domingo, 22 de setembro de 2013

“O Negócio dos Livros”
de André Schiffrin

Sociedade do espetáculo



O ato da leitura pressupõe métodos de uma grande simplicidade que permite, a todos, realizar tal fantástica demanda. Um livro, um cérebro e uma vontade intrínseca de ultrapassar fronteiras são as ferramentas necessárias para passar horas, dias, anos, de olhos postos nas frases, vidas ou experiências alheias que, com o passar de cada linha, de cada página, se tornam universais.

Numa época em que, apesar da crise financeira global, o livro é um bem precioso e indispensável para muito,s um pouco por todo o planeta, e a sua oferta é superior ao que nem os mais otimistas ousariam pensar há pouco mais de um século, ficam no ar algumas questões pertinentes: Será que é o leitor que escolhe o seu alvo de leitura ou é o mercado que dita as leis que condicionam qual a obra eleita? A lógica da produtividade editorial é consequência da qualidade intrínseca da obra ou serão os livreiros a “escolher” o que se “deve” ler consoante uma lógica lucrativa? Estas são algumas das perguntas que o francês André Schiffrin pretende explorar e dissecar através de “O Negócio dos Livros” (Letra Livre, 2013), uma obra inspirada na experiência de vida do autor que dedicou toda a sua existência aos livros, consequente edição e seus autores.

Ao longo da vida, Schiffrin foi editor da Pantheon Books, fundou a editora independente The New Press - publicando nessa chancela nomes como Marguerite Duras, Micheal Foucault, Simone de Beauvoir ou Noam Chomsky – e teve ainda tempo, espírito e competência para ser membro da Publish Commitee, da Associação Americana de Editore – entidade reconhecida pela sua luta contra a censura e pela liberdade de expressão – e para ser o primeiro editor da versão norte-americana da prestigiada revista “Granta”.

Com uma visão romântica de edição, este parisiense herdou do pai o “bichinho” dos livros e tenta, com este “O Negócio dos Livros”, revelar alguns dos mistérios dessa arte explicando, ao longo de mais de um século de história, como o mercado livreiro mudou e se adaptou às novas realidades que cada época imponha.

Hoje, defende Schiffrin, são os grandes grupos económicos que decidem o que ler, existindo uma filosofia que retrai o mérito artístico ou intelectual em função de uma literatura mais “light” e que teima em oferecer, “ao quilo”, obras dedicadas a “celebridades” nascidas de uma sociedade “pastilha-elástica” e que tem, por exemplo, nos reality shows, uma fonte inesgotável de pseudo-assuntos e temas.

A literatura de massas, a determinação do lucro, a censura de mercado e o mercantilismo capitalista são alvo de uma apaixonada e bem documentada análise em “O Negócio dos Livros”, tornando esta obra numa das mais importantes reflexões sobre o mercado livreiro e que servirá, por certo, como um alerta para quem gosta do mundo dos livros, seja na ótica do leitor propriamente dito ou na visão de quem está profissionalmente por dentro do próprio negócio das obras lidas.

In Rua de Baixo

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