quinta-feira, 18 de julho de 2013

Optimus Alive'13
dia 3: Sociedade das Nações

Foi um desfilar de diferentes nacionalidades que encheu os palcos no último dia do Optimus Alive'13. Os australianos Tame Impala, os portugueses Linda Martini e Brass Wires Orchestra, os franceses Phoenix, o dominicano George Lewis Jr., vocalista dos Twin Shadow, os norte-americanos Band of Horses e Kings of Leon, os islandeses of Monsters and Men e os ingleses Jake Bugg e Alt-J foram uma amostra da universalidade de um evento como este. Porque a música ainda consegue unir nações.



Linda Martini – 18h00, Palco Optimus

Mais um dia, mais uma viagem. No derradeiro capítulo do Optimus Alive 2013, o palco principal do evento contou, a abrir, com um nome nacional. A celebrar a primeira década de uma carreira segura e em crescendo, os Linda Martini, a cerca de dois meses de lançarem um novo álbum, tiveram a merecida honra de seguir os Oquestrada no dia anterior.

Para além da aglutinação cultural que um festival como este significa, a função divulgadora do mesmo ocupa um lugar de destaque nos seus propósitos. Existem muitas e boas bandas portuguesas que, ao terem a possibilidade de fazer parte de um cartaz exigente como é o deste Optimus Alive, têm uma oportunidade de ouro para mostrar o seu trabalho em termos internacionais. Para além da imprensa estrangeira apostar em força na divulgação deste festival - de forma a seguir as suas bandas conterrâneas -, a organização do Optimus Alive aponta para a presença de mais de 15 mil almas de outros quadrantes que, durante estes últimos três dias, dançaram, vibraram e sentiram o paraíso sonoro vivido no Passeio Marítimo de Algés.

E como é de música que mais importa falar, os Linda Martini voltaram a dar um excelente concerto, conseguindo atrair a maior moldura humana registada aquando do primeiro espetáculo no palco Optimus. Com uma legião de fãs que os segue há mais de uma década, a banda de “Amor Combate” começou o concerto com um dos seus maiores hinos, “Dá-me a Tua Melhor Faca”. Depois, “Juventude Sónica” e “Amor Combate” levaram os presentes a sentir a potência do som do quarteto, que testou dois temas de “Turbo Lento” (a sair a 30 de setembro), com “Ratos” já a ser cantado em uníssono pela grande maioria do público.

Sempre muito comunicativo, Hélio Morais agradeceu a todos pela fidelidade que já dura dez anos, prometendo mais aparições ao vivo no próximo outono, com os presentes a responderam em forma de aplauso. O infelizmente curto concerto continuou com “Belarmino”, dedicado a todas as mães, e “O Amor é Não Haver Polícia”, que fez subir os decibéis. O final foi feito, como tem sido habitual, com “100 Metros Sereia” a levar Hélio a mergulhar num crowdsurfing à beira-rio.

Os Linda Martini estão de parabéns pela década de vida, luta, perseverança e talento, e um dia esperemos vê-los uns degraus (ainda mais) acima no alinhamento de um festival deste gabarito.

Brass Wires Orchestra – 18h40, Palco Heineken

E enquanto os Linda Martini «partiam a louça» no palco principal, os também portugueses Brass Wires Orchestra subiam ao Palco Heineken para mostrarem a sua música folk.

São poucos os que já aqui estão – afinal, as bandas mais fortes subirão bem mais tarde aos palcos –, mas nota-se que conhecem bem as canções da banda, que vai buscar influências a nomes como Munford & Sons, Beirut e Fleet Floxes, entre tantos outros.

Metais, como trompete e saxofone, bateria, violino, guitarras acústicas e elétricas, e violoncelo compõem a parafernália de sons que saem das colunas. As canções incluem desde a mais conhecida “Finders Keepers”, até “Wash My Soul” ou “Tears of Liberty”. Uma música que faz grande sucesso em festas académicas e que, no cenário mais exigente de um festival, consegue dar conta do recado.

E é tempo de mudar para o palco principal, onde, dentro de minutos, estreia Jake Bugg.

Jake Bugg – 19h00, Palco Optimus

Era grande a expectativa perante a estreia do jovem inglês em Portugal. Com apenas um álbum gravado, “Jake Bugg” (outubro 2012), e apenas 19 anos, Bugg conseguiu, no entanto, reunir um bom número de pessoas junto ao Palco Optimus e não se deixou intimidar pelo espaço. Aliás, Jake tinha apenas 17 anos quando foi escolhido pela BBC para estar no palco dedicado às «novidades» no famoso festival de Glanstonbury. Depois disso, tudo são «peanuts».

Além de algumas canções do seu trabalho, como “Two Fingers”, “Taste it”, “Seen it All”, “Trouble Town” ou “Ballad of Mr. Jones”, Bugg foi buscar ainda novidades como “Kentuchy”, entre outras, uma delas tocada ao vivo pela primeira vez, revelando que está preparado para um segundo trabalho. Contudo, a apresentação de novas canções, além das do álbum, provocou alguma desilusão no público, que esperava, talvez,ouvir as melodias que já conhecia.

