domingo, 14 de julho de 2013

Optimus Alive'13, dia 1
Surpresas & "the same old same"

A música, o pop folk e o pop rock, foram os protagonistas da primeira noite da edição deste ano do Optimus Alive. A par de alguns nomes mais sonantes, como os cabeça-de-cartaz Green day, tivemos a estreia de Jessie Ware, o rock (em tronco) nu dos Biffy Clyro, a energia contagiante dos Chrystal Fighters, bem como a magia de bandas como os Dead Combo ou Vampire Weekend.

Mas é pelo início que se começa.





Stereophonics – 19h00, Palco Optimus

Os Stereophonics abrem o palco principal. Uma banda que passa despercebida em Portugal, mas que, ainda assim, consegue reunir um número de entusiastas. “Catacomb”, “A ThousandTrees”, “We Share thesameSun” e “IndianSummer” são algumas das canções que passam pelo palco. A fechar, uma das mais conhecidas: “MaybeTomorrow”. Sim, talvez fique para amanhã uma outra oportunidade de agarrarem o público português. Por enquanto, vai sendo difícil.

Enquanto aguardamos que, no Palco Optimus, se façam as devidas alterações entre o concerto dos galeses Stereophonics e a atuação dos escoceses Biffy Clyro, circulamos pelo recinto do festival, observando a gente que chega, que encontra camaradas de luta sonora e explora os muitos pontos de entretenimento que assaltam o Passeio Marítimo de Algés.

Os sons surgem difusos pelo ar e o aproximar dos palcos é uma sensação confortável. Combinam-se jantares, olha-se para o (muito bom) programa do evento e fazem-se escolhas. Faltam poucos minutos para as 19h00 e o Palco Heineken é um dos destinos prováveis.

Deap Vally – 18h45, Palco Heineken

Em palco estão as pouco conhecidas Deap Vally, um duo feminino nascido na Califórnia composto por LindseyTroy (guitarra e voz) e JulieEdwards (bateria e voz), que traz consiga a tradição sonora de um rock de tendências firmes, assente na herança sonora dos anos 1970 e que, a espaços, lembra os bons tempos dos White Stripes.

Apenas com um álbum editado em 2012, as norte-americanas são de uma simpatia arrebatadora e fazem de “Sistrionix” o disco das suas vidas, sendo que o sol que resulta dos acordes da loura Troy e da bateria da ruiva Edwards encantam um público sedento de experimentar e sentir novos sons.

O concerto, como esperado, é curto, mas deixou marcas nos presentes – principalmente na ala masculina, dizemos nós – e temas como “Gonna Make My Own Money”, single de estreia da banda, ou “End of the World”, que abre o álbum e encerrou o concerto de ontem, conseguiram provocar boa impressão no público e diríamos que será muito interessante ver e ouvir estas enérgicas californianas noutro contexto.
Para já, nota positiva para o garage rock muito blusy desta despachada dupla, que sintetiza a sua música em pouco mais de três minutos de cada vez e que tem na sua entrega total, e charme, alguns dos seus pontos fortes. No fundo, é tudo rock’n’roll…

Biffy Clyro – 19h10, Palco Optimus

Deixamos para trás os sons quentes do sol da Califórnia e regressamos ao Palco Optimus para ver os Biffy Clyro, que acabam de subir ao palco com ganas e muito calor, como provam alguns dos elementos da banda (é ponto assente que apenas os verdadeiros membros da banda têm o privilégio de atuar despidos, sendo que os músicos que fazem o devido apoio em tournée têm ordens para manter o tronco coberto) que, numa posse muito rock’n’roll, exibem o tronco nu e enfeitado por uma miríade de tatuagens que as câmaras, que alimentam os ecrãs gigantes, fazem questão de destacar de quando em vez.

Contrariando o céu que se mostrava muito cinzento, Simon Neil e comparsas trouxeram luz aos presentes e deram um concerto muito competente, assente em temas como “BlackChandelier”, “Bubbles” ou “Spanish Radio”. Formados na aurora do século XXI, estes escoceses praticam um rock que varia entre tonalidades que tocam, ainda que levemente, o grunge e as tendências mais alternativas, mas que, por vezes, vão desaguar a águas mais melódicas e intimistas.

Tendo como pano de fundo o seu mais recente trabalho, “Opposites”, os Biffy Clyro souberam como estimular o público, que reagiu com vontade e deleite às provocações dos elementos.

Perante um “Let’sfucking do this!”, de Neil, aos primeiros acordes de “Stingin’ Bell”, a massa respondeu positivamente e durante os 45 minutos que durou a atuação destes britânicos muito se saltou, cantou e divertiu. A energia contagiante dos membros da banda rapidamente passou para o público, que também aplaudia com agrado o excelente português do baixista James Johnston.

