terça-feira, 7 de maio de 2013

Phoenix
“Bankrupt”

Pop com sabor frutado



Nascidos de cepas semelhantes aos compatriotas Daft Punk ou Air e com o sangue francês a correr por umas veias que têm nos ritmos mais dançáveis de cariz indie as suas raízes, os Phoenix apresenta-nos “Bankrupt”, o muito ansiado sucessor do reputadíssimo “Wolfgang Amadeus Phoenix”.

Passados sensivelmente quatro anos depois desse último lançamento discográfico, o quarteto de Versalhes composto por Thomas Mars, Deck d’Arcy, Laurent Brancowitz e Christian Mazzalai apresenta-se em grande forma e pronto para arrebatar os ouvidos dos seus seguidores.

Sem qualquer tipo de condicionalismo face ao sucesso do já referido disco de 2009 e depois de encabeçarem festivais internacionais como o de Coachella ou Lollapalooza, os Phoenix tiverem o mérito de construir mais um excelente álbum de canções repletas de simplicidade, diretas e competentes, mantendo o ADN da banda.

O sucesso não deixou grandes marcas nestes quatro rapazes franceses e “Bankrupt” é o resultado de um trabalho acima de qualquer suspeita. Neste disco não há nenhuma tentativa de criar hinos de estádio, existindo, sim, grandes canções pop, temas que nos vão acompanhar nestes dias de calor que se aproximam a passos largos. O verão vai ser um pouco mais brilhante com um disco assim.

Sim, é certo que Mars casou com Sofia Coppola e a banda cresceu também por isso no que toca à expressão mediática, mas o equilíbrio e a distância que os Phoenix conseguem manter em termos «sociais» é outro dos trunfos para continuarem donos de uma sonoridade firme e, podemos mesmo afirmar, única.
Ao longo da sua discografia, a banda francesa conseguiu evoluir de forma consistente e, por exemplo, em algumas peças de “Wolfgang Amadeus Phoenix” sentimos aquela sensação boa de abraçar um som perto da perfeição pop. Basta lembrar as faixas de “It’s Never Been Like That” e logo somos remetidos para um território único criado por uma banda que sabe o que quer, o quer fazer e que caminhos a seguir.

Ao ouvirmos “Bankrupt”, disco que nasce com o estatuto dos Phoenix nos píncaros da popularidade, voltamos a sentir a legitimidade e franqueza das qualidades inatas da banda, ainda que com alguns ajustamentos e evoluções.

O som continua descaradamente synth-pop e continua a existir muita magia nas canções de “Bankrupt”. A música cresce com a experiência e hoje os Phoenix são capazes de criar verdadeiras obras de arte auditiva como o são, por exemplo, “Trying to Be Cool” ou “Drakkar Noir”. A fama de que a banda foi alvo, uma forma merecida de reconhecimento pelo seu percurso musical, não obstruiu a criatividade de Mars e seus pares.

A empatia que a synth-pop proporciona já levou algumas bandas cuja matriz se enquadra mais nas raízes rock a tentar a sorte por tais caminhos minados e o resultado foi um desastre. Se para os Phoenix fazer boas canções é algo inato, para outros é uma verdadeira tarefa hercúlea.

Alheio a essa dificuldade, “Bankrupt” oferece composições como “Entertainment”, a faixa de abertura, que noutras mãos poderia soar a ato falhado, mas que nas mãos dos Phoenix revela os ingredientes certos para qualquer quadro ou contexto. Tal como toda a melhor pop, a música dos Phoenix extravasa qualquer linha temporal e encontra a sua contemporaneidade em qualquer página do calendário.

Ainda assim, afastemos desde já o fantasma de estarmos perante um novo dogma musical, pois não é esse o objetivo da banda. Aquilo que ouvimos em “Bankrupt” são canções que devem crescer com o tempo, com a maturidade, sem esteroides ou vitaminas de desenvolvimento forçado.

Sabemos que “Entertainment” ou “S.O.S. In Bel Air” são excelentes e viciantes canções, mas almejar que tenham o sentimento de eternidade de “Lisztmania”, de “Wolfgang Amadeus Phoenix”, ou “Long Distance Call”, de “It’s Never Been Like That”, é ainda precoce. No entanto, depois de uma primeira audição, podemos ficar com aquela sensação boa de reconhecer algo delicioso, como ao degustar uma iguaria suculenta. O açúcar que proporciona uma primeira dentada em “The Real Thing”, “Don’t” ou “Bourgeois” pode, definitivamente, levar a vigiar os níveis de sacarose na circulação sanguínea, mas tal efeito hiperbólico não deve levar a uma dieta muito rigorosa.

A música dos Phoenix serve para ser devorada com ou sem moderação, tal como nos der na real gana! Beba-se “Oblique City” na versão com gorduras e afastemo-nos de variações light de temas como a brilhante “Chloroform”. Deixai vir a nós as calorias dos sintetizadores e dos acordes de guitarras embebidas em licores com sabor a fruta da época.

Muita gente desconfiava deste novo disco dos Phoenix. Será que a banda se tinha deixado manipular pelas luzes intensas dos holofotes do sucesso? Aos mais céticos dizemos: façam o favor de afastar qualquer nuvem cinzenta, pois “Bankrupt” traz luz e calor. Existem grandes músicas neste mais recente trabalho do quarteto francês e algumas vão ter um lugar eterno nos corações dos ouvintes. Os Phoenix estão unidos, sólidos e, ainda por cima, têm o privilégio de fazer as coisas tal como bem lhes apetece. E isso são coisas que se conquistam com muita dedicação, arte, talento e trabalho.

Alinhamento:

01.Entertainment
02.The Real Thing
03.S.O.S. in Bel Air
04.Trying to Be Cool
05.Bankrupt!
06.Drakkar Noir
07.Chloroform
08.Don’t
09.Bourgeois
10.Oblique City

Classificação do Palco: 8,5/10

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