terça-feira, 22 de outubro de 2013

“RAIN”
PS3

A arte em forma de entretenimento




As consolas fazem parte do quotidiano de milhões de pessoas em tudo o mundo. Chegaram de mansinho e, em relativamente pouco tempo, conseguiram conquistar os fãs dos jogos de vídeo e têm na sua oferta particular os produtos que marcam a diferença entre plataformas.

No topo do mercado a Microsoft e a Sony disputam a supremacia, ainda que passageira a cada novo jogo, a cada nova forma de entreter os seus seguidores. E como é a evolução que marca a tendência das novas tecnologias, norte-americanos e japoneses preparam-se para revolucionar. Se os nipónicos apostam em força na nova PS4, a empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen responde com a também muito aguardada Xbox One.

Por norma, as novas versões das consolas levam pouco tempo a implementarem-se no mercado e fica sempre no ar a dúvida: o que fazer com a antiga consola? Mais notório no caso da Sony, o salto qualitativo gigante entre a PS2 e a PS3 “condenou” ao estatuto quase de culto a consola lançada em 2000.
Com o nascimento da PS4 as dúvidas voltam a assombrar. Mas, felizmente, a Sony revelou estar atenta a essa transição e tem no formato online a solução, ainda que provisória entenda-se, para a sobrevivência da PS3. Os jogos e aplicações exclusivas através de download fazem crer que há esperança para os amantes da PS3.

Entre alguns dos jogos lançados pela Sony, títulos como o maravilhoso e simplista “Journey” e o mais complexo “The Unfinished Swan to Guacamelee!”, jogos plenos de uma identidade inovadora e distinta, tornam possível acreditar que esta filosofia apostada em garantir a fidelização do jogador PS3 deixe marcas através de uma herança vincadamente aliada ao ato do download exclusivo.

E é a referida exclusividade que nos leva até “Rain”, um jogo desenvolvido por Yuki Ikeda através da PlayStation C.A.M.P., em conjunto com a Acquire e a SCE Japan Studio, que revela uma atmosfera única cujos personagens se encontram num cenário que mistura ansiedade com tranquilidade e que consegue a proeza de travar fortes laços emotivos entre jogo e jogador através de uma jogabilidade simples e direta ao coração.

Em traços gerais “Rain” conta a estória (romântica) entre um rapaz e uma rapariga que têm a particularidade de apenas se tornarem visíveis através da chuva e procuram fugir de alguns inimigos atrozes. Pleno de ideias e sensações que apesar de simples – não confundir com simplistas – “Rain” agarra de imediato o jogador que sente que está a viver uma realidade paralela e não apenas um jogo.

Nos primeiros instantes do jogo a nossa vista é inebriada por aguarelas coloridas que revelam um cenário onde a chuva é uma constante e no qual o nosso anónimo herói percorre as ruas abandonadas de uma estranha cidade cujas poças provocadas pela pluviosidade servem de sinais orientadores.
Perdido na noite, o rapaz decide seguir a rapariga que foge de um monstro e dá início a uma série de aventuras cuja ação e permanente banda sonora faz sentir-nos que estamos num bonito e constante quadro cuja arte é por demais avassaladora.



À medida que avançamos na trama surgem frases no ecrã que dão dicas de como seguir em frente. Não existem muitas cutscenes e, para além da constante realidade metafórica de “Rain”, ao jogador é dado o privilégio de interagir com a narrativa de forma tranquila e sedutora.

A jogabilidade é feita através de três botões que permitem ao nosso rapaz saltar, correr, rastejar e interagir com o cenário (abrir e fechar portas, saltar para dentro de objetos, etc.). As câmaras revelam planos de ângulos estáticos e são dispensados tutoriais. Os perigos são facilmente assinaláveis – as formas de fugir aos mesmos também – e por vezes é necessário recorrer ao “select” para entender melhor a ação sendo que em grande parte do jogo é possível avançar sem qualquer interferência maligna que pode assumir a forma do monstro desconhecido ou de cães raivosos. Quando as coisas apertam os nossos heróis juntam forças e conseguem levar o inimigo a uma autodestruição.

Com ou sem a presença de entraves à ação, todo o clima do joga está envolto de uma tensão permanente que torna a atmosfera num misto de acalmia e sobressalto e que deixa o jogador alerta para futuras intervenções furtivas que mediante insucesso podem ser repetidas do mesmo ponto ou de outros checkpoints.

Um dos poucos “defeitos” do jogo é a curta duração. Perante tão fantástico ambiente apetece continuar ad aeternum nesta urbe vintage, chuvosa e vibrante na qual as notas musicais de “Clair de Lune” de Debussy e restante música de Yugo Kanno ecoam e deixam marcas dentro de nós. Sem reservas, somos levados a repetir locais ou simplesmente parar e ouvir a chuva que cai ou passar pelas poças e ouvir o chapinhar.

Mais de que um jogo, “Rain” é uma notável experiência sensorial envolta de uma arte que prende o jogador num ápice tendo o mérito de apostar na simplicidade de processos para atingir o objetivo. A natureza de certa forma “etérea” deste jogo tem tudo o que é preciso para o tornar no mais recente clássico do mundo PSN. Altamente recomendável, “Rain” assume-se como uma peça criativa e comovente que reúne os mesmos predicados que, em tempos, deixou boquiabertos os fãs de jogos como ICO e que vai, de certeza, prevalecer na memória dos mais exigentes. Sem dúvida, uma obra-prima.

In Rua de Baixo

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