quarta-feira, 29 de maio de 2013

“UM RAPAZ A ARDER”
de EDUARDO PITTA

Linhas efervescentes de uma memória singular




Com cerca de duas dezenas de obras já publicadas, Eduardo Pitta é poeta, ensaísta, crítico, cronista e, acima de tudo, um dos mais talentosos autores da nossa praça.

Nascido em Lourenço Marques, atual Maputo, em Moçambique no ano 1949, Pitta lança agora “Um Rapaz a Arder” (Quetzal, 2013), um livro de memórias que percorre a experiência mundana do autor entre 8 de novembro de 1975 – data que marca a sua chegada a Lisboa e a independência do país que o viu nascer – e o malfadado 11 de Setembro de 2001, aqui descrito como “o dia que mudou a vida de toda a gente”.

Dono de uma escrita escorreita, dinâmica e muito assertiva, Eduardo Pitta faz um relato mordaz e muito pessoal de uma parte da sua vida e, sem tabus, receios e afins, conta um pouco da história recente dos dois países que são responsáveis pela sua educação enquanto pessoa, Homem e autor.

Se a descolonização e o consequente retorno a Portugal marcaram definitivamente a vida de milhares de pessoas durante a década de 1970, esse período da história é o ponto de partida para este “Um Rapaz a Arder”. Ao longo de mais de duas centenas de páginas, Pitta conta parte da sua vida assim como episódios de um Portugal em crescimento e convulsão consigo próprio, nomeadamente em períodos complicados como o foram a integração europeia e os novos valores e perspetivas que daí resultaram, fazendo também uma análise da história literária (e cultural) do Portugal do final do século XX.

Ainda que se possa apontar o género biográfico – exercício raro no panorama literário nacional – às palavras escritas de Eduardo Pitta, este livro, quebrando com distinção o político e socialmente “correto”, aponta com emoção capítulos da vida de um homem que sempre afastou de si o pessimismo, abraçando, com distinção, anos de luta contra um sistema que nunca conseguiu abafar a genialidade de alguém ancorado na beleza das suas palavras que, por vezes, são sinónimo de revelação.

Mas não só de palavras vive este livro. Nas páginas centrais Eduardo Pitta escolheu uma série de imagens que retratam o já revelado período cronológica desta obra e onde amigos, familiares e paixões dão a cara e cor, para que este seja um livro completo em si mesmo, uma obra de ontem, hoje e amanhã.
Tal como o nome indica, este livro mostra um rapaz a arder, um Homem que nunca se conformou com a normalidade de uma vida na expectativa, uma pessoa que sempre viu, assumiu e viveu a sua existência de uma forma apaixonada.

Mais do que um conjunto de memórias, que quebram a barreira do particular, “Um Rapaz a Arder” desvenda duas décadas e meia de um calendário muito particular, através de pequenas história e relatos e servindo-se de um discurso provocatório que, por vezes, não poupa nomes incontornáveis da nossa cultura ou opta pelo seu “esquecimento” mas que, acima de tudo, serve para condimentar ainda mais o relato.

In Rua de Baixo

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