segunda-feira, 3 de junho de 2013

30 Seconds to Mars
“Love Lust Faith + Dreams”

Uma bonita mentira



Depois do enorme sucesso crescente dos álbuns anteriores esperava-se com alguma ansiedade o novo disco dos 30 Seconds to Mars. Se o disco homónimo lançado em 2002 trazia ao universo rock um quarteto surpresa liderado pelo ator/rocker Jared Leto, “A Beautiful Lie de 2005 e principalmente “This is War”, trabalho que viu a luz do dia em 2009, catapultaram, merecidamente, a banda de Los Angeles para a ribalta.

A par de uma música forte, melódica e muito “orelhuda”, os 30 Seconds to Mars consolidaram a sua presença apostando forte na componente visual, tanto dos seus elementos, com Leto sempre em maior destaque, mas acima de tudo com os vídeos das suas composições.

Para isso Jared Leto utilizou da melhor forma possível a sua experiência de Hollywood e dirigiu grande parte dos “telediscos” da banda que adotaram um estilo cinematográfico de exceção como o são, por exemplo, “Kings and Queens” ou “From Yesterday”.

As primeiras referências a este “Love…” surgiram no primeiro trimestre de 2012, altura em que a banda entrou em estúdio para começar a elaborar o seu quarto álbum de originais. Na produção, a banda contou com a preciosa ajuda de Steve Lillywhite, homem responsável por alguns dos sucessos de grupos como os U2 ou The Killers.

A banda estava, segundo Leto, apostada a fazer o seu melhor trabalho de sempre e para isso os quatro elementos do grupo desbastaram entre mais de 70 (!) rascunhos em forma de canção. Para procurar mais inspiração, Leto fez mesmo uma viagem à Índia.

Quase um ano da entrada em estúdio, em fevereiro último, a banda apresentava, via Twitter, o primeiro single deste novo trabalho. “Up in the Air” teve mesmo honras de ser alvo de uma ação inédita por parte da NASA que tocou o single pela primeira vez a bordo da Estação Espacial Internacional. Não se tratou de um pequeno passo para a humanidade mas, mais uma vez, os 30 Seconds to Mars provavam uma mestria invulgar no que toca à promoção do seu trabalho.

No que toca ao disco propriamente dito, e quando se esperava um universo sonoro nascido da sequência dos (bons) dois discos anteriores, eis que os 30 Seconds to Mars resolve mudar, transformar a sua música. O sentimento épico manteve-se, a áurea continua grandiosa, mas as guitarras perderam força e os sintetizadores são hoje os grandes responsáveis pelo sentimento operático de “Love…”.

Estamos perante um disco conceptual que se encontra dividido de acordo com a terminologia do seu batismo. O amor, a luxúria, a fé e o sonho são anunciados por uma (já) conhecida voz feminina. O melodrama anuncia-se ao virar de cada esquina sonora e a energia espalha-se a cada acorde mas, decididamente, Leto e comparsas abandonaram as experiências metálicas de inspiração sci-fi e post-hardcore dos primeiros dois registos.

E como tudo começa com o nascimento. “Birth”, surge por entre épicas trompas e anuncia o regresso dos 30 Seconds to Mars ao mundo dos discos. Logo neste início sente-se que o som da banda está diferente, não necessariamente melhor ou pior, apenas com outras coordenadas.

A capacidade que os irmãos Leto e Millcévic têm em fazer canções com um ADN radio friendly encontram os expoentes máximos em “Love…” logo a seguir a “Birth” e não é à toa que “Conquistador” e “Up in the Air” são os primeiros singles deste quatro trabalho de originais da banda. Ambas as canções são fortes, diretas e honestas com um forte riff e cativantes (ainda que por vezes repetitivos) coros que são uma das mais fortes imagens de marca da banda. No caso particular de “Up in the Air”, estamos perante uma composição bastante melódica com algumas mudanças rítmicas que dão dinamismo à canção.

