terça-feira, 24 de setembro de 2013

Rodrigo Leão
“O Mordomo”

Linguagem universal



A música é uma das formas de expressão que mais remete para o imaginário. Associar sons a imagens, músicas a acontecimentos, resulta da expressividade única que a conjunção de acordes permite através de uma matemática melodiosa.

Dono de uma carreira ímpar por terras nacionais, Rodrigo Leão é um dos compositores mais prolíferos da sua geração e a sua ligação ao universo cinematográfico já o levou a participar em algumas bandas sonoras como por exemplo em “Portugal, um Retrato Social”, “Lisbon Story” de Wim Wenders e mais recentemente contribuiu com algumas músicas para a produção luso-francesa “A Gaiola Dourada”.

Desta vez é Hollywood que chama pela criatividade e talento de Rodrigo Leão e pela primeira vez o antigo músico da Madredeus vê a sua música na Meca do cinema mundial. Falamos, obviamente, da banda sonora de “O Mordomo” de Lee Daniels, um filme que retrata a vida de um mordomo da Casa Branca e torna a colocar o dedo numa das maiores feridas sociais dos Estados Unidos: o racismo.

Assim, a banda-sonora de “O Mordomo” resulta numa coleção de mais de duas dezenas de (curtas) composições que no seu conjunto se revelam com unidade sonora própria do trabalho que Leão tem vindo a desenvolver nos últimos anos e que aposta numa carga emotiva clássica com destaque para os teclados. A marca de Rodrigo Leão está de tal forma vincada na sua música que mesmo que não saibamos de antemão quem é o compositor bastam breves notas para saber de quem se trata.

A solenidade de temas como «1926», «Time to Leave» ou «Kids Hosed Down» contrasta com um maior ritmo e intensidade de temas como «Woolworth» que marcam posição neste disco devido ao seu diferente andamento. Noutros casos como «Learning the Ropes» o crescendo da intensidade musical revela o drama que a película exibe e, de olhos fechados, sentimos mudanças de cenário e tensões que crescem ou atenuam. A música de Rodrigo Leão é um verdadeiro barómetro dos sentidos.

Tal como a maioria das bandas sonoras é o seu todo que se destaca e a uniformidade dos temas apenas se consegue num determinado contexto. A música é intuitiva e o dramatismo das cenas de “O Mordomo” assentam que nem uma luva na suavidade do ADN das composições de Rodrigo Leão que gravou muitos dos seus temas em Londres na companhia de uma orquestra de 60 músicos.

O único senão deste (grande) disco é o facto de a sua música não poder concorrer à estatueta dourada de Hollywood na categoria de Melhor Banda Sonora Original pois o tema principal deste filme é uma variação de «Último Adeus», faixa que integrava o alinhamento de “Cinema”, álbum de 2004.

Ainda assim, existem outros prémios que Rodrigo Leão vai com certeza ganhar com mais um excelente trabalho sendo que os verdadeiros vencedores são, sem dúvida, os ouvidos de quem se deliciar com este álbum.

In Rua de Baixo

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