terça-feira, 11 de março de 2014

Band of Horses
“Acoustic at the Ryman”

Um abraço infinito



Nascidos na “elétrica” Seattle, em 2004, os Band of Horses contam com quatro álbuns de originais cuja orientação sonora vagueia entre o rock de características indie e o alternative country, sendo que o recente “Acoustic at the Ryman” se aproxima mais do ambiente intimista do som oriundo de Nashville, muito por culpa da ausência da eletricidade e da refrescante presença do piano.

Gravado com a ajuda do formato Direct-Stream Digital, em alta resolução, e tendo por palco o icónico Ryman Auditorium – conhecido por ser o lar do Grand Ole Opry, um evento dedicado à country music cuja primeira edição remonta a 1925 – “Acoustic at the Ryman” é muito mais do que um simples registo ao vivo, é uma forma de reconstruir algumas das mais bem-sucedidas e brilhantes canções de uma banda que tem na vibrante voz de Ben Bridwell um dos seus maiores trunfos e que na edição de 2013 do Optimus Alive tivemos o privilégio de ouvir bem perto.

Gravado num ambiente que sugere uma invejável intimidade entre banda e público, este disco promove as influências que os Band of Horses receberam em termos de maneirismos sulistas e country, mas que nos seus registos mais elétricos não são tão notórias. O resultado é uma coleção de (apenas) dez músicas que encantam pela simplicidade que exibem, graças a uma deliciosa entrega dos músicos, que arriscam momentos sem rede, como acontece, por exemplo, na versão de “Older”, um exercício que permite um final à capela, depois de uma interpretação a invocar o “fantasma” de Neil Young.

O disco abre com “Marry Song”, um dos temas mais bem recebidos de “Cease to Begin”, e, logo à primeira, é impossível não sentir a magia de uma interpretação que entra pelos ouvidos adentro e teima em ficar no mais íntimo dos nossos cantos interiores. O piano vibra dolente, enquanto as cordas sublinham as palavras cantadas pela voz à beira do abismo romântico de Bridwell. As palmas que assinalam o final da canção são sinónimo do que se sentia nas duas noites de abril de 2013 que resultaram neste álbum. Inveja? Sim, pura e dura.

“Slow Cruel Hands of Time”, de “Mirage Rock”, mostra como umas simples cordas podem transformar uma canção em algo maior que a vida, em momentos onde apenas existe a música, quem a toca e que tem a sorte de a ouvir e guardar dentro de si. Bridwell solicita apoio vocal e o resultado é tocante. Por entre gritos surdos de algum histerismo contido surgem as primeiras notas de piano de “Detlef Schrempf” e o resultado é uma verdadeira obra-prima romântica até à medula. Impossível ouvir apenas uma vez.

Em território declaradamente country, "Everything's Gonna Be Undone" arranca palmas a compasso, enquanto se cantam versos sobre corações partidos. Ainda a falar em paixões dilacerantes, "No One's Gonna Love You", um dos maiores hinos da banda e o regresso a “Cease to Begin”, exige silêncio a quem ouve e dedicação a quem dedilha a guitarra e canta. Aplausos curtos e tímidos assinalam momentos intensos e irrepetíveis.

Em temas como “Factory”, resgatado de “Infinite Arms”, o calor resultante das vozes que em palco abriam a alma aumenta as doses de doces harmonias que têm na já referida “Older” o seu expoente máximo. Já "Wicked Gil", de “Everything All the Time”, é apresentada sob uma roupagem cuja emoção reside na fantástica combinação entre piano e voz, que relegam para “segundo plano” os restantes instrumentos.

Já no caso deste “Acoustic at the Ryman”, “Funeral” leva a audiência ao delírio e o crescendo da sua interpretação eleva ao máximo esplendor a genialidade do quinteto de Seatlle. O final de curtíssimo disco é feito com um “Neighbor” cantado a várias gargantas, à capela, que faz descobrir que existe talento vocal para além de Bridwell.
 
Acima de tudo, este disco mostra uma outra faceta de uma banda que se “esconde” atrás de várias camadas de eletricidade e tiques de estúdio, mas que é, na realidade, um coletivo muito talentoso, capaz de sobreviver a transmutações sonoras várias, mantendo sempre um nível qualitativo elevadíssimo.

Coerente, envolvente e altamente recomendável, “Acoustic at the Ryman” apenas peca, dizemos nós, numa pequena questão. Exigiam-se mais versões, interpretações, chamemos-lhe o que quisermos, de “Is There a Ghost”, “Laredo” ou “The First Song”. Seria bom demais?

Alinhamento:
 01.Marry Song
02.Slow Cruel Hands of Time
03.Detlef Schrempf
04.Everything's Gonna Be Undone
05.No One's Gonna Love You
06.Factory
07.Older
08.Wicked Gil
09.Funeral
10.Neighbor

Classificação do Palco: 8/10

In Palco Principal

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