segunda-feira, 22 de julho de 2013

Pet Shop Boys
“Electric”

A experiência é um posto




Imaginem que misturamos uma dose de New Wave, pitadas de Micheal Nyman, porções generosas de synth-pop, batidas oriundas da década de 1980, um toque de Rap e - espantem-se - versos de Bruce Springsteen. Finalizada a mistura de todos os ingredientes, confiemos na magia do chef Stuart Pierce (figura de proa na produção de nomes como The Killers, Madonna ou Kylie Minogue), que dá os toques finais a esta receita imaginada pela dupla Neil Tennent e Chris Lowe que, ao fim de três décadas, continua a ocupar o lugar mais alto do universo eletropop.

Falamos, claro, de “Electric”, o décimo segundo disco da carreira dos britânicos Pet Shop Boys, que tem a particularidade de ser o primeiro disco desta dupla a ser editado fora da mítica Parlaphone, estreando assim a X2, etiqueta propriedade dos criadores de sucessos como “West end Girls” ou “Go West”.

Depois do mais escuro e introspetivo “Elysium”, editado em 2012, os Pet Shop Boys arriscaram uma mudança de paradigma e lançaram-se numa aventura mais dançável e solarenga, recuperando anteriores bases rítmicas que tinham como mote ondas de sintetizadores futuristas, batidas agitadas, excelentes exemplos líricos e uma urgência digna de uns rapazes de vinte anos. Ainda que nada, ou pouco, tenham a provar, os Pet Shop Boys tornaram “Electric” num disco inspirado nas pistas de dança, sendo que para isso tiveram o precioso contributo do já referido Stuart Pirece, que conseguiu dar uma ambiência refrescante e descaradamente pop ao disco número doze da banda londrina.

São muitas as surpresas em “Electric” e, por exemplo, o astuto “Love is a Bourgeois Construct”, tendo como base uma criação datada de 1982 de Micheal Nyman, retirada da banda sonora do filme “The Draughtman’s Contract”, denota uma assinalável carga digital. Por outro lado, “Axis”, a faixa que abre o disco” e primeiro single deste novo trabalho, emerge de um mar repleto de toadas atmosféricas de cariz sintético, enquanto “Fluorescent”, envolta de um house de características góticas, afasta definitivamente os fantasmas de “Elysium” e abre as portas à nostalgia new wave.

Tendo em conta a multifacetada discografia dos Pet Shop Boys, este novo trabalho reforça a sua condição de ser assente num sofisticado electropop, que povoava os dois primeiros discos do duo e que, a meio da década de 1980, encantava os mais exigentes frequentadores das pistas de dança. Assim, são muitas as referências a “Please” (1986) e “Actually” (1987) e músicas como “Inside a Dream” e “Thursday” carregam consigo texturas que percorrem caminhos onde os teclados cintilantes dão lugar a vigorosos pianos e vozes sampladas. Se, no primeiro caso, somos remetidos para algumas paisagens sonoras de uns saudosos New Order ou Eletronic, em “Thursday” a colaboração do rapper britânico Example faz a música dos Pet Shop Boys soar mais eclética, característica que também pode ser encontrada na elíptica “Bolshy” e na enérgica “Vocal”, segundo single retirado de “Electric”.

É certo que a nostalgia pop é uma constante em “Electric”, mas existem alguns traços de arrojo que funcionam em pleno. Um desses exemplos é a surpreendente e eficaz versão de “The Last to Die”, um original de Bruce Springsteen que nas mãos dos Pet Shop Boys torna-se numa emotiva peça dançável de faz corar os mais sábios mestres das pistas.

No fundo, com este trabalho a dupla londrina faz um disco muito interessante que funciona como uma espécie de doce regresso a casa, que apenas uma carreira experiente pode permitir. Sem ser uma óbvia repetição de fórmulas, “Electric” é um disco que enche as medidas aos fãs de sempre de Tennent e Lowe que, de forma segura, apresentam nove composições que fazem uma viagem pelos mais de trinta anos de uma carreira acima de qualquer suspeita, e que marcou definitivamente o espectro musical das décadas de 1980 e 1990, sem cair em fúteis tentações oriundas de ditaduras musicais sazonais.

Para os Pet Shop Boys, fazer música é, acima de tudo, uma forma de estar na vida e contribuir para a felicidade de quem os ouve, e “Electric” assume-se com um disco maduro e familiar, sem soar a repetição de fórmula, o que, nos dias de hoje, é já uma façanha em si mesma.

Alinhamento:

01. Axis
02. Bolshy
03. Love is a Borgeois Construct
04. Fluorescent
05. Inside a Dream
06. The Last to Die
07. Shouting in the Evening
08. Thurday (Featuring Example)
09. Vocal

Classificação do Palco: 7,5/10

In Palco Principal

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