quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

YO LA TENGO
"FADE"

Estes corações batem em uníssono 



Quase três décadas depois de lançarem “Ride the Tiger”, álbum de estreia que saiu para a rua em 1986, o trio nascido em Hoboken, Nova Jérsia, oferece-nos o novo “Fade”, um disco com dez canções diluídas em 45 minutos.

Georgia, Ira e James, uma das mais bonitas famílias musicais do nosso tempo, que vem a Portugal nos primeiros dias de março (dia 1, Aula Magna; dia 2, Casa da Música), colocam agora na rua o 13º álbum da sua equilibrada e consistente carreira, depois de um pouco consensual e algo burguês “Popular Songs”, de 2009.

Para a história ficaram, por exemplo, álbuns charneira que marcaram o panorama indie internacional como “Fakebook” (1990), “Electro-O-Pura” (1995), “I Can Hear the Heart Beating as One” (1997) e “And Then Nothing Turned Itself Inside Out” (2000).

Depois de muita expectativa, uma primeira audição a esta dezena de canções revela um trabalho à imagem dos melhores Yo La Tengo. No fundo, temos em mão um álbum típico da genialidade da banda norte-americana, que se alicerça num misto de honestidade, simplicidade, despretensiosismo e, acima de tudo, talento.

“Fade”, ao contrário do que a banda fez na década de 1990, faz salientar a importância das guitarras e dos feed-backs agridoces. Canção após canção, sentimo-nos num universo que deambula entre fragmentos oníricos inofensivos e melodias com muita sacarose. Este é um disco feito a olhar para o umbigo, um trabalho interior feito para agradar aos fãs mais dedicados e gulosos e, desta vez, com a preciosa ajuda na produção de John McEntire, homem que deixou a sua marca, por exemplo, nos Tortoise e Sea and Cake.

Despreocupados, como sempre foi seu apanágio, pelas opiniões e pressões alheias, os Yo La Tengo cozinharam este disco para paladar próprio, provando a si próprios, claro, que conseguiram um prato auditivo no ponto, sem deixar esturricar ou cozer em demasia, ficando um sabor apetitoso nas “papilas” auditivas.

“Ohm”, a canção que abre o disco, e a mais longa de todo o álbum, é um exercício funk que condensa toda a mestria do rock de cariz indie errante. “Sometimes the bad guys go out on top / Sometimes the good guys lose” - são as frases sussuradas por entre riffs tímidos que abrem o disco. Procuraram os Yo La Tengo a redenção?

A seguir, a viagem segue com “Is Not Enought”, uma das mais orquestradas e bem tocadas canções do disco, que tem na voz de Ira e nos coros de Georgia as paredes-mestras de um edifício à beira do colapso amoroso, resultante de um matrimónio entre cordas várias. O passo seguinte é “Well You Better”, uma espécie de ultimato envolto numa bem-disposta e ritmada composição secundada com uns teclados ora dolentes, ora mais ritmados.

Mais à frente, “Paddle Foward”, um dos momentos mais bonitos do disco, revela-nos uma pop pujante com as guitarras a roçarem a ousadia de visitar parentes mais pesados. O resultado é uma viciante experiência que nos toca de uma maneira que só os Yo La Tengo conseguem.

Por sua vez, “Stupid Things”, suave nos primeiros acordes, incorpora na guitarra, desgarrada, ecos de uma certa juventude sónica, com a voz de Ira a dirigir-se a um planeta mais low-fi, que tem como satélite natural o krautrock. Se dúvidas se tivessem sobre a excelência deste disco, aqui, elas dissipam-se.

Mas este é também um disco onde a toada acústica, principalmente na segunda metade, é uma doce tentação. “Ill Be Around” e “Cornelia anda Jane” são peças musicais pouco recomendadas a diabéticos. Se, na primeira, é Ira que destila, não veneno, mas um açucarado discurso, já na segunda é Georgia que nos faz acelerar o coração com uma daquelas canções feitas mesmo, mesmo à sua (nossa) medida.

Seguem-se as muito competentes “Two Trains” e “The Point of It”, que servem também como a antecâmara para “Before We Run”, um exemplo acabado de uma excelente canção que só este trio consegue fazer e, aqui particularmente, com a ajuda de uma simpática orquestração que sustenta a beleza simples da estrutura desta última canção de “Fade”.

Podemos, em janeiro, dizer que estamos perante um dos melhores discos do ano? Sim, tanto para mais quando a certeza que nos acolhe é uma deliciosa realidade. Venham de lá mais discos assim, que os nossos sentidos agradecem. Ah, e março está mesmo a chegar...


Alinhamento:
01 “Ohm”
02 “Is That Enough”
03 “Well You Better”
04 “Paddle Forward”
05 “Stupid Things”
06 “I’ll Be Around”
07 “Cornelia And Jane”
08 “Two Trains”
09 “The Point Of It”
10 “Before We Run”

 Classificação do Palco: 9/10

in Palco Principal

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