segunda-feira, 22 de abril de 2013

LINDA MARTINI
RITZ CLUBE (20.4.2013)

Inventar o mar de volta



A décima edição do Indielisboa continua a surpreender. Depois do encontro festivo protagonizado por Manuel Fúria e os Náufragos na sexta-feira, no dia seguinte seria a vez dos Linda Martini subirem ao palco da simpática sala da Rua da Glória.

As expectativas sobre este concerto eram elevadas, tanto que os bilhetes esgotaram num ápice, sendo a organização obrigada a vender ingressos extra. Os Linda Martini conseguiram, com todo o mérito, reunir um conjunto de fãs que lhes garantem um culto de certa forma ímpar por terras lusas.

Passados dez anos, dois álbuns e alguns EP’s, André Henriques, Cláudia Guerreiro, Hélio Morais e Pedro Geraldes são um dos mais fortes colectivos do panorama indie nacional e cada concerto é sinónimo de entrega, competência, honestidade e celebração.

Desta vez, o espectáculo assumia contornos diferentes e os Linda Martini pegaram em “Olhos de Mongol” e tocaram na íntegra o seu primeiro longa-duração. Se na lotada sala do Ritz Clube o calor humano sentia-se amiúde antes da banda subir ao palco, depois dos primeiros acordes a temperatura subiu ainda mais e a emoção estava ao rubro.

De forma concentrada e competente, os Linda Martini arrancaram com «Sinto a Cabeça Cair» e «Cronógrafo». Se na faixa inaugural de “Olhos de Mongol” a calma aparente reinava em palco, logo a seguir o som contido e circular de «Sinto a Cabeça Cair» deu lugar à explosão crua e directa de «Cronógrafo».
O público retribuía com palmas a compasso e uma entrega idêntica aos quatro músicos que pisavam o palco.

Essa cumplicidade entre quem toca e quem ouve é habitual nos concertos dos Linda Martini e no passado sábado voltou a sentir-se. Se em palco se destilavam acordes sónicos por entre batidas sincopadas de uma bateria pujante, bem secundada por um baixo omnipresente, na tela que se encontrava por detrás dos músicos as imagens subaquáticas das “20 000 mil Léguas Submarinas” de Júlio Verne davam um ambiente particular ao concerto.

Antes da brilhante «Dá-me a tua Melhor Faca», Hélio Morais agradecia a presença de todos e recordava que aquele palco era especial para os Linda Martini, pois foi um dos primeiros locais onde a banda de Queluz ousou tocar a sua música. Se a banda se sente bem na capital, Lisboa também adora receber os decibéis dos Linda Martini.

«Partir Para Ficar» foi a senhora que se seguiu e a voz samplada de José Mário Branco encheu por completo o ambiente do Ritz Clube. Embora as guitarras percam, momentaneamente, a sua fúria, ganham uma forma circular e ambiental muito especial com o diálogo sonoro entre André Henriques e Pedro Geraldes. Um dos momentos mais intimistas e bonitos da noite.

Logo depois somos embalados por «Estuque», um tema que atravessa toda a versatilidade sonora dos Linda Martini, onde a contenção saída dos instrumentos é maravilhosamente secundada pelas palavras entoadas por André Henriques. Uma das mais hipnóticas e bem conseguidas faixas de “Olhos de Mongol” é um autêntico hino ao devaneio lírico.

Sem descanso, «Amor é Não Haver Polícia» rompe com a inércia e o feedback segue directo à medula. O estado sónico é um alerta e o sentimento caótico convida ao mosh nas primeiras filas. Se em palco o prazer de se tocar é contagiante, a audiência sente o hipnotismo de ser conquistada por uma música que incita ao “motim”.

Para recuperar da intensidade do momento, «Quarto 210» traz a quietude e todos cantam em coro. A sinfonia gritada é substituída por ecos de tranquilidade. E depois da calmaria, a tempestade de «Amor Combate», talvez o maior hino dos Linda Martini e que provoca naturalmente um sentimento emotivo de grande intensidade. O mosh reaparece e há quem surfe na multidão, talvez inspirado pelas já referidas imagens aquáticas que continuavam a inundar as mentes de quem as via.

A apresentação de “Olhos de Mongol” acabaria com uma fantástica interpretação de «A Severa (ver de perto)». O baixo de Cláudia indica o caminho, a bateria de Hélio ilumina a estrada e as guitarras de André e Pedro voam, felizmente, em excesso de velocidade. Cansados e satisfeitos, os Linda Martini recolhem ao balneário, mas neste jogo sonoro ainda havia direito a prolongamento.

Depois de uma curta pausa, os Linda Martini regressam ao palco com mais algumas surpresas. Depois de tocarem “Olhos de Mongol” na íntegra, o concerto segue com o primeiro EP da banda. «Este Mar» foi a primeira música a ser tocada e, passada uma década, continua a ser uma das mais bonitas, intensas e fortes composições da banda. Os momentos instrumentais seguiram-se com a marcial «Efémera», repleta de loops onde o silêncio e o “ruído” complementam-se. A voz de André voltaria a sentir-se com «Lição de Voo nº1». A música vai subindo devagarinho e todos, sem excepção, os que estavam no Ritz Clube conseguiram tocar no “avião sem tirar os pés do chão”.

A brilhante e suada actuação do quarteto seria ainda coroada com mais dois momentos, desta vez revisitando “Casa Ocupada”. Primeiro «Belarmino» e depois «Cem Metros Sereia» permitiram palmas, coros afinados, gritos e um crowdsurfing de Hélio Morais que só pararia perto do bar. O concerto terminou com uma merecida ovação por parte de um público sedento por mais música dos Linda Martini.

In Rua de Baixo

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