Sem dúvida que “Love…” começa de uma forma que coloca água na boca dos fãs da banda mas, curiosamente, ou não, essa energia vai perdendo o fulgor e intensidade (não confundir com potência sonora) à medida que o disco avança.

Ainda assim não será por composições como a lenta e aconchegante “City of Angels” que se sente a falta de alguma garra neste disco. Já em outras ocasiões os 30 Seconds to Mars se refugiam em baladas “perfeitas” à imagem dos Goo Goo Dolls e o resultado é, por regra, satisfatório. O sentimento de perda momentânea da razão e a procura no conforto de estranhos dá o mote a esta canção que, por certo, será responsável por cascatas de suspiros alicerçados pelo sentimento épico da voz de especial veludo de Leto. Também “End of All Days” e “Bright Lights” se enquadram nesse sentimento e o lamento em forma de grito sintético é aqui ainda mais evidente.

Uma das faixas que mais reclama a presença das guitarras é “The Race”, mais um episódio épico que peca pela repetição de fórmulas antigas e que se baseia num crescente emocional que termina, invariavelmente, num coro que se pretende como clímax.

As dúvidas mais prementes são “Convergence”, e “Northern Lights”, temas algo perdidos dentro do contexto deste “Love…” mas que ainda assim merecem o benefício da dúvida. Mas, felizmente, existem momentos de elevado nível de inspiração como o são os casos do quase-instrumental “Pires of Varansi” que reflete a já referida passagem de Leto por terras da Índia e que a potência dos sintetizadores aqui fornece um corpo especial à composição.

Também “Do or Die” entusiasma pela honestidade e entrega que simboliza. O ritmo é altamente contagiante (olá synth-rock!) e apostamos ser impossível resistir a estes 240 segundos de pulsações e vibrações positivas. Difícil esquecer este inspirado momento que nem os já habituais e por vezes cansativos who-oh-oh’s retiram brilhantismo. Inspirada é também “Depuis le Debut”, canção que começa num registo acústico mas que rapidamente é tomada por ecos operáticos onde os sintetizadores, mais uma vez, reclama espaço e ganham facilmente essa luta. A caixinha de música que encerra esta demanda apela ao sentimento naife que os 30 Seconds to Mars não deviam perder.

Por aquilo que a banda havia feito anteriormente esperava-se mais deste disco, mais audácia, mais coerência, mais sentido. No entanto, “Love…” é um documento sonoro interessante que vai criar ondas de entusiasmo junto dos seus mais acérrimos fãs mas que não parece gerar consensos, se é que isso existe nestas coisas do rock.

É certo que as poderosas incursões por territórios mais sintéticos conferem dinamismo ao disco e que a opção de deixar de lado as guitarras levanta alguma “polémica” mas, por vezes, é necessário arriscar, explorar novos mundos e, se necessário aprender com os erros.

Aos 30 Seconds to Mars exige-se mais. Ao longo de mais de uma década a banda provou ser um dos coletivos mais excitantes do panorama rock atual e os seus concertos são a prova dessa energia e competência. Os nossos sentidos querem voltar a sentir o amor, a devorar a luxúria, a ter fé nesta música e a sonhar com outros voos que não tem necessariamente de ser espaciais. Vamos ter…esperança.

Nota também para a edição de um DVD na versão deluxe deste novo trabalho dos 30 Seconds to Mars. Neste interessante registo vídeo podemos contar com dois documentários sobre a passagem da banda pelo Médio Oriente e França e ainda o registo do concerto número 300 da história do grupo.

Alinhamento:
01.Birth
02. Conquistador
03. Up In the Air
04. City of Angels
05. The Race
06. End of All Days
07. Pires of Varanasi
08. Bright Lights
09. Do or Die
10. Convergence
11. Northern Lights
12. Depuis le Debut

Classificação do Palco: 6,5/10

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