segunda-feira, 15 de julho de 2013

Optimus Alive'13, dia 2
Música para as massas e uma imensa minoria

Depois de uma sexta-feira com muitos e bons concertos, esperava-se um segundo dia de Optimus Alive forte - e foi isso que aconteceu. Foram cerca de 50 mil os presentes no Passeio Marítimo de Algés que deliraram com Depeche Mode, vibraram com Rhye, Capitão Fausto e com o felino Paulo Furtado, sentiram o som fantasmagórico dos How to Dress Well ou o sonhador indie rock dos interessantes DIIV, e ainda tiveram tempo para agitar a alma com os Chrystal Castles.



DIIV – 17h45, Palco Heineken

Quando o cartaz desta edição do Optimus Alive foi divulgado, alguns dos nomes que faziam parte dos palcos secundários eram ilustres desconhecidos para a grande maioria das pessoas. É também essa a missão de um evento como este: divulgar, dar a conhecer novas bandas, novos sentimentos e emoções.

Envoltos nesse espírito de descoberta, decidimos começar a nova aventura neste sábado assentando arraias no Palco Heineken logo na abertura. A primeira surpresa, muito boa diga-se, chega-nos de Brooklyn, Nova Iorque. Chamam-se DIIV (antes denominavam-se DIVE) e praticam um rock de tendências indie a roçar o shoegaze e o dream pop, onde as guitarras em desalinho mostram um caminho sublinhado por uma bateria competente e umas teclas sóbrias.

Quinteto formado em 2011, e que tem nos Nirvana uma das suas maiores referências, segundo o próprio vocalista da banda, Zachary Cole Smith, os DIIV basearam a sua performance em “Oshin”, o único álbum da banda, que ficou entre os melhores 40 discos de 2012, de acordo com a prestigiada "Pitchfork".
Durante cerca de 30 minutos, ouvimos “Follow”, “Sometime”, “Ocean” ou a nova e mais sónica “Dust”, e ficou a sensação de estarmos perante uma banda de futuro, que tem na sua juventude uma das maiores características. A reação do público foi excelente: quem estava junto do Palco Heineken, deu por bem empregue o seu tempo, certamente.

Em jeito de despedida, Zachary, que já tinha elogiado o grande concerto que os seus patrícios Vampire Weekend tinham oferecido naquele mesmo palco na noite anterior, aconselhou os presentes a dar um salto ao Palco Clubbing, de forma a verem How to Dress Well. Nós, que gostamos de bons conselhos, lá fomos…

How to Dress Well – 19h00, Palco Optimus Clubbing

Depois de assistirmos a uma muito interessante prestação dos portugueses Oquestrada, que tiveram honras de abrir mais um dia no palco principal, voltámos baterias para a zona mais dançável do festival.
Às 19 horas certinhas, os poucos presentes no Clubbing aplaudiam a entrada de Tom Krell, que ontem se fez acompanhar por um MC discreto, que tem também a responsabilidade de tocar violino durante as atuações dos How to Dress Well (HTDW), conferindo ao já especial som da banda um tom ainda mais intimista.

E por sabermos que estávamos perante um dos projetos que mais reclama o silêncio para conseguir demonstrar a sua música na plenitude, este concerto revestia-se de alguma expetativa. Bem-disposto, Krell, licenciado em Filosofia e que tem entre as suas maiores influências Mariah Carey e Lubomyr Melnyk, pedia alguma paciência aos presentes pelo som à sua volta e reclamava espaço para os seus vídeos, que tornam os concertos dos HTDW numa experiência ainda mais especial e que podem conter imagens estáticas de peças de roupa ou exercícios contorcionistas.

Infelizmente, um espaço como um festival não é, definitivamente, o local ideal para a música deste projeto. A hora escolhida (com Jurassic 5 no palco principal e Wild Belle no Heineken) revelou-se madrasta para a música intimista dos HTDW. Mas, quem assistiu ao belo recital de Krell e comparsa, saiu de alma cheia.
A atuação concentrou-se maioritariamente em “Love Remains” e “Total Loss” e, ao longo do concerto, as batidas sintéticas down tempo e o violino serviram de paisagem para a maravilhosa voz de Krell, qual Farinelli, que com uma simplicidade arrebatadora transforma minutos de fragmentos musicais em peças de rara beleza.

