segunda-feira, 7 de abril de 2014

“Nunca te distraias da vida”
de Manuel Forjaz

A vida em 20 lições



«Poderei morrer da doença, mas a doença não me matará.» Escrita na capa do livro, esta frase reflete o estado de alma de alguém a quem a vida se tornou madrasta através da presença do cancro. Assim, sem meias palavras, Manuel Forjaz, encara a doença de frente, pelos cornos.

De espírito aventureiro e com uma vida onde a iniciativa sempre esteve presente, este moçambicano já foi um pouco de tudo. Atrasou os estudos em nome da aventura, viveu o sonho, regressou à causa académica, construiu orgulhosamente uma família, foi empresário de sucesso, sentindo as oscilações dessa vida face à instabilidade das finanças e mercados, fundou projetos como os Pais Protetores, o Instituto do Empreendedorismo Social e lançou o TedxOPorto, tornando-se uma dos maiores oradores nacionais.

Hoje, aos 51 anos é um sobrevivente convicto. E é essa a história que narra em “Nunca te Distraias da Vida” (Oficina do Livro, 2014), uma biografia que foge à própria noção de biografia, um manual de sobrevivência sem o ser, páginas escritas de coração aberto.

Manuel Forjaz trata tudo pelos nomes, não foge ao combate. Luta de forma corajosa e extremamente racional, filosofia que merece o devido aplauso pela frontalidade e coragem. Através um discurso direto e informal, “Nunca te Distraias da Vida” é um relato em vinte lições. Pedaços da vida de um Homem que agradece a ajuda da família e amigos, chora perdas, abraça saudades, vive da e com a esperança, procura soluções.

Depois de escrever amiúde na sua página de Facebook, tornando essa virtual forma de comunicação numa espécie de “diário de bordo”, Forjaz quis colocar em livro a sua experiência de vida recente. E, este testemunho humano e sensível, resulta num dos livros mais interessantes que 2014 já viu nascer.

Folhear este livro é entender uma doença que dinamita a vida de quem padece dela e dos seus familiares e amigos. Desde o diagnóstico, passando pelos tratamentos, pelas infelizmente momentâneas tréguas da doença, os seus regressos e a esperança que nunca desaparece, Manuel Forjaz consegue a proeza de racionalizar o seu estado de alma e essa fabulosa lição de humanidade é fruto de uma vida cheia de amor e carinho, valores que apenas quem ama pode dar e receber.

Estando a palavra “morte” riscada do seu vocabulário, Manuel Forjaz ensina-nos formas de lidar com o estado enfermo, partilhando, por exemplo, ideias que podem ajudar a desmistificar e a encarar de outra forma o cancro. Os dois anexos presentes nas últimas página surgem como “mandamentos” para se viver melhor com a própria doença ou com a enfermidade alheia.

Livro que se lê num ápice, “Nunca te Distraias da Vida” é um dos mais pertinentes e racionais testemunhos sobre a força de viver, a vontade de quebrar barreiras e obstáculos sejam eles biológicos, psicológicos ou da própria alma. São quase 170 páginas de um constante carpe diem escritas por alguém se se intitula “otimista esquizofrénico”. Tivéssemos todos um quinto da força deste Homem e o mundo seria, sem qualquer dúvida, muito melhor. A nossa devida vénia. Bem-haja Manuel!

Nota: Este texto foi escrito antes da morte de Manuel Forjaz, ocorrida ontem, dia 6 de Abril.

In Rua de Baixo

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