sexta-feira, 5 de julho de 2013

“O SUPLENTE”
de RUI ZINK

Regresso ao local do crime



Dez anos depois da primeira edição, “O Suplente”, uma das obras maiores de Rui Zink, vê-se agora revisto, alterado e com novas ilustrações da responsabilidade de António Jorge Gonçalves, um dos artistas plásticos mais importantes da nossa praça. Esta edição, responsabilidade da editora Planeta, promete devolver ao grande público um dos mais importantes livros da literatura nacional dos últimos anos.

Quem já leu pode voltar a ler, quem ainda não leu tem uma oportunidade única de conhecer um livro que nasceu a partir de acontecimentos verídicos e que fala das várias perspetivas da noção de perda, do vazio que é ver um ente querido partir e sentir as mudanças que uma tragédia pode provocar – ou agudizar – na vida de cada um.

O atropelamento acidental que leva antes do tempo a vida de Tiago dá o início a uma avalancha de acontecimentos onde nada, ou ninguém, pode prever a reação que o caos pode provocar. A esperança torna-se efémera e a redenção pode estar escondida atrás de algumas perguntas, cujas respostas estão nos segredos de entidades díspares escondidas entre a bizarria do quotidiano.

Ao contrário do futebol, a vida é um “jogo” em que as substituições não são possíveis. Se dentro das quatro linhas se pode trocar o nome de uma das peças de xadrez, a existência não se compadece com alterações táticas, adaptações de jogadores ou exímios contra-ataques.

Numa das muitas fases especiais deste livro, Zink escreve: «O insuportável vem depois. Quando passou o choque mas ainda não passou o choque. Quando o relógio não pára. Quando a dor já nem dói, porque dói tanto que já estamos anestesiados, como droga que já não bate porque o corpo se fechou em copas. Então, quando já não há dor, ou quando ainda não há dor, é que tudo se torna estranho.»

É por entre linhas “tortas” como estas que se escreve uma das estórias mais direitas que a literatura portuguesa já conheceu, e “O Suplente” tem o condão de reunir todos os sentimentos dentro de um romance que percorre a tristeza e a desesperança através de um caminho que se serve da acutilância, particular humor e genialidade da escrita de Rui Zink para tornar as nossas vidas mais ricas, mais cheias.

In Rua de Baixo

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