quarta-feira, 29 de maio de 2013

The Greaty Gatsby BSO

Os anos loucos de Fitzgerald



Conhecido pelas grandes produções à moda de Hollywood, o realizador Baz Luhrmann aposta muito nas bandas sonoras dos seus filmes. “Romeu e Julieta”, também com DiCaprio, e “Moulin Rouge” foram, talvez, os seus maiores sucessos no que à conjugação entre a música e imagem diz respeito e, em ambos os casos, Luhrmann reuniu uma mescla de talentos e géneros que, de uma forma ou de outra, acabaram por seduzir os melómanos.

Uma das principais características das músicas que coabitam e dão força aos já referidos exemplos cinematográficos do realizador australiano é a mistura, propositada ou não, do pop/rock com as balizas mais alternativas.

Se em “Romeu e Julieta” as cenas eram abrilhantadas com composições de gente como os Radiohead, Garbage ou Des’ree, “Moulin Rouge” contou com as prestações de Rufus Wainright, David Bowie, Christina Aguilera, Lil’Kim, Pink, entre outros.

Em “The Great Gatsby” a fórmula mantém-se, apesar de registar alguns momentos mais bem conseguidos que outros. Com coprodução de Jay-Z, a coleção de canções que compõem a banda sonora do filme reúne os talentos de Lana Del Rey, do próprio Jay-Z, The XX, SIA, Florence e Bryan Ferry, aqui acompanhado pela orquestra homónima.

Sendo que a atmosfera do filme nos remete para os loucos anos 1920, os ambientes jazzy estão omnipresentes e essa energia está patente nos momentos mais agitados do filme e da respetiva banda sonora.

Melómano por excelência, Luhrmann quis dar nova alma ao romance de F. Scott Fitzgerald. Segundo o realizador, "nos nossos tempos, a energia do jazz encontra na figura do hip-hop um seu semelhante”. Se existiam dúvidas quanto à escolha do produtor, eis que a mesma assim fica desfeita.

Jay-Z captou a essência da vivência que os anos 1920 representam e conseguiu colocar esse sentimento na música deste disco, ainda que ancorada na contemporaneidade urbana de hoje. Logo na primeira faixa, “100 Dollar Bill”, Z dá ao espetador, e ouvinte, a visão do cérebro de Jay Gatsby através de um som upbeat que faz a ponte entre os quase cem anos que diferem entre a ação do filme e a realidade de hoje. Essa reinterpretação da “história” é também feita com muita competência em “Love is A Drug”, com Bryan Ferry a trocar as voltas a si mesmo.

Ao longo do disco, os estilos variam e o já referido hip-hop convive sem qualquer problema de consciência com tonalidades mais alternativas, o que confere ao todo musical um sabor agridoce, que reflete, no fundo, a própria vida.

Entre as melhores faixas deste disco está a lindíssima “Young and Beautiful”, que conta com a inspirada voz de Lana Del Rey e que retrata a essência da própria história de Fitzgerald. “Over the Love”, de Florence and the Machine, é outro dos momentos mais inspirados desta banda sonora que tem também em “Together”, dos The XX, outro episódio intimista de grande beleza. Outro momento bonito é a interpretação de SIA em “Kill and Run”, num estilo a fazer lembrar uma balada à la James Bond.

Para além de temas originais, podemos também contar com algumas versões. Se Beyoncé e Andre 3000 se atiram a “Back to Black”, de Amy Winehouse, de forma lânguida, Emeli Sandé, na companhia da Bryan Ferry Orchestra, dá cor e energia a “Crazy in Love”, de… Beyoncé. No entanto, a versão que mais garra apresenta é a interpretação blusy de Jack White de “Love Is Blindness”, original dos U2.

Apesar de, no geral, estarmos perante um álbum interessante, existem alguns momentos menos bem conseguidos. “Hearts a Mess”, de Gotye, torna-se redundante face aos longos seis minutos de duração que retiram algum dinamismo e alma à banda sonora em si, e “Into the Night”, de Nero, que se revela demasiado pastiche.

Somadas todas as partes, estamos perante um trabalho competente que confere uma interpretação refrescante a uma história revestida por um classicismo intrínseco ao próprio enredo. Ainda que as referências jazz possam constituir uma barreira aos que menos apreciam ou conhecem o género, Luhrmann e Jay-Z conseguem traduzir as suas ideias de forma a captar a essência do espírito dos anos 1920, oferendo uma nova perspetiva dos mesmos, algo que nem todos se podem orgulhar.

Alinhamento:
01.100 Dollar Bill
02.Back to Black
03.Bang Bang
04.Little Party Never Killer Nobody (All We Got)
05.Young and Beautiful
06.Love is the Drug
07.Over the Love
08.Where the Wind Blows
09.Crazy in Love
10.Together
11.Hearts a Mess
12.Love is Blindness
13.Into the Past
14.Kill and Run

Classificação do Palco: 7/10

In Palco Principal

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