segunda-feira, 5 de maio de 2014

“Do Branco ao Negro”
Vários Autores

A vida a várias cores



Uma dúzia de contos, doze formas de encarar a vida através de várias tonalidades que servem de um particular arco-íris da existência.

“Do Branco ao Negro” (Sextante Editora, 2014) é um libertador, belo e acutilante livro que nasceu da colaboração de algumas das mais interessantes vozes literárias nacionais no feminino, que resulta num exercício que retrata o amor, incondicional ou não, através de um filtro colorido espelhado em palavras e ilustrações que vagueiam num oceano que acolhe vagas que misturam tranquilidade e agitação, sons e silêncios, partidas e despedidas, memórias e tempos presentes e futuros.

Rematadas com apontamentos ilustrados de Rita Roquette de Vasconcellos, as estórias de “Do Branco ao Negro” refletem também a mestria narrativa de algumas das grandes senhoras da escrita portuguesa.
O livro começa com a cor branca e as palavras nascem do raciocínio de Ana Luísa Amaral. Aqui o branco é luto, é perda, é consolo de uma relação à beira do fim entre o ser humano e o animal, sendo também conforto e amizade. A seguir, Ana Zanatti fala de uma abóbora-menina, ou vice-versa, atrações de intuições metafóricas num cenário amarelo.

Depois, Clara Ferreira Alves revela uma relação egoísta vivida entre Portugal, a Turquia e o mais distante Uzbequistão. A desilusão pode ter varias cores mas o laranja pode ser sinónimo de ridículo. Por sua vez, Elgga Moreira traça segmentos de uma fuga em tons vermelhos e com um discurso em forma de desconversa onírica.

Lídia Jorge é a senhora que se segue e é de sua autoria um dos mais interessantes momentos deste livro. A mudez tem a cor esverdeada de forma suave. Ainda sob um cenário esverdeado, ainda que mais denso, Maria Isabel Barrento fala de uma esperança fugidia, de uma vida que cresce e passa num abrir e fechar de olhos.

Mas também há espaço para momentos mais quentes e o erotismo aracnídeo de uma Raquel em tons marinhos traz à tona o discurso sempre forte de Maria Teresa Horta. Explorando também a cor azul, Raquel Freire contribui com uma narrativa em forma de busca desesperada assente numa visão desfocada e paranoica.

Já perto do final mais três estórias. Rita Roquette de Vasconcellos, agora a fazer uso da palavra escrita, descreve a aventura urbana da geometria do pensamento violeta, enquanto S. José Almeida usa o roxo como sinónimo saudosista. O último capítulo surge da pena de Yvette K. Centeno e em toadas escuras fala-se das não-coincidências da sombra.

Com os direitos autorais a reverterem exclusivamente para a Alzheimer Portugal, “Do Branco ao Negro” une, numa mesma história, diversos capítulos de gente comum em forma de contos cujo perfil revela excelência e elegância.

In Rua de Baixo

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