Por entre músicas como “The Captain”, “Many of Horror”, “The Golden Rule” ou “Mountains”, que encerrou a suada atuação dos BiffyClyro, o líder da banda dava o seu show pessoal com as constantes trocas de guitarra entre canções, nunca deixando de puxar por um público que sabia ao que vinha, pois estes escoceses, como todo o mérito - diga-se - há muito deixaram de ser uns ilustres desconhecidos.

A banda deixou o palco com o sentimento de dever cumprido e, em forma de agradecimento, Simon Neil despediu-se envolto numa bandeira com as cores portuguesas. Fica a sensação de até já. Enquanto isso, muitos dos presentes aproveitam a pausa entre os concertos para jantar, pois ainda muito muito havia para ver e nada melhor do que o estômago cheio para aguentar esta simpática maratona musical.

AlunaGeorge – 19h45, Palco Clubbing

Uma das bandas mais aguardadas por quem procura o som e a energia da dança. Apesar de começarem ainda de dia – quando a dupla britânica de música electrónica, Aluna Francis, voz; e George Reid, produtor e teclista, pede um ambiente mais noturno –, os AlunaGeorge souberam puxar pelo público que ali se encontrava. O desfilar de canções abriu com “Just a Touch”. Ao terceiro tema, Aluna perde a, aparente, timidez, despe o casaco e dança pelo palco ao som do sucesso “You Know You Like It”. O público já se rendeu à voz «sugar sweet», quase de criança, de Aluna. Os fãs vibram e, apesar da curta carreira, uma vez que lançam agora o seu primeiro álbum, “Body Music”, há já entre o público quem os tenha visto oito vezes, como uns sevilhanos que por ali se encontram a dançar. Os chamados aficionados…

“Outlines”, “Attracting Flies”, uma jamsession, com Aluna a partilhar as teclas com George, “This Is How We Do It”, “Kaleidoscope Love” e, a fechar, “Your Dreams, Your Love” são alguns dos temas que vamos escutando. Pela entusiasmada receção, está garantida, quase de certeza, uma vinda da dupla a uma sala mais pequena. Os AlunaGeorge merecem esse ambiente mais acolhedor e seleto e o seu público também.

Two Door Cinema Club – 20h25, Palco Optimus

O indie pop dos irlandeses Two Door Cinema Club é uma lufada de frescura, depois do rock fenético dos Biffy Clyro, que apresentaram um dos concertos mais fortes da noite. De fato e gravata, Sam Halliday (voz e guitarra) e os mais descontraídos Alex Trimble (guitarra rítmica, sintetizadores) e Kevin Baird (baixo) abrem com “Sleep Alone”, que anuncia ritmo e uma pop que não se desmancha.

”Do You Want It All”, “Wake Up”, “Come Back Home” e “Sun” são alguns dos temas que vamos ouvindo. É impossível não gostar dos TDCC: a boa onda em palco, a música que põe qualquer pé a dançar e o objetivo simples de se divertirem são razões para nos fazerem esquecer que a noite arrefeceu, depois de semanas de calor intenso. “Good evening, Optimus Alive. How are you feeling? Let’s have some fun!”, pede-nos Sam Halliday. É para isso que aqui estamos, certo?

Dead Combo – 21h00, Palco Heineken

Enquanto a agitação é grande entre muitos dos presentes, porque está cada vez mais próximo o espetáculo dos Green Day, um dos nomes que mais gente trouxe a este evento, nos outros palcos a animação é muita e boa.

Com uma pontualidade britânica, como foi apanágio deste primeiro dia de Optimus Alive, é ao som das 21 badaladas e do característico chamamento dos amoladores que se dá início ao concerto dos portugueses Dead Combo, uma das bandas de maior culto por terras lusas.

Em formato aumentado, o duo Tó Trips e Pedro Gonçalves traz consigo Alexandre Frazão, que ocupa a bateria com uma mestria assinalável e que faz crescer ainda mais a música da banda. O palco «panfletário» está ornamentado com diversos sinos que assumem o papel, ainda que ficcionado, de megafones, que encontram nos conjuntos florais dispersos entre os membros da banda um curioso habitat.

O ambiente é excelente e, durante cerca de uma hora, os muitos que assistiram a mais um excelente concerto, que percorreu praticamente toda a história musical da banda de “Lusitânia Playboys” e “Lisboa Mulata”, viajaram por sonos onde o western se funde com o tango ou ritmos mais rock ou cabaret.

“Sopa de Cavalo Cansado”, “Anadamastor” e “Cachupa Man” eram interpretadas de uma forma exemplar e faziam esquecer que, do céu, caía uma chuva ligeira, fenómeno algo estranho quando o calendário mostra o mês de julho, até há poucos dias sinónimo de temperaturas acima dos 40 graus.

