segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Cinema Ideal
Um ponto de encontro no coração do bairro



É a mais antiga sala de cinema de Lisboa e já teve vários nomes. De Salão Ideal, passou a Cine Camões e nos últimos anos respondia pela designação de Paraíso. Hoje abraça a graça de Cinema Ideal e devido à união de esforços entre a Midas Filmes e a Casa da Imprensa, proprietária do imobiliário, ousa colocar o triângulo entre o Chiado, o Bairro Alto e a Bica no roteiro dos amantes da Sétima Arte e não só.

O projeto foi pensado de forma gradual mas só depois de ultrapassadas várias batalhas burocráticas e outras, o Cinema Ideal teve condições para ser uma realidade. Para além da sala de cinema, o espaço, muito acolhedor diga-se, vai contar ainda com uma área – denominada Salão Ideal – que acolherá uma DVDteca, um alfarrabista e uma cafetaria e vai abrir portas depois de concluídas as remodelações (daquilo que conseguimos apurar a abertura pode estar à distância de duas a três semanas) estando à disposição da cidade não sendo um exclusivo para quem vai ver um filme.

Pedro Borges, diretor da Midas Filmes e um dos maiores responsáveis pela génese do Cinema Ideal, não tem dúvidas em afirmar que era urgente ter um espaço do género no centro histórico de Lisboa. “Depois de desapareceram completamente todas as salas de cinema na zona nobre da cidade, um fenómeno único na Europa, pensámos em erguer o Cinema Ideal. Para tal tivemos a felicidade de encontrar um espaço como este que tinha a vantagem de ser propriedade da Casa da Imprensa, entidade que pretendia manter a atividade de sempre do imóvel da Rua do Loreto. A mudança da Lei do Arrendamento Comercial tornou o projeto ainda mais possível e depois de um considerável esforço financeiro por parte da Casa da Imprensa conseguiu-se libertar o espaço. Depois, adequámos os nossos desejos à realidade enfrentando uma batalha burocrática insuportável”.

O projeto de remodelação e renovação, que esteve a cargo do conceituado arquiteto José Neves, está avaliado em cerca de 500 mil euros, valor em nada comparticipado pela secretária de Estado da Cultura. Cerca de um quinto desse investimento teve como fim um dos mais modernos sistemas de projeção e som.

Numa altura em que se fala numa hipotética crise no que toca à frequência das salas de cinema, o Cinema Ideal quer inverter essa ideia, nomeadamente no que toca ao centro da capital. Pedro Borges é perentório: “Os cinemas de Lisboa não fecharam por não ter espetadores pois na altura do seu encerramento tinham milhares de visitas por semana. O problema é que as propriedades eram do ponto de vista imobiliário muito apetecíveis. A empresa que está a fechar as salas no centro de Lisboa é a mesma que as abre nos centros comerciais cuja atividade é muito mais rentável. A principal razão da morte das salas de cinema na cidade é pura especulação imobiliária e o negócio.”

Sendo uma sala relativamente pequena, com um máximo de espetadores a rodar as duas centenas de cadeiras, o Cinema Ideal enquanto conceito tende a colocar-se fora da órbita dos espaços mais comerciais. Borges assume a sala da Rua do Loreto como um local menos tentado pelo consumo associado ao novo ato de ir ao cinema. “A partir de certa altura os cinemas transformaram-se em espaços onde é essencial o consumo de produtos que vão complementar o preço do bilhete. Quem vem ao Cinema Ideal “queixa-se” do preço do bilhete mas não podemos ignorar que os ingressos dos cinemas dos centros comerciais não têm o mesmo valor, pois ao mesmo estão associados uma média de consumos derivados por pessoa que integra o preço do bilhete”.

Pensado com uma filosofia diferente, o Cinema Ideal, nas palavras do diretor da Midas Filmes, oferece um produto diferente. “Apesar de termos uma única sala existem várias sessões diárias e, em média, os filmes a exibir vão ser três e com vários horários. Os filmes são destinados a públicos diferentes entre si. Conhecemos o público português, reconhecemos as suas disparidades e vamos ter uma oferta muito particular. Queremos reunir o melhor do mundo do cinema e contem com muitas estreias. Estamos num espaço construído propositadamente para o cinema e está longe de ser um caixote preto com corredores forrados a cartazes. Foi concebido por um arquiteto e tem o melhor equipamento possível de imagem e som. O grande objetivo é manter esse nível de qualidade e é essa, essencialmente, a maior diferença que queremos assumir”.

No que toca à programação, o Cinema Ideal vai apostar numa mostra diversificada mas também em alguns filmes que, por regra, vão ter menos visibilidade nas salas de cinema dos espaços comerciais e com isso trazer o cinema para junto das pessoas, para o coração da cidade. “Para quem vive no centro histórico de Lisboa é um privilégio ter uma sala como esta. Assim, as pessoas vão ter um cinema perto de si e evitam deslocar-se significativamente. Quem mora, por exemplo, num raio de vinte minutos da Rua do Loreto, pode vir a pé ver um filme no Cinema Ideal. Queremos que as pessoas passem a encarar o cinema tal como ele foi em tempos, ou seja, algo normal, como uma atividade próxima à semelhança de outras mas que infelizmente perdeu essas características. As pessoas vão a pé ao restaurante, à farmácia, para a escola. Por várias razões o cinema tem sido excluído dessas movimentações urbanas. No meu entender deveríamos ter um “Cinema Ideal” na Graça, em Alcântara, em Alfama, em Santa Apolónia, etc.. Temos a obrigação de devolver o cinema à cidade para além de tornar um local como o Cinema Ideal em um ponto de encontro”, sublinha Pedro Borges.

Para além da normal exibição diária, o Cinema Ideal vai servir de palco para eventos na área da Sétima Arte e da imagem e a colaboração com, por exemplo, o IndieLisboa está já equacionada ainda que tal não signifique o fecho de portas da sala em termos da regularidade das sessões.

Para os interessados em vir até à Rua do Loreto ver um filme, a bilheteira do Cinema Ideal apresenta três modalidades. Às quintas, o “Dia Ideal”, os bilhetes são a cinco euros independentemente da hora de exibição. Esse valor é também praticado, diariamente, nas sessões com arranque antes das 13 horas. À tarde, compreenda-se um período até às 18.30, e para jovens, estudantes e maiores de 65, o valor é de seis euros. À noite, cada bilhete custa sete euros.

In Rua de Baixo

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