Entre as escolhidas estiveram as belíssimas e desconcertantes “Running Back”, “Talking to You”, “Ocean Floor for Everything”,“I’m Gonna Miss Her”, dos referidos álbuns, mas ainda tivemos o privilégio de ouvir “No More Death”, uma das novíssimas canções dos HTDW.
No final, Krell enaltece a organização do festival, bate palmas e, em troca, recebe mimos da audiência. Foi bonito, justo e de salutar. Esperemos, sinceramente, rever os HTDW, mas noutro tipo de ambiente, se faz favor. Paz!

Rhye – 20h00, Palco Heineken

A expetativa era grande sobre uma banda que arrancou exclusivamente na Internet, disponibilizando alguns vídeos sem grande informação. O álbum “Woman” (março 2013) e as imagens de corpos feminino ajudaram à criação de alguns enganos sobre o projeto. Muita gente queria ver o rosto por detrás daquela voz suave, feminina, que nos levava ao reino dos sonhos.

Por isso, a surpresa foi grande quando se viu Mike Miloshi a assumir os comandos do microfone. Com “Verse” reconhecemos imediatamente aquela voz, relaxante. E é assim que a maioria do público vê este concerto, de forma descontraída, muitos sentados no chão, sem os saltos habituais dos concertos nos festivais. O duo, composto pelo, já referido, canadiano Mike Miloshi (voz e percussão) e pelo dinamarquês Robin Hannibal (sintetizador), é acompanhado por baixo, violino, bateria, contrabaixo elétrico e trombone, estes dois tocados por Claire, a única mulher da banda.

A música dos Rhye está no plano dos sonhos: um indie pop, que faz um casamento entre soul e easy listening, numa onda meio etéreo, meio mágica. Apaixonado por jazz, Miloshi, que começou a tocar violino aos três anos de idade, sabe misturar na perfeição todas estas influências para criar algo que é difícil de descrever, mas muito fácil de ouvir, e que nos conquista à primeira.

“It’s the first time we play to so many people. We’re very nervous”, confessa Miloshi. Os concertos da banda são, geralmente, quase às escuras e muitas das entrevistas são feitas com pouca luz, para que os rostos não estejam muitos expostos. É normal que, num concerto ainda de dia, os nervos estejam à flor da pele. “TheFall”, “Woman” e “Last Dance” são alguns dos temas que se vão ouvindo. “City” é uma surpresa mais acústica, quando o baixista troca o baixo por uma guitarra acústica. “This is a song from my solo album”, explica Mike Miloshi. Lançado em 2006, “Meme” é um dos três trabalhos a solo do músico.

Depois de muitos pedidos, os Rhye acabam por ceder. “Do you wanna ear 'Open', right?”. O público grita, está à espera dessa canção. Mike confessa que a banda está apaixonada pelo nosso país. Chegaram uma semana antes do concerto e andaram a viajar por Portugal. Mas, num festival, o tempo marca tudo e Mike vai olhando para o relógio e afirma que tem só mais dez minutos para tocar. Depois de apresentar “Hunger”, com Claire a fazer um belíssimo solo de trombone, e depois das apresentações da banda, é tempo de dizer adeus. A fechar, mais uma canção de Miloshi, do álbum “Meme”: “It’s Over”. Com muita pena nossa. Vamos esperar pelo regresso.

Editors – 20h30, Palco Optimus

Depois de uma estimulante performance dos Jurassic 5, donos de uma energia hip hop contagiante e que resulta na perfeição no âmbito de um festival como o Optimus Alive, os milhares que estavam na principal área no Passeio Marítimo de Algés esperavam os britânicos Editors, uma das bandas que melhor herdou os ensinamentos mais obscuros dos anos 1980.

Entre a massa presente, a grande maioria envergando t-shirts dos Depeche Mode, claro, o sentimento dividia-se entre a vontade de ver a banda de Tom Smith e o desejo de ver ou rever Dave Gahan, Martin Gore e Andy Fletcher.

