segunda-feira, 27 de maio de 2013

The National
“Trouble Will Find Me”

Dentro do Casulo



Com data marcada para nova visita a território português no dia 21 de novembro, na Meo Arena, os The National acabam de lançar “Trouble Will Find Me”, sexto álbum de originais da banda norte-americana que corta com os ambientes mais rock dos últimos e muito bem-sucedidos “Boxer” e High Violet”.

A emoção e a melancolia continuam a povoar a música dos The National mas a mensagem é passada de uma forma mais tranquila, mais pensada e, sem sombra de dúvidas, mais madura e segura de si. A produção esteve a cargo dos irmãos Dessner e, para abrilhantar ainda mais este novo trabalho, a banda convidou nomes como St. Vicent, Sufjan Stevens, Doveman ou Sharon Van Etten.

Aquando do lançamento de “The National”, em 2001, a banda contou com um sucesso (quase) imediato e desde logo ganhou um fiel e exigente grupo de entusiastas. Os sons mais soturnos faziam os The National estar a par de gente como, por exemplo, os Interpool, herdeiros de um legado que tinha os Joy Division como mentores.

Aos poucos, os The National foram afastando-se de um som marcadamente inspirado pelas ideias de Ian Curtis e comparsas e, quando, em 2005, colocaram na rua “Alligator”, a banda do cativante Matt Beringer e das duplas fraternas Dessner e Devendorf tinha em músicas como “Abel” ou “Mr November” indicadores precisos de uma identidade própria, de alguém que tinha no pop-rock alternativo a razão da sua existência sonora.

Os já referidos “Boxer” (2007) e “High Violet” (2010) continuaram a traçar o caminho do sucesso mas, subitamente, ou talvez não, os The National decidem uma abordagem significativamente diferente com este novo registo de 2013. “Trouble Will Find Me” não é um disco imediato como os anteriores trabalhos da banda - requer algum tempo para ser interiorizado, para ser compreendido e amado.

As canções continuam carregadas de melodia, foram cozinhadas com as doses certas de bateria e assentam, mais uma vez, nas linhas de guitarra, para darem corpo ao formato canção. A voz de Berninger mantém toda a sua profundidade, mas ganhou intensidade nos silêncios que se desenham a cada faixa deste “Trouble Will Find Me".

Estamos perante uma amálgama de pedaços líricos delineados com uma calma e solenidade desarmantes. Qualquer um dos membros dos The National sabe o que e quando fazer. Para este quinteto, tocar a iniciática e errante “I Should Live in Salt” ou colocar a parafernália técnica de Sufjan Stevens na lindíssima “I Need My Girl” são duas faces de uma mesma moeda, dois exercícios que se completam entre si, mantendo a química e beleza.

Tal como qualquer criador conhece os pormenores mais íntimos da sua obra, os The National mostram, orgulhosos, os segredos deste seu mais recente disco em forma de revelação, exorcizando fantasmas e demónios, umas vezes de forma mais agressiva, outras em formato crescente. O resultado é excelente e o somatório das equações sonoras de “Trouble Will Find Me” reflete um grupo que melhorou com a idade e experiência.

Outra das características mais fortes deste álbum é a sensação familiar e confortavelmente bipolar que advém da sua audição. A faixa de abertura, por exemplo, surgiria mais “logicamente” no coração do disco, mas as suas pausas dramáticas convocadas pelas vozes etéreas que povoam o mesmo conseguem reclamar para si o ónus de um qualquer início de aventura.

Logo a seguir, “Demons” desenha uma aproximação melódica que convoca guitarras, piano e a ode depressiva que deriva da voz de Berninger. O resultado é uma canção que abraça alguém que se resigna à presença dos seus fantasmas e que é, sem dúvida, uma das faixas mais bonitas e bem conseguidas de “Trouble Will Find Me”.

A simplicidade é outra das armas utilizadas com mestria pelos The National. “Slipped” surge como uma catarata de nostalgia, com a voz de Berninger a revelar uma doçura desesperada enquanto o piano pulsa o ambiente de forma tranquila. Eis um dos momentos mais intimistas de “Trouble Will Find Me”, que puxa por uma bonita fragilidade em que não se estranham frases como: ”I don’t need any help to be breakable, believe me”.

A emoção é algo inato à música do quinteto de Cincinnati e “This Is The Last Time” oferece minutos de uma catarse induzida e revestida de forma crua através de uma melodia cativante e em espiral. O baixo dá um ar da sua graça e, à medida que nos aproximamos do final destes quatro minutos e 32 segundos, as cordas, em vários formatos e versões, seguram as vozes cadentes até a um culminar hipnótico.

Apesar das novas abordagens musicais, continuam a existir traços que remetem, felizmente, a um passado recente na discografia da banda. “Dont Swall By Cap”, uma das faixas mais imediatas e orelhudas do álbum, remete quase instintivamente para “Mr. November”, mas, aos poucos, vai ganhando um espaço próprio, que combina interessantes arranjos de cordas embelezados com a distorção provocada pelas batidas de Bryan Davendorf.

No fundo, cada elemento da banda dá o seu precioso contributo e o todo resulta na perfeição. Para além do já referido contributo de Bryan, os irmãos Dessner tocam de uma forma delicada e íntima. Matt canta com uma humildade a qualquer prova e canções como “Sea of Love”, Graceless” e “Humiliation" seguem caminhos similares, apesar de existirem com traços, tiques e dimensões díspares.

Também a poesia das canções de “Trouble Will Find Me” denota uma evolução da própria banda. O absurdo toca na perfeição a energia das canções enquanto objeto ensimesmado e a atmosfera daí resultante brilha sem mácula. Fã incondicional de John Cheever, Matt Berninger cria personagens com a sua voz e em canções como “Demons”, “Sea of Love” e “Slipped” o seu humano cantado assume várias personalidades assentes nas idiossincrasias mundanas. A insatisfação natural do (des)amor, a falência do ser humano e o caráter finito das relações podem encarnar nas composições dos The National.

Depois de ouvirmos este “Trouble Will Find Me”, sentimos que estamos perante um trabalho maduro, honesto e que (pode) aponta(r) novos caminhos musicais para os autores de “High Violet”. Segundo os The National, este disco é, aparentemente, o álbum mais coeso da sua carreira e um regresso ao casulo, a uma crisálida revestida com emoções fortes, muito romantismo e à falência inerente da condição humana.

Se se esperava a continuação encorpada e mais rock de “High Violet”, essas expectativas caem por terra. Estas 13 marcantes canções, resultado criativo de uma cumplicidade marcante entre os cinco elementos da banda, apontam outras direções e são o sumo de mais de uma década de experiência.

“Trouble Will Find Me” é um disco notável que merece ser conhecido, explorado pouco a pouco, sem pressas ou grandes alaridos. Em novembro, cá estaremos para ver como resulta esta nova experiência em palco e, até lá, vamos embalando com a cadência especial desta coleção de canções.

Alinhamento:
01.I Should Live In Salt
02.Demons
03.Don’t Swallow The Cap
04.Fireproof
05.Sea of Love
06.Heavenfaced
07.This is The Last Time
08.Graceless
09.Slipped
10.I Need My Girl
11.Humiliation
12.Pink Rabbits
13.Hard to Find

Classificação do Palco: 8/10

In Palco Principal

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