segunda-feira, 30 de setembro de 2013

MGMT – “MGMT”

Odisseia cósmica


 
Depois de um disco de estreia se transformar em sucesso - de forma inesperada, ou não -, existe sempre uma barreira emocional quando se trabalha no seu sucessor. A continuidade e a rutura podem ser equacionadas. A fórmula pode repetir-se, as ideias podem seguir novos caminhos. Nada pode ser dado por adquirido e a magia pop pode perder-se ou transformar-se. A arte, enquanto definição genérica, pode metamorfosear-se de forma despretensiosa, mas tem de conter um obrigatório traço genuíno.

No caso dos norte-americanos MGMT, liderados por Benjamim Goldwasser e Andrew VanWyngarden, o maior desafio enquanto disco chega ao terceiro tomo. Depois de “Oracular Spectacular”, lançado em 2007, ter conseguido a incrível tarefa de vender mais de um milhão de cópias em todo o mundo, três anos mais tarde, “Congratulations” conseguiu uma eficiente ponte entre os ambientes mais psicadélicos e envoltos de um indie de cariz eletrónico para um som mais rock, mais progressivo e com um ou outro apontamento surf.

Mantendo o espaço cronológico entre edições, eis que 2013 traz o homónimo “MGMT” como prova de fogo. Para esta nova aventura, os MGMT voltam a convidar Dave Fridmann para a produção e o homem que já esteve por detrás do som de bandas como os Flaming Lips ou Mercury Rev deixa, indubitavelmente, a sua marca ao longo da dezena de canções que compõem o álbum. O resultado é um disco saturado de camadas psicadélicas, onde a eletrónica e as guitarras fecham um círculo denso e pautado pela tensão. De forma corajosa, os MGMT afastam-se do polimento dos tempos de “Time do Pretend”, “Kids” ou “It’s Working” e abraçam o desejo de fazer um disco de si para si, onde o processo de escrita das canções está envolto de um novo método, ainda que a abordagem e resultado final não revelem um som “novo”, mas sim a utilização de novas diretrizes melódicas.

Logo a abrir, “Alien Days” remete para ambientes pop intimamente associados aos desvarios de Wayne Coyne e comparsas, cujas (des)contruções sónicas são aqui complementadas por ornamentações eletrónicas que procuram abrigo num coro de vozes, em si mesmas, alienadas e amparadas por guitarras à beira do sacrilégio das pedaleiras. Em contrapartida, canções como “Cool Song nº2” afastam, momentaneamente, o teor mais apocalíptico e as pinceladas de piano dão um teor mais terreno às novas composições dos MGMT.

Existem mesmo vários momentos no disco que combinam de forma irrepreensível os lados orgânico e maquinal e “Mystery Disease” é um desses exemplos. Bateria e teclas combinam com eletrónica enquanto a voz, humana, faz a simbiose dos muitos efeitos paralelos. Pisamos territórios surreais mas, por vezes, a simplicidade de músicas como “Introspection” afastam o dogma do experimentalismo e, acreditem, é possível trautear algumas das mais recentes composições dos MGMT.

“Your Life is a Lie” é outro exercício pautado por uma simplicidade absoluta e descaradamente pop. O sons repetem-se e estamos perante a canção mais “orelhuda” de “MGMT”, um álbum que se pauta pela (in)coerência melódica. Num outro patamar, “A Good Sadness” lembra, ao longe, o som desconcertante e emotivo de uns “My Bloody Valentine” de tendências cósmicas.

Já “Astro-Nancy” refugia-se numa timidez translúcida composta por várias peças dignas de um puzzle, sinónimo do somatório de texturas díspares. A voz assombra, as batidas maquinais sustentam a melodia e ganha-se uma frieza, um distanciamento que se acentua na faixa seguinte, “I Love You, Death”, talvez a composição mais niilista deste disco. São estes momentos que mais reclamam a presença da produção esquizofrénica em movimento perpétuo de Fridmann, que diz presente através de uma engenharia lacónica.

As duas últimas canções de “MGMT” são “Plenty of Girls in the Sea” e “An Orphan of Fortune” e, se no primeiro caso, estamos perante (mais) um devaneio pop onde o surreal assenta em alicerces ácidos, a canção que encerra o disco está envolta de um conteúdo mais complexo, e sinistro, que se assume como um qualquer clímax para o objeto particular que é o terceiro disco dos MGMT, uma espécie de óvni sonoro que sobrevoa um espaço vizinho.

Ao terceiro disco, Goldwasser e VanWynGarden decidem fazer o seu “Interstellar Overdrive” e assumem ainda mais a veia psicadélica que já tinham demonstrado (amiúde) nos primeiros registos enquanto MGMT. Não sendo um disco “fácil” e imediato, “MGMT” mostra-se seguro e promete crescer a cada audição. Existem discos que só se revelam com o tempo e que exigem mais dedicação. Este é um deles.

Alinhamento:

01.Alien Days
02.Cool Song nº2
03.Mystery Disease
04.Introspection
05.Your Life is a Lie
06.A Good Sadness
07.Astro-Mancy
08.I Love You To, Death
09.Plenty of Girls in the Sea
10.Na Orphan of Fortune

Classificação do Palco: 7/10

In Palco Principal

Sem comentários:

Enviar um comentário