Envoltos em luzes de tom escarlate, os Editors começam o concerto com “Sugar”, do mais recente álbum “The Weight of Your Love”, e a receção é algo cinzenta, tal como o corpo deste novo trabalho da banda de Birmigham que criou uma grande número de seguidores com os excelentes “The Back Room” e “An End as a Start”.

Como seria de esperar, as coisas aquecem à medida que os Editors tocam músicas como “An End as a Start” ou “Munich”, um dos seus maiores hinos. Tom Smith e restantes companheiros revelam uma entrega total e, durante segundos, poucos, o mar de gente que rodeia o Palco Optimus esquece a ansiedade de ver os Depeche Mode.

“A Ton of Love”, cujo registo de Smith lembra, a espaços, a voz do malogrado Ian Curtis, uma das maiores inspirações indie de sempre, e “Honesty” aquecem os corações que disparam ao sentir a fantástica “Smokers Outside the Hospital Doors” ou a épica “Papillon”, tema que encerrou o competente concerto dos Editors, uma banda segura que aposta nas sonoridades mais escuras de um rock potente e melódico.

Ao despedir-se, Tom Smith deseja um bom concerto aos Depeche Mode e o nervoso miudinho que acompanha as quase 50 mil almas que se concentram no recinto faz o coração saltar de emoção. Ainda faltam uns minutos, a contagem decrescente começa e ninguém arreda pé das imediações do palco. O estômago e a bexiga podem aguentar um par de horas pois aqui há quem esperou anos, uma vida inteira, para ver os senhores de Essex.

Capitão Fausto – 21h25, Heineken

Os cinco músicos portugueses tinham um desafio pela frente: conseguir aguentar o público até ao fim, sem que este fugisse para o palco principal, onde, às 22h00, tocavam os Depeche Mode.

Além das canções do álbum “Gazela”, já de 2011, como “Teresa”, “Santa Ana”, “José Cid” e “Sobremesa”, entre outras, os Capitão Fausto levantaram ainda um pouco da cortina do próximo trabalho, a ser lançado em setembro. “Célebre Batalha de Formariz” é o nome do novo tema que já circula por aí e que traz a mesma alegria de “Gazela”. Bateria energética, guitarras e baixo imparáveis, e mais uma canção para pôr toda a gente a mexer. E foi isso que se fez durante os cerca de 40 minutos que durou o concerto. É bom ver que, apesar de um nome mainstream tocar no recinto, quem estava ali pelos Capitão Fausto se manteve até ao fim.

A salientar, a tranquilidade que se vive no recinto, enquanto os Depeche Mode tocam. Sem estar esgotado, nota-se que a grande maioria do público desta noite estava ali por eles. Pior para quem subiu ao palco nessa altura, como James Lidell, no palco Heineken, que acabou a tocar para um espaço muito pouco composto.

Depeche Mode – 22h05, Palco Optimus

Se existem bandas que se tornaram referências e ícones pop durante as últimas décadas, os Depeche Mode são, seguramente, um dos seus maiores exemplos. Longe vão os tempos de “Speak and Speel”, é certo, mas, na casa dos cinquenta, Gahan, Gore e Fletcher - hoje acompanhados por Peter Gordeno (teclas) e Christian Eigner (bateria) – continuam a carregar consigo uma energia a toda a prova, alicerçada nos êxitos que ao longo de mais de três décadas tornaram especial a carreira da banda de “Enjoy the Silence”
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É com uma audiência com nervos em franja que o palco, agora negro, oferece as primeiras cores. Círculos coloridos e pitadas sonoras sintéticas trazem ao palco os três magníficos e é com “Welcome to My World” e “Angel”, de “Delta Machine”, que iniciam as cerca de duas horas de um concerto memorável.

O som que emana é excelente, a brilhante componente cénica é o complemento certo para engrandecer a performance, e o público está completamente entregue quando se ouvem os primeiros acordes de “Walking in MyShoes”, obrigando os presentes a recuar vinte anos até “Songs of Faith and Devotion”. Depois, seguem “Precious” e “Black Celebration”, e todos sentem que o “período de aquecimento” está concluído e podemos passar ao jogo propriamente dito.

