terça-feira, 18 de junho de 2013

THE BREEDERS
“LSXX”

Big Deal!



Vinte anos. Passaram duas décadas. As músicas ficaram, para sempre. Os Pixies morriam, as Throwing Muses extinguiam-se, os Belly não aqueceram o lugar. O que havia em comum nestas bandas? Um selo, a 4AD, e uma deliciosa ambiência (dream)pop, rock, trash, surf, noise.

Projecto de Kim Deal (baixista dos seminais Pixies), as Breeders tocaram o seu primeiro concerto no longínquo ano de 1992 e tinham como elementos convidados Josephine Wiggs e Jim Macpherson. Sem grandes ensaios, dois dias depois, faziam a primeira parte dos Nirvana por terras de Belfast para mais tarde integrarem o cartaz do Festival Glastonbury. O comboio arrancava a todo o vapor.

Antes, na aurora dos anos 1990, nos intervalos da digressão europeia de “Surfer Rosa” que juntou os Pixies e as Throwing Muses, Kim Deal e a guitarrista Tanya Donelly viam com bons olhos a existência de projectos paralelos às suas bandas de eleição e começaram a investir numa ideia nova e, aos poucos, surgiu “Pod” o primeiro disco das Breeders. Steve Albini, que já tinha colaborado com a banda de Deal e Black Francis, deu uma ajudinha e, apesar do insucesso comercial do álbum, a crítica não o ignorou. Quem estava deliciado com o disco era Kurt Cobain que realçava as qualidades de Deal na escrita de canções

Entretanto, os Pixies lançariam “Bossanova” e “Trompe Le Monde” entre 1990 e 1991 mas sentia-se que a banda estava a perder algum fulgor. Sem ser segredo, Black Francis queria fazer coisas novas, arriscar em algo a solo. Apostada em não ficar de braços cruzados, Kim Deal convidava amigos e partia para estúdio. Dessas sessões sairia “Safari EP”.

Já com a sua irmã Kelley na banda, Jim Macpherson na bateria e a multi-instrumentalista Josephine Wiggs, as novas Breeders entravam em estúdio em Janeiro de 1993 e seis meses mais tarde “Last Splash” via a luz do dia. O disco soa(va) bastante experimental, cru, directo e honesto e chega hoje, vinte anos depois, com um sabor de autenticidade que não se perdeu ao longo da sua existência.

As 15 faixas do disco fazem jus a um espírito muito especial e as influências misturavam-se entre si com toda a naturalidade. Se «New Year», a faixa inaugural de “Last Splash”, combina riffs que se prolongam entre feedbacks cheios de ganas e mudanças de ritmo alucinantes, «Mad Lucas» assemelha-se a uma valsa dolente e «I Just Wanna Get Along» é um exemplo de puro rock com tiradas geniais como: “if you’re so special, why aren’t you dead?”.

No fundo, “Last Splash”, e sendo honestos, não diferia muito da globalidade da música dos Pixies mas podemos afastar definitivamente a ideia errónea de que a banda de «Here Comes Your Man» era apenas fruto do trabalho e entrega do seu líder e vocalista. Kim Deal reclama com as Breeders a responsabilidade de ter feito nascer um nicho especial dentro do veio alternativo nos anos 1990.

Muitas das faixas de “Last Splash”, e “Pod”, mantinham o ADN das composições dos Pixies e raramente excediam os três minutos onde o perfil lo-fi e os geniais e simples tiques musicais tornavam canções como «Cannonball» ou «Divine Hammer» verdadeiros hinos.

De regresso ao presente, “LSXX” soa fresco, envolvente, simples e maravilhosamente genial como só as obras feitas com o coração podem ser. E como que em forma de prenda, a 4AD decidiu voltar a editar “Last Splash”, sem remasterizações e afins, mantendo a gravação original mas juntando muitas e boas surpresas e no total temos mais de 40 momentos para acrescentar ao espólio das Breeders.

Com o primeiro disco completamente dedicado ao estúdio, o segundo tomo deste “LSXX” inclui demos, faixas raras e os EP que a banda editou à época. Entre algumas maravilhas temos a oportunidade de ouvir as demos de «Grunggae» e «New Year», que apenas foram alvo de edição como bónus da edição sete polegadas de “Last Splash”. Ao ouvir as demos sente-se que a cumplicidade da banda era superior a qualquer toque de Midas resultante de produção externa. A beleza inata de «Sad About Us», «I Can’t Help It…» ou «Cro-Aloha» faz suspirar por mais.

O terceiro disco revela o ambiente de um concerto das Breeders e “The Stockholm Syndrome” foi gravado ao vivo na capital sueca para a BBC. A energia que Deal e comparsas libertavam ao vivo, e que Portugal já pôde confirmar um par de vezes, desenvolvia-se num som mais rebelde do que o estúdio fazia prever. O público delirava e, por vezes, era necessário mandar acalmar a audiência, tal como é sugerido no início de «Happiness is a Warm Gun», para depois deixar as pessoas explodirem com hits como «Cannonball».

Este apanhado de canções serve, acima de tudo, para lembrar que as grandes bandas e os maravilhosos discos não são fruto do acaso e carecem de uma genialidade que o tempo não apaga.

“LSXX” não é apenas uma peça nostálgica, é um disco para ser ouvido por todos. Não importa se temos 20, 30 ou 40 anos, aquilo que urge reconhecer é que este lançamento tem o condão de fazer recordar, ou apresentar, um disco fantástico. Aloha!

In Rua de Baixo

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