um inimigo (ou destruir câmaras de vigilância) que teima em enervar-nos. Mas atenção, é de evitar tirar a vida a oficiais (identificados com uma farda diferente) pois a rendição dos mesmos é sinónimo de, por exemplo, a redução do nível DEFCON.

A liberdade em termos de jogabilidade não sendo “ilimitada” é simpática e as missões variam entre cenários inovadores e algumas doses repetitivas, uma das pechas desde jogo ainda que, paradoxalmente, os níveis nunca são iguais, sendo gerados de forma aleatória. Ainda assim quase tudo é perdoável perante a excelência gráfica de entoação indie.

A simplicidade é também uma das mais-valias de “CounterSpy”. Ao contrário de outros jogos, que nos obrigam a complicados e complexos movimentos, aqui as missões fluem entre ritmo side-scrolling e apenas temos de saltar plataformas e balear inimigos. Ainda assim, não confundamos simplicidade com facilidade pois qualquer descuido pode ser a desgraça de C.O.U.N.T.E.R..

Por vezes, “CounterSpy” assume um perfil perto da filosofia de um shooter na terceira pessoa e os tiros à distância (e a sua mecânica) dão uma interessante profundidade ao jogo. E quando as balas não fazem o serviço pretendido, a solução é estrangular ou esmurrar o inimigo. Afinal de contas, guerra é guerra…
Ao longo da aventura é possível desbloquear novas armas, mediante um justo “pagamento” mas é necessário estar atento a gastos excessivos que, ainda assim, podem ser reajustados mediante uma astuta exploração dos espaços suplementares. No fundo, pede-se ao nosso espião inteligência e uma boa gestão do gameplay face ao ambiente cinzento da Cortina de Ferro.

Mesmo que na sua globalidade “CounterSpy” seja um jogo muito interessante denota momentos de desequilíbrio. É, de facto, entusiasmante fazer “parte” do gameplay, principalmente devido há já referida música ambiente e ao evoluir da narrativa, por vezes hilariante – foi clara a aposta no humor ao longo de todo o jogo e o seu sucesso expressa-se em pormenores como, por exemplo, nos cartazes espalhados pelas salas ou na legenda que nos situa a cada inicio de nível – mas a mesma revela-se curtíssima e quando pensamos que a dificuldade pode aumentar de qualquer forma inesperada, resta-nos, simplesmente, “repetir” toda a missão. Apesar do perfil aleatório da génese dos níveis, o fator novidade cifra-se unicamente nessa questão.

Ao tentar não seguir fórmulas já batidas, ainda que bem-sucedidas, “CounterSpy” perde um pouco da sua acutilância e esse estatuto de orgulhosamente diferente é uma das pechas desta aventura. Por outro lado, recomendamos vivamente a aventura interativa de jogar contra outros camaradas através da funcionalidade PSN que é altamente competitiva e exigente.

Em género de montanha-russa, “CounterSpy” mistura características muito positivas (não nos casamos de elogiar a mestria do seu design) com elementos a roçar a normalidade (ainda que não banalidade), algo que deixa muito a desejar pois este jogo tinha tudo para ser um sucesso maior mas tal não acontece por, dizemos nós, alguma falta de ambição por parte da Dynamight que pode, e deve, fazer muito melhor no futuro.

In Rua de Baixo

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