quarta-feira, 23 de abril de 2014

“Dicionário de Insultos”
de Sérgio Luís de Carvalho

De bestial a besta…ou vice-versa



País de brandos costumes, Portugal, por vezes, exterioriza um pouco mais do que “só fumaça”. A mostarda chega ao nariz e lá vai disto, ó Evaristo! Como quem não sente não tem boa filiação, cada injúria infligida pode fazer funcionar um dos mais céleres mecanismos de defesa pessoal.

Falamos do insulto, seja como resposta ou achega. E, se insultar é uma arte, universal, nada melhor que conhecer as estranhas origens dos impropérios cá do burgo para ficar com mais armas neste duro combate.

Foi isso que fez Sérgio Luís de Carvalho com “Dicionário de Insultos” (Planeta, 2014), um livro que descreve a génese e a história adjacente a cerca de meio milhar de insultos que todos, ou quase todos os portugueses, conhecem. Existem para todos os gostos e “paladares”. Uns são mais corriqueiros, outros mais elegantes e existem ainda uns que, envoltos de complexos níveis de elaboração, se tornam quase impronunciáveis – entenda-se, neste contexto, de difícil entendimento por parte do insultado.

Em algumas entrevistas por forma a divulgar esta obra sui generis, Luís de Carvalho afirma, e bem, que «o insulto a usar depende do grau de chavascal». Falando bem e depressa, ao perder-se a elegância ganha-se em acutilância.

Tradicionalmente, o português achincalha desde a Idade Média, época em que as célebres Cantigas de Escárnio e Maldizer faziam as delícias dos mais “letrados”. Embebido de um divertido e sagaz espírito de investigação, Sérgio Luís de Carvalho acumulou e procurou sapiência na arte de chatear o próximo ao longo das últimas duas décadas até chegar a este “Dicionário de Insultos”, sinónimo de elemento aglutinador da origem de certo palavreado.

Licenciado em História, Sérgio Luís de Carvalho divide a vida entre o ensino e a investigação de âmbito histórico. Como autor já publicou mais de 30 obras que vão do género romance, passando pela literatura infantojuvenil até à pesquisa histórica. Agora é chegada a vez deste peculiar exercício literário que, segundo o autor, tem por fim defender a língua portuguesa, fazendo que a mesma seja devidamente utilizada.

Ora vejamos. Ao longo de mais de duas centenas de páginas, Luís de Carvalho apresenta-nos, alfabeticamente e em forma deliciosamente “romanceada”, cerca de 500 insultos que qualquer bom insultador, qualitativamente falando claro, deve dominar na ponta de língua. E nada como saber a sua origem para a sua devida utilização.

Sabia que “estafermo” deriva dos torneios medievais realizados em terras italianas? “Panhonha” tem a sua origem no idioma tupi (povo brasileiro que habitava no litoral do país no século XVI)? O termo “bera” é sinónimo de joia? Sim, estamos a ser muito brandos mas, para escrever como surgiu, por exemplo, o clássico “vai para o c…” tínhamos de ter bolinha no canto superior direito. Portanto, nada melhor que folhear este livro e descobrir algumas das mais fabulosas pérolas linguísticas do português enquanto arma de “achincalhanço”.

 In Rua de Baixo

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