quarta-feira, 22 de maio de 2013

Vampire Weekend
“Modern Vampires of the City”

À terceira foi de vez



O terceiro verso da segunda faixa de “Modern Vampires of the City”, terceiro longa-duração dos nova-iorquinos Vampire Weekend, leva Ezra Koenig a cantar: “I’m not excited but should i be / Is this the fade that half of the world has planned for me?”.

A pergunta pode ser mera retórica, um desabafo, um desvario momentâneo, mas a resposta parece-nos óbvia, depois de ouvirmos o muito aguardado sucessor de “Contra”. Ao longo da dúzia de canções gravadas entre Los Angeles e a Califórnia que compõem “Modern Vampires of the City”, a genialidade do quarteto composto por Koenig, Batmanglij, Tomson e Baio anda à solta, e este disco que, segundo o vocalista da banda, encerra a trilogia, é, dizemos nós, o seu melhor trabalho até à data.

Em termos de promoção do álbum, os Vampire Weekend lançaram não um, mas dois singles, pois, segundo a banda, uma única música nunca consegue transpor o todo conceptual de um disco. Assim, de uma assentada, o mundo ficou a conhecer “Diane Young” e Unbelivers”, duas faces de uma mesma moeda musical.

Com dois discos bem-sucedidos e já sem a mesma pressão de outros tempos, Ezra e companhia optaram por fazer um disco diferente dos anteriores. Ainda que os laivos das cordas de Paul Simon continuem a assombrar da melhor maneira todo o disco, os Vampire Weekend abandonaram o registo mais “africano” e adoptaram uma alma mais “americana”. Estrelas cintilantes de uma indie-pop que prima pela frescura do seu som, os quatro rapazes de Nova Iorque ousaram abrir horizontes e - espante-se! - trouxeram pianos e alguma dolência para o seu universo. O álbum soa, assim, mais coeso, maduro e, por que não dizê-lo, coerente. Sem dúvida que os Vampire Weekned cresceram.

Essa “nova” sonoridade começa logo a delinear-se na primeira faixa do disco. “Obvious Bicycle”, que chegou mesmo para ser o título do terceiro longa-duração da banda: é uma música lenta, preguiçosa e muito longe dos ambientes dos outros dois discos da banda. Ao ouvir-se esta “balada” delineada com pianos e coros assombrados, pensamos se não estamos perante um sinal, uma amostra de uma banda que, depois de se consolidar, pretende um novo respirar. Esta lindíssima música assenta a sua base num piano apaixonado e num baixo dolente e afasta para longe, ainda que não definitivamente, a bateria de raiz tribal de Tomson ou as cordas mais agressivas de Koenig. A melodia flui como uma brisa suave e as vozes permitem uma constante e rica mudança rítmica. Tranquila, “Obvious Bycicle” funcionaria bem até como final de disco, mas no seu início permite dar ao ouvinte a sensação e o privilégio de sentir as diferenças que os Vampire Weekend querem fazer sentir na sua composição.

Os momentos repletos de algum classicismo estendem-se ao longo de todo o álbum e “Step”, por exemplo, revela mais um capítulo de toada baladeira a “Modern Vampires of the City”. O piano revela uma clara influência de Handel e o labirinto sonoro da faixa encaixa que nem uma luva na poesia que a mesma irradia: “Wisdom’s a gift, but you’d trade it for youth, age is an honour, it’s still not the truth”.

Ainda onde a velocidade dá lugar a uma bonita contenção, “Don’t Lie” ou “Hannah Hunt” procuram trabalhar e explorar instrumentos como o piano, e os conhecidos riffs da guitarra de Koenig são deixados de lado, para aqui darem lugar a registos mais acústicos. O som dos Vampire Weekend ganhou uma capa camaleónica desconhecida até aqui e a instrumentalização que daí resulta confere à banda novas camadas de talento, mantendo as canções num padrão de qualidade elevadíssimo.

Outra das bonitas canções deste trabalho, e talvez a mais ligada ao universo do já referido companheiro de estrada de Garfunkel, é “Evarlasting Arms”, um maravilhoso exercício que combina o som de violinos com uma bateria pujante e um “africanismo”, aqui sim, na dose certa. A guitarra dá um arzinho e o baixo diz presente. Não sabemos se os Vampire Weekend procuram o santo graal da música “perfeita”, mas estão, acreditem, perto.

Apesar deste discurso mais contemplativo, a energia dos Vampire Weekend não desapareceu por magia. “Diane Young”, por exemplo, tem tudo, mas mesmo tudo para arrebatar ouvidos, corpo e alma a todos. Com um delicioso sabor “rockabilly” à lá Devo, eis uma das composições mais orelhudas de um disco irrepreensível e sedutor.

“Finger Back” é outro exemplo mais alegre de “Modern Vampires of the City” e, por entre falsetes, um órgão sorridente, uma bateria alegre e um baixo acutilante, sentimos pedaços rítmicos de uns Ramones. O final da faixa assume-se como uma espécie de caldeirão sonoro encantado e descomplexado. Os Vampire Weekend misturam influências, sons, ideias e o resultado é brilhante.

Outra das pérolas maiores desta coleção de canções é “Worphip You”, cerca de três minutos que começam com apresado discurso verbal que nos leva a um rufar de tambor fantástico, que cresce aquando do maravilhoso refrão: “We worshipped you / Your red right hand / Won’t we see you again? / In foreign soil, in foreign land / Who will guide us trought the end?”.

Também “Ya Hey” (nos) acerta na mouche e mistura tiques pop, rock, gospel e um piano saído do imaginário de Bach. O sol brilha na música dos Vampire Weekend e, contradizendo a letra de “Ya Hey”, ousamos dizer que todos nós os amamos, todos nós gostamos da sua música, todos nós desejamos que chegue o dia 12 de julho. Adivinham a razão?

Ao longo dos cerca de 45 minutos de “Modern Vampires of the City” fala-se de tempo, da vida, da morte, religião, Nova Iorque, de tudo e de nada. Ao longo das 12 músicas deste maravilhoso disco nada é supérfluo, nada é colocado ao acaso, tudo tem uma lógica. Existe um impressionismo latente que refuta qualquer sentido de especificidade. A música fez-se para entreter, para dar sentido à vida, para quebrar fronteiras e ultrapassar medos e dúvidas.

Com este disco os norte-americanos Vampire Weekend dão um passo em frente na sua já conceituada, ainda que curta, carreira, e fica a certeza de estarmos perante um dos projetos mais dinâmicos, imaginativos e inventivos de uma nova vaga de músicos que afasta o comodismo sonoro com competência. Ouçamos “Modern Vampires of the City” e aguardemos ansiosamente que cheguem até nós. E por favor, venham rápido.

Alinhamento:
01.Obvious Bycicle
02.Unbelivers
03.Step
04.Diane Young
05.Don’t Lie
06.Hannah Hunt
07.Everlating Arms
08.Finger Back
09.Worphip You
10.Ya Hey
11.Hudson
12.Young Lion

Classificação do palco: 9/10

In Palco Principal

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