terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Entrevista com o autor de “A Paixão de K”



Médico escritor ou escritor médico? Miguel Miranda é, acima de tudo, um autor com alma de poeta e um viajante que percorre o universo dos sonhos com a ajuda dos seus livros.

Estivemos à conversa com o autor de “A Paixão de K” (ler crítica RDB aqui) e tentámos descobrir alguns dos segredos desta sua nova aventura literária, que reclama a perfeição de uma personagem nascida na cabeça de um amigo de sempre.

Ao oitavo livro, fala de paixão e “afasta-se” do seu Porto optando pelo palco londrino. Alguma razão para tal?

A mesma razão que levou O “Bailado de Sombras” para Cuba e “Todas as Cores do Vento” para nenhures. O Porto é o centro do mundo, mas não há nenhuma razão para que não escreva sobre as periferias.

O caos que se vive na Londres alvo de motins é uma ameaça à própria estabilidade democrática. A paixão que atinge Perfecto Cuadrado tem um efeito semelhante no equilíbrio sentimental do personagem?

Paixão e caos são duas faces da mesma moeda: a disrupção da santa paz do equilíbrio emocional e social. E isso interessa a qualquer vulcanólogo, enquanto escritor.

Diz que o grande responsável pelo nascimento de Perfecto Cuadrado foi o saudoso Manuel António Pina. Sem esse estímulo não teria criado este personagem?

Este Perfecto Cuadrado desbocou-se do Manuel António Pina. Quando ele me contou que conhecera uma pessoa muito interessante, surrealista, que se chamava Perfecto Cuadrado e que vivia numa aldeia espanhola onde todos os homens se chamavam Pepe, erigiu-se perante mim uma personagem, dizendo-me sem mover os lábios: leva-me…

Para si os livros são como certos quadros que necessitam de um estágio dentro da gaveta à semelhança de alguns quadros que ficam virados para a parede para “ganhar corpo”?

Não, os livros são gravidezes que me acontecem dentro do útero da cabeça. Relentam-se nove meses encraniados, não mais. Às vezes, nascem prematuros, de oito ou seis meses, e sobrevivem. Gravidezes de elefante ainda não me aconteceram, o que não quer dizer que sejam impossíveis.

Perfecto Cuadrado é um apaixonado por mulheres e procura o ideal feminino. Será Josephine K. esse protótipo?

Essa é a dúvida que ele tem, insolúvel.

As memórias dão maior sentido à narrativa de “A Paixão de K.” e enquadram Perfecto Cuadrado no mundo. Serão essas recordações uma consolação para quem vive longe da terra que o viu nascer?

Nós somos feitos de memórias mais carne.

Há mais de duas décadas que se dedica à escrita. Onde encontra essa motivação e como conseguiu conciliar com a Medicina?

Sou escritor de noite e médico de dia. Tenho dificuldades ao crepúsculo.

A vida é, para si, “uma sucessão de planos”?

A vida é, para mim, uma sucessão de vidas.

In Rua de Baixo

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