Gahan, em grande forma física, encanta a audiência, dança, rodopia, dá espetáculo. Continuando a sua missa negra, os Depeche Mode tocam, para as massas, “Policy of Truth”, uma das malhas mais viciantes da história da pop, regressam ao presente com “Should Be Higher”, terminando mais um ciclo musical com “Barrel of a Gun”, de “Ultra”.

Olhando à distância que o passar dos anos permite, notamos os Depeche Mode diferentes, não querendo dizer com isto se estão melhores, ou não. A banda cresceu, os seus membros tornaram-se super-estrelas internacionais, a música perdeu um pouco da força dos sintetizadores, tornando-se mais orgânica, mas a genialidade mantém-se intacta.

Quem também continua dono de uma voz especial é Martin Gore, que pega no microfone em “Skake the Disease”. Depois de bastante saudado, Gore devolve o maior protagonismo a Gahan, que ataca “Soothe My World” e “A Pain That I Used To”, sujeita a uma interpretação com nova mistura, que a excelência cénica que envolve o concerto torna ainda mais especial.

Antes do encore seguiram-se três das maiores músicas da banda. Se “Question of Time” revela toda a importância que tem a bateria nos concertos dos Depeche Mode, as brilhantes “Enjoy the Silence”, com direito a uma pequena jam session, e “Personal Jesus” colocam todos em delírio, de braços no ar, a celebrar. Futebolisticamente falando, os Depeche Mode jogam em casa e goleiam com distinção.

No regresso ao palco, é novamente Martin Gore que oferece uma versão intimista de “Home”, apenas acompanhado por Gordeno nas teclas, e já com os restantes elementos em palco segue-se “Halo”, maravilhosamente secundada por um dos muitos filmes que passava nas costas da banda. Depois, “I Just Can’t Get Enough”, outro dos momentos altos da noite, leva o visivelmente satisfeito Gahan a puxar pelo público, deslocando-se aos extremos do palco.

Antes do final, mais dois momentos desconcertantes. “I Feel You” e “Never Let Me Down Again”, com dezenas de milhares aos saltos e braços no ar a compasso, complementariam um concerto que apenas pecou por ser “curto”. O público, ainda que cansado, mas feliz, merecia mais uns minutos de festa. Quem lá estava sabe que sim.

The Legendary Tigerman – 00h05, Palco Heineken

A sincronia desta edição do Optimus Alive é espantosa. No exato momento em que os Depeche Mode diziam adeus, Paulo Furtado entrava em cena no Palco Heineken. À semelhança do que aconteceu com os Vampire Weekend na sexta-feira, o espaço Heineken parecia pequeno para receber tanta gente.

Em género de homem dos muitos instrumentos, o talentoso Paulo Furtado ofereceu uma hora de rock and roll até à medula, abrilhantada pela presença de alguns convidados, como foi o caso de Paulo Segadães (dos desaparecidos Vicious 5), na bateria, e Filipe Costa, ex-Bunnyranch, nos teclados.

Sentado na sua especial bateria sonora, com gongos e kazoo à mistura, o nosso homem-tigre dispara “Naked Blues”, “Radio TV”, “Light Me Up Twice” ou “Them Come the Pain”, temas assentes num rock nu de esquemas e preconceitos, que enche os ouvidos de uma audiência conhecedora e apreciadora de boa música. Na especial versão de “The Saddest Thing to Say” a tela colocada atrás de Furtado, que entretanto passara filmes da autoria do próprio, apresenta a presença virtual de Lisa Kekula.

O final do muito aplaudido show chegaria com o excitante “Big Black Boat”, a mostrar toda a mestria e magia de Paulo Furtado, que tudo ou quase consegue fazer com uma guitarra naquela mão esquerda. O gongo ditou o final do concerto, mas não de um dia que só terminaria com os sons mais dançáveis e quentes de bandas como os Hercules and Love Affair e Crystal Castles. Amanhã há mais!

Texto: Carlos Eugénio Augusto e Helena Ales Pereira

Fotografia: Manuel Casanova e Marta Ribeiro

In Palco Principal

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