segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Placebo
"Loud Like Love"

Passivos agressivos




Com uma carreira que remonta a meados da década de 1990, os britânicos Placebo têm conhecido um trajeto musical que, apesar de um começo forte e coeso, tem sofrido alguns momentos menos bons nos anos 2000.

Depois de três excelentes discos, Brian Molko, Stefan Olsdal e camaradas de bateria perderam um pouco do gás conseguido com “Placebo”, “Without You I’m Nothing” e “Black Market Music”, sendo que “Sleeping With Ghosts” anunciava, a espaços, alguma crise criativa que “Meds” viria a confirmar.

De forma a combater a inércia criativa, Molko e Olsdal conheceram novo companheiro na bateria - depois do estreante Robert Schultzberg e da troca de Stevie’s (Hewit por Forrest). Coincidentemente ou não, “Battle of the Sun” resultaria um disco mais apelativo que o álbum antecessor.

Entre o disco de 2009 e o novíssimo “Loud Like Love”, os Placebo editaram, via Itunes, o muito interessante “Live at Angkor Wat” e, num registo em toada semi-acústica, revestiram de forma bastante convincente clássicos como “Blind” ou “Teenage Angst”. Ainda que sem originais, os Placebo tentavam algo diferente, aproveitando causas humanitárias para a ocasião.

E eis que chegamos a 2013. Brian Molko tem 40 anos, família, estabilidade. E esses requisitos parecem ter servido para o líder dos Placebo tentar voltar a fazer (boas) canções e, podemos dizer, um álbum que tenta satisfazer, em parte, os fãs de sempre da banda, como também abrirá as portas aos ouvintes casuais. Sob a bitola da produção de Adam Noble (nome associado gente como The Guillemots ou Paul McCartney), os Placebo oferecem um disco interessante, com algumas canções “radio friendly” e outras mais introspetivas, onde o romance de tendências góticas, tão a gosto de Molko, é uma fórmula bastante requisitada. Pelo caminho ficou, é certo, o rock de tendências mais abrasivas, onde versavam temáticas aditivas ou exercícios de redenção, como “Centerfolds” ou “Special Neds”, mas a especial e afetuosa melancolia das palavras do vocalista da banda fazem sentir-se, e bem, em “Loud Like Love”, um disco com sinais de vincada maturidade e uma tensão dramática assinalável. Mas será que estas boas intenções servem para fazer um bom álbum?

O disco abre com “Loud Like Love”, o primeiro sigle do álbum homónimo que é um verdadeiro hino rock à Placebo. Um ritmo completamente viciante assente numa bateria gulosa que transforma as cordas de Molko e Olsdan em acutilante e assertiva melodia. Molko, confortavelmente otimista, apela ao amor, grita bem alto e enche os nossos ouvidos com palavras positivas. Estranho? Talvez…

O ritmo desce de intensidade em termos de decibéis com “Scene of the Crime”, mas o swing mantém-se bem vivo. Apesar de um começo sob o som de palmas (algo que se repete noutras faixas e que não parece resultar muito bem), a música cresce e a voz de Molko está solta, viva. A frustração é um dos temas presentes na poesia da banda, que aqui tem a ousadia de colocar um piano entre as cordas e a bateria, como que a preparar o que segue.

E é com o som do piano que a atormentada “Too Many Friends” - uma das faixas mais fortes deste disco - inicia um discurso onde a internet e a inibição social que advém do seu uso extremo são alvo de crítica. A música flui de forma crescente, o baixo é forte e abrasivo, e a guitarra dispara acordes e afasta a letargia. Ao contrário do que afirma Brain Molko, sentimos a sua presença.

“Hold on to Me” e “Rob The Bank” são as duas canções seguintes e está na sua diferença de estrutura e sonoridade um pouco da alma de “Loud Like Love”. De um lado, temos uma balada de tonalidades mais escuras, enquanto “Rob the Bank” aposta em sonoridades mais “punky”, onde Olsdan brilha e Molko faz uma espécie de crítica à conjuntura económica mundial, nunca deixando de apelar ao…amor.

A viagem continua com “A Million Little Pieces”, uma canção que espreita o universo deixado como legado em “Meds”, e é quase impossível não sentir a tentação de abanar o corpo ao som desta balada desencantada feita de várias camadas rock e cuja tendência confessional leva Molko a cantar: “Now I feel I’ve lost my spark / No more glowing in the dark”. Friend or Foe, perguntamos nós?

“Exit Wounds” leva-nos de volta ao mundo escuro da cabeça de Brain Molko e fala de paixões desapaixonadas, de falhanços e vidas interrompidas. O ritmo revela alguma contenção mas, aos poucos, solta-se e torna-se mais acutilante, para depois emergir em si mesmo enquanto a voz de Molko está sempre à tona, brilhante. “Purify” volta a territórios mais rock, com a bateria e o baixo a mostrarem garras afiadas.

As duas últimas músicas do disco, “Begin the End” e “Bosco”, voltam a reclamar um ambiente mais íntimo e perdem os ritmos mais acelerados. Ganha-se em dramatismo, perde-se em entusiasmo. A guitarra cede o lugar ao piano e na última faixa do disco há até espaço para violinos.

Em termos gerais, “Loud Like Love” é um disco aceitável mas, mais uma vez, fica aquém daquilo que os Placebo já fizeram e, sinceramente. Quase duas décadas depois, a banda mudou, perdeu um pouco da rebeldia dos primeiros discos e encontra-se agora num rio cujas marés não são tão fortes como outrora. Molko, Olsdan e Forrest respiram, acreditam, amam, mas arriscam pouco. Mais uma vez, estão “quase lá”, mas ainda não chega.

Alinhamento:

01.Loud Like Love
02.Scene of the Crime
03.Too Many Friends
04.Hold on to Me
05.Rob the Bank
06.A Million Little Pieces
07.Exit Wounds
08.Purify
09.Begin the End
10.Bosco

Classificação do Palco: 6,5/10

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