Se bem que o milagre da pluviosidade ajudava a compor a tenda que acolhe o palco Heineken, é justo que se diga que muitos dos que se resguardavam a cabeça e alma da chuva acabaram por ser convencidos a ficar, pois música dos Dead Combo tem o condão de provocar sentimentos de fidelização espontânea.

Estava-se, de facto, bem no Palco Heineken e a melodia agarrava os presentes, que dançavam os ritmos de Trips e companhia. Os aplausos acaloravam com as composições mais conhecidas, como “A Menina Dança”, mas ainda houve espaço para a ousadia, como, por exemplo, uma excelente versão de “Temptation”, de Tom Waits, que viu a sua enigmática voz ser substituída pelo kazzo soprado por Pedro Gonçalves.

Green Day – 21h55, Palco Optimus

A abrir o espetáculo dos cabeça de cartaz da primeira noite, temos a canção dos Ramones “Blitzkrieg Bop”, a que se segue o tema musical do western spaghetty ”O Bom, o Mau e o Vilão”. A banda de punk rock norte-americana entra em palco e automaticamente os muitos milhares que ali se encontram despertam.

Esta é, por excelência, uma banda de festivais, onde estão garantidas as canções em coro com o público, e a troca entre os “huuuuus” do vocalista e guitarrista, Billie Joe Armstrong, e o público. O grito de guerra de abertura “Lisboa” abre as hostes para um espetáculo que ultrapassará as duas horas. Billie Joe corre, salta, grita, pede para refletirmos sobre o mundo à nossa volta, para nos unirmos… “This night we’re gonna dance, we’re gonna sing, we’re gonna put our hands in the air, ‘cause this night is all about us!”. Já sabemos que ele ama muito Portugal, Lisboa, que nós somos “great”.

Mas, além do divertimento, devemos ter ainda em conta a corrupção, a violência, “so much to think about”, continua Billie Joe, que remata: “this is all about love and joy”. Pelo meio das tiradas de intervenção, há canções. “99 Revolutions”, “Stay the Night”, “Stop Whe the Reds Lights Flash”, “Holiday”, “Wake Me Up When September Ends”, entre muitas, muitas, outras.

Depois de uma cover de rajada, que inclui “Shout”, “Always Look on the Bright Side of Life” e “Satisfaction”, os Green Day cantam “Minority” e despedem-se. O encore é feito com mais três canções. O público, a grande maioria com, seguramente, menos de 25 anos , está ao rubro e a banda cumpriu bem a sua função: entreter.

Edward Sharp and the Magnetic Zeros – 22h30, Palco Heineken

Passar dos Green Day para os Edward Sharp é passar de um mega centro comercial para um café de bairro, onde todos nos tratam pelo nosso nome. Aqui vive-se a música, vibra-se com a banda, deixamo-nos levar pela onda de emoções que nos tocam a pele. Com uma das melhores prestações da noite, a banda norte-americana, com dez membros em palco, consegue manter o público numa espécie de comunhão total de boa onda.

As vozes de Alex Ebert e Jade Castrinos encantam-nos e abrem com “40 day Dream”. Não serão 40 dias, mas é certamente perto de uma hora de sonho. “I’ve got all my love to send to you”, canta Jade. E isso sente-se em cada canção, em cada movimento do vocalista que, às tantas, abandona o palco e desce junto do público, que parece «beber» das suas palavras. Alex brinca com uma máquina fotográfica e entretém-se a fotografar o público e a ele próprio. Depois pega num telemóvel e fala com alguém que, do outro lado, parece não acreditar que está a falar com o vocalista de uma banda que toca no Optimus.

Aqui, não há estrelas nem protagonistas. Todos podem acabar a interpretar uma canção e esse é um dos pontos mais fortes deste concerto: a diversidade, a diferença. Ainda assim, conseguem criar uma união muito forte entre os membros da banda e entre esta e o público. O espetáculo fecha com a aguardada “Home”, que leva a uma explosão do público e a uma alegria contagiante. Um convite a lembrar que é hora de voltarmos a casa. Ficam as sensações boas para nos acompanhar.

Jessie Ware – 22h55, Clubbing

Quando chegamos da energia de Edward Sharp, já Jessie Ware teve tempo de aquecer a noite. Em boa hora, a cantora britânica resolveu não seguir Jornalismo e deixar grupos como Joke e SBTRKT, onde cantava como voz de apoio, e lançar-se a solo na aventura “Devotion” (2012). Temos uma «soul funkiesista» que, além da voz maravilhosa, tem um swing quente e uma presença forte em palco, capaz de criar um ambiente muito cool, como uma onda de descontração. Jessie traz apenas dois músicos, porque não precisa de muito mais, e ficamos com a sensação de que, se ela cantasse à capela, a noite teria tido a mesma eletricidade.

