sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

“A BALADA DE JOHNNY SOSA”
de MARIO DELGADO APARAÍN

O triunfo dos Blues


Era uma vez um preto que gostava de blues, uma loura que adorava o tango, um deserto que absorvia os calores e os males do mundo, um País à procura da liberdade, um povo amarrado ao seu passado e com saudades de um futuro nascido do confronto das armas e ideologias.

Era uma vez Johnny Sosa, um durão armado com uma guitarra Black Diamond, que a falta de uma dentadura o fazia encarar o futuro de forma sisuda, lamuriando as suas canções desapaixonadas e alicerçadas num Inglês de sotaque muito particular no palco de um bordel de Mosquitos, uma cidade assombrada pela própria existência onde a coragem pode relevar-se quando menos se espera.

Era uma vez um personagem à beira de um limite qualquer imposto pelo fantasma do seu ídolo de sempre, Lou Brakley, um preto azulado pela música que tocava, iluminado pelo seu sorriso branco com o mais belo dos marfins. Um Johnny de apelido Sosa que rejeita um sorriso falso, ao toque de boleros, em troca da sua integridade como ser humano.

Era uma vez uma história onde a música surge como um elixir para esquecer o que somos, onde estamos e, com sorte, para onde iremos. Um romance que é um apelo directo à dignidade humana, ao prazer pela vida. Uma luta entre o sentimento e o dever. Um desafio vencido contra uma ditadura militar e ideológica que é uma prótese imperfeita da vida.

“A Balada de Johnny Sosa”, do autor uruguaio Mario Delgado Aparaín, é tudo isto e muito mais. É um belíssimo romance com um toque de humor particular que nos faz devorar as páginas deste livro num ápice e do qual resultam personagens donas de uma riqueza à prova do calor do deserto.

Agora editado pela chancela da Quetzal, “A Balada de Johnny Sosa”, livro integrado na série américas, faz jus aos muitos elogios que a obra recebeu ao longo dos anos por parte do público e crítica – tendo sido galardoada com o Prémio da Literatura de Montevideu em 1988 -, e é um excelente ponto de partida para explorar a obra de Mario Delgado Aparaín.

in Rua de Baixo

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