segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Matt Corby @ Santiago Alquimista

Ídolo sem pés de barro



Num sábado com muito frio e nevoeiro à mistura, a sempre simpática sala do Santiago Alquimista acolheu, pela primeira vez em Portugal, Matt Corby, um rapaz australiano que deu os primeiros passos no mundo da música no conhecido reality show “Ídolos”, edição Austrália.

Matt Corby encantou os antípodas com apenas 17 anos mas, desde aí, a sua ascensão calma e ponderada levou-a à edição de alguns EPs recheados de magníficas canções. Muitas vezes comparado a nomes como Nick Drake, Jeff Buckley, e Justin Vernon, Corby é detentor de uma voz fantástica, que muda de registo com uma facilidade incrível, mantendo uma afinação acima de qualquer suspeita.

Assim, com tantos elogios, não se estranhou que o Santiago Alquimista registasse lotação esgotada para receber Matt Corby e seus amigos. A intimidade que a sala permite faz com que o público esteja muito próximo dos artistas, o que é sempre importante para aumentar a tão desejada cumplicidade entre quem está em cima do palco e quem assiste ao espetáculo.

Como anteriormente se referiu, para muitos Corby é ainda um “ídolo”. A primeira fila da assistência revelava isso mesmo. Dezenas de jovens raparigas, de máquina em punho e sempre prontas para soltar um gritinho de devoção, estavam a postos para prestar a devida “vassalagem” à sua estrela.

Mas que Corby seria esperado? Ao longo do (curto) concerto, Matt provou que está muito longe do tal rapaz de 17 anos dos “Ídolos” e é hoje um cantor adulto. A sua música amadureceu. As suas canções revelam-se intimistas, serenas e, acima de tudo, seguras de si.

Bem perto das 22h00, Matt Corby aparece em palco numa posse de anti-herói. Sozinho e apenas com a guitarra como companhia, oferece ao público um “Big Eyes” extremamente belo, cantado de uma forma muito próxima do registo de Jeff Buckley. O silêncio da sala era quase total e apenas o barulho dos motores das máquinas fotográficas contrastava com a beleza da performance do cantor. Estava dado o mote para a próxima hora.

“Kings, Queens, Beggars and Thieves” foi a segunda música da noite, quando em palco se juntavam os restantes amigos de Corby. Mais encorpado, muito por culpa da atuação da banda, este segundo tema, assim como outros que foram tocados, ganha outro brilho quando Bree Tranter, teclista, empresta a sua suave voz para os coros.

Um dos momentos mais altos da noite aconteceu com “Runaway”. A excelente introdução do tema, pautado por guitarras planantes e uma bateria a marcar o compasso, revelou a muito competente química que existe entre todos os membros da banda. Mas por muito que os instrumentos brilhassem, era a voz de Matt Corby que mais se destacava. Antes de “Made of Stone”, muito bem recebida pelo público, Corby fez questão de apresentar os seus companheiros de estrada. Para além da já referida teclista, a banda conta ainda com Chris na bateria, Johnny na guitarra e Kevin no baixo. Corby troca de posição com Bree e ocupa o piano. As cabeças das jovens na primeira fila movem-se sempre em direção do seu herói…

Segue-se uma das mais conhecidas faixas de Matt Corby. “Brother” traz de volta o cantor à guitarra e ao seu lugar natural, que é frente ao(s) microfone(s). Com o público a acompanhar a canção, Matt Corby entrega-se de alma e coração e canta em bicos de pés, para que a sua voz chegue ainda mais alto. E, de facto, consegue.

Como excelente contador de histórias que é, Matt Corby, em jeito de confissão, fala de “Letter”, uma missiva que foi o acto final de uma paixão que pouco durou, mas que marcou o coração do jovem australiano. A sala escutou, em silêncio, o que Corby contou e, essencialmente, cantou. E, durante uns minutos, o tal coração despedaçado sarou e curou cicatrizes passadas.

A seguir, e antes do encore, “Untitled” e “ Souls A Fire” levaram-nos por mais uns momentos a sentir a fantástica voz de Corby, muito bem secundada pelos restantes músicos. Por instantes, somos transportados para um ambiente blusy aconchegante que revela pormenores de jam session.

Aquele que foi, infelizmente, um dos concertos mais curtos que assistimos este ano, não deixou de contar com um encore que trouxe a palco mais duas excelentes performances. Primeiro, Corby, entregue à sua guitarra, despiu até ao tutano “Lonely Boy”, um original dos The Black Keys (que recentemente passaram por Lisboa), e arrancou do público uma das maiores ovações da noite. O final perfeito surgiu com “My False”, um tema bastante pedido pelos presentes que tiveram a ocasião de ver um concerto muito, muito competente e inspirado.

Cerca de uma hora depois de começar, a atuação de Matt e camaradas de estrada leva-nos a desejar que o muito aguardado álbum chegue em breve. Se neste sábado o Santiago Alquimista pareceu a sala ideal para um concerto destes australianos, no futuro vai ser complicado ver Corby de tão perto…

In Palco Principal

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