“Devotion”, a abrir, “Night Light”, “Sweet Talk” e “Swan Song” são alguns dos temas que dão ritmo a este público e a este ambiente jazzie e R&B . Uma proposta de casamento, “Jessie, I’m gay, but marry me!”, é o prólogo do tema mais aguardado da noite, “Wildest Moments”. A noite fecha com “Running” e com Jessie Ware a anunciar que não se quer ir embora: “Maybe, I’ll come back”. Vamos rezar para que sim.

Vampire Weekend – 00h00, Palco Heineken

Trazendo na bagagem o novo “Modern Vampires of the City”, os nova-iorquinos Vampire Weekend assumiam-se com um dos nomes maiores do cartaz do Optimus Alive'13 e, acreditamos, que estará para breve reservada a atuação da banda de Ezra Koening num dos palcos principais, no que toca a festivais por terras portuguesas.

Ainda assim, é sempre bom, acreditem, sentir uma maior proximidade com uma banda como os Vampire Weekend, que explora um território sonoro ímpar composto por ritmos que vão buscar influências ao new wave dos Talking Heads, aos tiques mais independentes dos melhores momentos dos Smiths, assim como assentam arraiais na genialidade trovadoresca de um Paul Simon de “Graceland”.

Transformado numa sala cosy britânica, envolta de um papel de parede kitch com um espelho que assume a forma de candelabro vitoriano, o Palco Heineken revela-se pequeno quando recebe os simpáticos Vampire Weekend em plena euforia. O concerto abre com o excitante “Cousins” e todos os presentes são invadidos, definitivamente, pelo som característico de uma banda que assenta o seu som na mestria dos diálogos entre guitarras, bateria e teclas, assim como na voz particular de Koening.

Durante mais de uma hora, os Vampire Weekend percorrem os seus três álbuns e o público dança com “White Sky”, “Cape Cod Kwassa Kwassa” ou “Diane Young”. Com o público completamente rendido, foi estender o tapete e rever a matéria dada, onde se alinharam hits (será exagero?) como “Step”, “A-Punk”, “Há-Hey”, “Oxford Comma” ou “Hanna Hunt”, esta última com dedicatória especial a um dos presentes.

O final do concerto, já com os sons de Steve Aoki no ar, vindos do Palco Optimus, seria feito com o excitante “Walcott”, uma espécie de chamamento interior que foi servido aos presentes como a tal cereja em cima de um bolo doce, especial, que se quer repetido, por favor.

Crystal Fighters – 1h45, Palco Heineken

Mais um dos bons concertos da noite. Mais de uma hora de dança e alta energia, apesar da hora tardia. Uma banda que mistura o profissionalismo britânico com a energia castelhana e que descreve o seu estilo como “rápido e apaixonado”.

Música de dança progressiva com influências do folclore basco, numa mescla de sintetizadores, baixos, cavaquinho, txalaparta (instrumento basco, uma espécie de xilofone) e percussão. Por isso, é fácil para a banda oscilar entre o pop folk, o rock ou a música de dança. E nada, aqui, parece metido a ferros. Muito pelo contrário. Todas as músicas têm uma cadência e uma ligação entre elas que parece uma corrente de água: forte, mas cristalina.

“Follow” é uma das primeiras a fazer com que, literalmente, o público salte durante mais de três minutos. Todos «seguem» a ordem: e a ordem é para ninguém parar! Apenas agora, Sebastian Pringle entra em palco: blusa de lantejoulas, saia preta, por cima de umas calças. Está dado o mote: aqui não há julgamentos, aqui diverte-se! “I Love London”, “Love Is All I Got”, e, nas palavras de Sebastian, “it’s all about You and I”, o sinal de “You And I”, uma das canções do mais recente trabalho, “Cave Rave" (2013).

E já que estamos perto da praia, vamos até à “Plage”. O público rebenta a cantar os primeiros versos da canção e Sebastian emociona-se: “Man, that’s beautiful…”.

A noite fecha com “At Home”, uma das canções em que o sintetizador de Gilbert Vierich mais se faz notar. Se houve momentos que tornaram a noite inesquecível, a interpretação desta canção foi um deles. O bem-estar envolve o público e os sorrisos parecem contaminar tudo e todos. E é nestas alturas que devemos abandonar a festa: quando o momento está perto da perfeição e as recordações vão ser as melhores.

Texto: Carlos Eugénio Augusto e Helena Ales Pereira

Fotografia: Manuel Casanova e Marta Ribeiro

In Palco Principal

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