quinta-feira, 16 de maio de 2013

“EXPLICAÇÕES DE PORTUGUÊS – EXPLICADAS OUTRA VEZ”
de MIGUEL ESTEVES CARDOSO

Crónicas de um bom malandro




Um homem nasce, cresce, casa, tem filhos, descasa, encontra o amor e foge da morte. A vida pode ser um somatório de acontecimentos, causas e acasos mas, para alguns, a memória perdura no imaginário através de uma herança. No caso de Miguel Esteves Cardoso, a palavra escrita é esse património que se quer recordado, reinventado, descoberto.

Na sequência de um namoro que viria a virar matrimónio, Esteves Cardoso e a Porto Editora decidiram dar o nó e reeditar algumas das obras que mais marcaram o panorama literário das últimas décadas em Portugal.

De uma assentada, a Porto Editora ganhou o espólio de Miguel Esteves Cardoso e traz de novo às livrarias “A Causa das Coisas”, “O Amor é Fodido”, “Os Meus Problemas” e “Explicações de Português – explicadas outra vez” e apresenta ainda um novo trabalho do autor: “Como é Linda a Puta da Vida”, outro livro de crónicas mundanas. Para além de alguns arranjos, estes “novos” livros de Esteves Cardoso sofreram um lifting e contam com as ilustrações de Rui Ricardo a abrilhantar as capas. No que toca a alterações editoriais, esta nova abordagem permitiu que as próprias obras crescessem.

Em “Explicações de Português – explicadas outra vez”, por exemplo, a organização das crónicas esteve a cargo de Vasco Rosa; Esteves Cardoso salienta que este tomo, originalmente editado em 2001, é composto por pedaços de texto que não foram escolhidos por si, alguns deles inéditos, algo que difere dos restantes trabalhos do autor.

Tendo ainda como referência este livro que conta com um galo de Barcelos na capa, Miguel Esteves Cardoso percorre as mais de 270 páginas desta obra com aquilo que melhor caracteriza a sua escrita, que aposta no sentimento genuíno de uma portugalidade à prova de qualquer invasão estrangeira. Ao longo das páginas verbaliza-se, diferem-se sentimentos, vive-se, mata-se, recebe-se, suspira-se, sente-se o ardor de uma pátria egrégia, solta-se a animosidade do animal humano, proíbe-se a beleza, trabalha-se, agradece-se e, acima de tudo, vive-se.

Ler ou reler Miguel Esteves Cardoso é sentir a paixão da escrita, da ideia tornada palavra, do sentimento que nos transcende até à realidade palpável. O amor, por exemplo, sentimento que transborda nas linhas deste livro desde o seu prefácio em forma de declaração apaixonada, é omnipresente.

Logo nas primeiras linhas de “Explicações de Português – explicadas outra vez”, escreve-se sobre a união de seres idênticos, de somas entre parte de gente que se identifica. Em “Abraço”, escreve assim Esteves Cardoso: “As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se”.
É esta a magia da escrita de um homem que se diz apaixonado e que nos apaixona, ao presentear-nos com a sua e arte de formar textos, histórias e experiências que fazem crescer a própria língua portuguesa que, na pena de Esteves Cardoso, é utilizada de uma forma pessoal e transmissível.

In Rua de Baixo

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