De sorriso tímido e obviamente satisfeito, Jake agradeceu, continuou sobriamente a cantar e conseguiu ainda ser brindado por uma fã mais atrevida, que expôs o peito nu - momento captado pelas câmaras, para gáudio do público.

Depois de trocar de guitarra, Jake Bugg fica sozinho em palco para interpretar “Broken”, uma das melhores canções do seu álbum. É difícil acreditar que aquelas letras e músicas saem da caneta de um, praticamente, adolescente, quando falam de experiências tão adultas. E são as guitarras, acústicas e eléctricas, as grandes companheiras do músico, que vai alternando entre Martin, Fender, Gretsch e Gibson.

Se havia dúvidas sobre a prestação de Jake num palco desta dimensão, ficaram bem dissipadas. Agora, as expectativas subiram de parada. Mas Bugg tem tudo para dar conta do recado.

Of Monsters and Men – 19h45, Palco Heineken

Contrariando e adaptando um dos mais conhecidos provérbios portugueses, podemos dizer que da Islândia só bom vento e casamento. Quem ontem assistiu ao concerto da banda de Nanna e Ragnar sentiu que, ao contrário dos seus nomes impronunciáveis, a música que resulta deste coletivo composto, no total, por sete elementos é de uma simplicidade desarmante, onde o folk de características algo indie e doces encantou um Palco Heineken a rebentar pelas costuras.

O público, maioritariamente jovem, é certo, cantou, dançou, saltou e celebrou durante os cerca de 50 minutos que durou o concerto como se não houvesse amanhã, deixando visivelmente emocionados os membros da banda originária de Keflavik, cidade localizada no extremo sudoeste da ilha.

Naquela que foi a primeira atuação em Portugal, o alinhamento do concerto teve no álbum “My Head is an Animal” o maior filão, encantando os OMAM o coração dos presentes com temas descaradamente pop e orelhudos como “From Finner”, “Dirty Paws”, “Slow and Steady”, ”Your Bones”, “King and Lionheart” e, obviamente, “Little Talks”, canção que deu origem a um verdadeiro motim festivo entre os presentes.

A fechar, os OMAM tocaram “Six Weeks” com uma bandeira portuguesa oferecida pelo público atada à estrutura que segurava o microfone de Ragnar. No final do concerto todos sentiam que assistiram a uma espécie de ritual despretensioso, onde a celebração da felicidade era o que mais ordenava.

Tame Impala – 20h10, Palco Optimus

Eléctrico, psicadélico, encadeante. São estas as melhores palavras para descrever aquilo que se viu em palco durante a prestação da banda australiana que lançou, no final do ano passado, o aclamado “Lonerism”, uma efusão de cores psicadélias e rock dos anos 60, com a voz fabulosa de Kevin Parker, que parece fazer-nos viajar para uma comunidade hippie dos anos 60. A par com a música, as imagens que foram passando pelos ecrãs, revelaram-nos cores psicóticas, grafismos abstratos e movimentos que poderiam ser induzidos por substâncias menos legais.

Os cinco músicos conseguem, muito fielmente, traduzir em palco as teclas, as guitarras e a voz de Parker conforme ouvimos no CD. Guitarradas poderosas, teclados fortes, baterias aceleradas e a vontade de se divertir desta banda, que é fortemente aplaudida pelos milhares que ali se vão acumulando, são o forte dos Tame Impala. E se há momentos em que o público parece hipnotizado por aqueles sons, outros há em que as notas iniciais de canções como “Feels Like We Only Go Backwards”, “Apocalypse Dreams” e a mais roqueira “Elephant” parece acordá-los de um torpor aparente, para os eletrificar até aos ossos.

Twin Shadow – 21h01, Palco Heineken

Um dos melhores concertos deste Optimus Alive, pela energia, pela dança, pela alegria em palco do vocalista George Lewis Jr. O público cantou e dançou, numa explosão de bons sentimentos, canções como “Golden Light”, a conhecida “Five Seconds” – numa ligação mágica entre Lewis e o público –, “Backburner”, “At My Heels”, “Run My Heart”, “Be Mine Tonight” e Patiente”, entre outras, numa onda que mistura a influência dos 80’s synth com o rock também dessa década.

Lewis saltava e dançava pelo palco e estava esfusiante com a reacção do público, com o qual acabou por partilhar um segredo. “You are way better than the spanish”, afirmou em jeito de confidência, agarrado ao microfone, para depois se justificar perante os muitos espanhóis que se encontravam no recinto: “You are great, but portuguese do it a little better”. Claro que nós respondemos à altura. E, talvez por isso, tenhamos sido brindados com uma canção que foi estreia absoluta ao vivo na Europa. Num ritmo mais lento, George Lewis entoou: “If you ever get out alone…”

Canções em coro, namoradas estimuladas a subir aos ombros dos namorados e palmas, entre outras trocas de amor entre banda e audiência, foram apenas um dos muitos estímulos deste concerto. Valeu a pena ver, ouvir, dançar, cantar e viver um momento destes. É para isso que aqui, também, estamos.

Phoenix – 21h20, Palco Optimus

Hoje, particularmente, o Palco Optimus serviu como uma espécie de nações unidas. Depois dos portugueses Linda Martini, do britânico Jake Bugg e dos australianos Tame Impala, eis que surge a vez dos franceses Phoenix.

Praticantes de um rock assente na potência rítmica que resulta do trabalho feito nos sintetizadores, a banda natural de Versalhes, que saltou para a ribalta com “Wolfgang Amadeus Phoenix”, álbum de 2009, chega a Portugal meses depois de lançar “Bankrupt”.

A sempre complicada tarefa de figurar como a banda que antecede o cabeça de cartaz de um festival foi superada com distinção por Thomas Mars e restante pandilha, que deram um concerto potente, onde guitarras, bateria e, claro, sintetizadores, disputavam à vez uma supremacia que apenas resulta fazendo parte de um todo.

Em forma circular, os Phoenix começaram e fecharam o concerto com “Entertainment”, faixa roubada ao recente “Bakrupt”, e pelo meio distribuíram eletricidade com “Lasso” - momento no qual a banda contou com dois bateristas –, seguido de “Litszomania”, que contou com a ajuda das vozes vindas do público, que, sob um órgão hipótico, cantava e dançava.

“Armistice”, faixa que encerra “Wolgang Amadeus Phoenix”, “Girlfriend”, “1901” e “Run, Run, Run” demonstraram que o som que os Phoenix praticam ao vivo supera em intensidade o registo de estúdio, tornando a sua música mais densa e interessante, ideal para ouvir nos dias de um verão que continua intermitente.

Um dos momentos mais intensos da atuação dos franceses registou-se com “Like a Sunset”, com Mars a invadir as primeiras filas do público, local que adaptou como seu até quase ao final de um concerto que entusiasmou sobremaneira os milhares que já aguardavam pelos Kings of Leon.

Kings of Leon – 22h00, Palco Optimus

Foi por eles, certamente, que muitos dos que encheram o recinto da terceira noite esperavam. E talvez tenha ficado bem surpreendidos - ou talvez não.

Ao vivo, os Kings of Leon conseguem levar mais pontos do que quando jogam apenas em «casa», nas aparelhagens, e acabam por ser mais interessantes. Ainda assim, o rock dos Kings of Leon não traz grandes surpresas e, para quem não é grande apreciador do género, pode revelar-se aborrecido. Muitas guitarradas, muitos riffs, muitas batidas de bateria, numa noite em que os cabeça de cartaz se revelaram muito pouco faladores.

“Sex on Fire” fechou a noite e foi o momento mais alto deste concerto. Ficou uma espécie de ressaca de boa festa, mas sem festa.

No palco no outro extremo do recinto, há Band of Horses e uma festa real para ver.

Band of Horses – 00h05, Palco Heineken

Aparentemente tranquilo quando lá chegámos, no momento em que se adivinhava a subida da banda ao palco, o recinto compôs-se. Muitos foram, certamente, os que abandonaram os King of Leon para ver o que se passava deste lado.

E por aqui começa-se mal, para acabar bem. Nas primeiras duas canções, o som da bateria e das teclas sobrepõem-se, e muito, à voz bem característica de Ben Bridwell e às guitarras. O som só parece acertar em cheio no terceiro tema.

Em vez de optarem maioritariamente pelo último álbum, “Mirage Rock”, os Band of Horses saltam entre “Everything All the Time” (2006); “Cease to Begin” (2007); e “Infinite Arms” (2010). O público, conhecedor, não se importa e reage com entusiasmo a canções como “Monsters”, “The Funeral” e “The Great Salt Like”, do primeiro; “No One’s Gonna Love You”, do segundo; e, a fechar, “Knock KnocK”, do último.

“It’s been a long time since we’ve been here. Thanks for taking us back”, diz-nos um Ben Bridewell, que escorre água por todos os poros. Com o seu típico boné, que ora vai tirando, ora vai colocando, o vocalista canta com uma emoção a que não ficamos indiferentes. É como se as canções lhe saíssem, literalmente, do coração.
E fechamos assim mais uma noite de Optimus Alive. Por aqui, passaram cerca de 150 mil pessoas, muitos espanhóis e ingleses, a contribuir ainda mais para a diversidade de nações. Para o ano, nos dias 11, 12 e 13 de julho, estaremos de volta. E a música continuará a ser o nosso ponto comum.

Texto: Carlos Eugénio Augusto e Helena Ales Pereira

Fotografias: Manuel Casanova e Marta Ribeiro

In Palco Principal

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