segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Cowboy Junkies
CCB

Tour nómada



regresso do clã Timmins a Portugal resultou num (grande) concerto, com mais de duas horas de música, viagens no tempo, agradecimentos, incentivo ao consumo, mães e -espante-se - Cristiano Ronaldo, ídolo de Ed, filho de Margo, e objeto de desejo da vocalista.

Os Cowboys Junkies encerram o cartaz da edição 2012 do Misty Fest com duas datas ( hoje atuam no Porto). Ontem, Lisboa teve o privilégio de receber um dos grupos charneira do dito indie folk/country. Na bagagem trouxeram a sua nova aventura, um conjunto de quatro álbuns intitulado "The Nomad Series", que, no fundo, mostra aquilo que o grupo canadiano foi e sempre será: um misto de paixão, dolência, umas pitadas de rock e blues e muita, muita beleza.

Falar em beleza é também falar de Margo Timmins. Aos 51 anos, aquela que é, sem exagero, uma das vozes maiores do universo musical das últimas décadas, mantém todo o seu encanto, vocal (e outros), e continua a enfeitiçar a audiência. Sempre simpática e muito dialogante, conta histórias, sussurra canções fantásticas, fala connosco e sabe dar lugar à música. E é dela, da música, que essencialmente queremos falar.

O grande Auditório do Centro Cultural de Belém revelava um ambiente muito tranquilo enquanto se aguardava pela banda. Tal como as canções dos canadianos, o palco exibia-se simples, apenas com a ressalva para um centro de mesa com flores, que conferia um ambiente aconchegante.

Foi com “Wrong Piano”, uma das músicas mais tocadas nos recentes concertos da banda e que faz parte do tomo segundo (“Demons”) da Nomad Series, que os Junkies abriram o concerto. Guitarra à solta, bateria segura, baixo presente e Margo, elegante e muito doce. No final desta primeira música, somos esclarecidos que o espetáculo vai ter duas partes. Primeiro, e porque é preciso divulgar a nova música, seguem-se apenas temas dos últimos álbuns da banda; depois, sim, depois, os clássicos. Margo tranquiliza a audiência e confirma que se vai ouvir “Sweet Jane”…

Consciente que o público podia desconhecer o mais recente reportório, Margo ia apresentando as músicas e - muito importante - encorajava os presentes a comprar discos e merchandising da banda, pois nem só de palmas vivem os artistas. Ah, “e o Natal está mesmo a chegar…”, argumentava a vocalista.

A lindíssima “I Cannot Sit Sadly By Your Side”, de “Renmin Park”, volume primeiro destas séries nómadas, tem direito a uma performance fantástica. Margo, sentada perto dos ramos de flores, agarra-se ao microfone, canta, abre a alma e, sem artifícios, (en)canta. É tão fácil apaixonarmo-nos por uma voz assim…

À medida que as músicas iam surgindo, a sensação de familiaridade com as mesmas era quase imediata. “Stranger Here”, também retirada de “Renmin Park”, leva a banda por caminhos mais rock. Margo Timmins confessa que os “seus rapazes” adoraram fazer um disco mais “duro”.

A excelência da música destes canadianos vê-se em todos os momentos. Se nos registos mais intimistas brilha o jogo entre a música e a sua ausência, nas experiências mais rock, Mike, Pete, Jeff e Alan arregaçam mangas e fazem-nos bater o pé.

“See You Around”, de “Demons”, disco dois da aventura nómada e o preferido de Margo, é a deixa para uma pequena homenagem a Vic Chesnutt, malogrado companheiro de estrada da banda. Jeff Bird troca o bandolim pela harmónica e ficamos com um ambiente mais country. É a hora do acústico vencer a eletricidade. Como um passo de mágica, “Late Night Radio”, de “Sing in The Meadow”, devolve a energia ao palco e surgem alguns solos de guitarra por parte de Mike Timmins, guitarrista e autor da poesia da banda.

Uma das grandes ovações da noite surgiu com “Third Crusade”, também de “Sing In The Meadow”, numa versão intensa e crua. Margo aproveita a música e agarra a mesma. Afasta-se do microfone e olha para a bateria do seu irmão Pete. Sem reservas, todos os elementos dos Junkies são excelentes músicos e nós só podemos agradecer tanto talento.

Chega agora a vez de “Wildreness”, o último capítulo da “Nomad Series”, e o disco mais querido da mãe de Margo. Numa toada mais calma, ouvimos, de seguida, “Damage From The Star” e “Unanswered Letter (For JB)”. Antes da pausa, somos presenteados com “Fairytale”, provavelmente uma das mais bonitas composições de sempre dos canadianos. A honestidade com que os nossos sentidos sentem esta música leva-nos a recantos doces da memória. Repletos de sacarose, chegamos ao intervalo. “Na pausa aproveitem para comprar uma prenda de Natal. Temos muitas surpresas lá fora”, insistia Margo…

O regresso ao palco é feito com a muito esperada “Sweet Jane”, tema original de Lou Reed, reinventado pelos Junkies em “The Trinity Session”, disco seminal gravado em 1988 e que lançou definitivamente a banda canadiana nas bocas do mundo. Em ritmo blusy, estava lançada a segunda parte do concerto.
“Dreaming My Dreams With You”, também de “The Trinity Session”, foi a senhora que se seguiu em ambiente slow core, a lembrar os Low, e com os Cowboy Junkies a jogar com o silêncio e a ausência de luz. Uma verdadeira canção de embalar à moda de Toronto.

Tal como prometido, a segunda parte do concerto serviu para viajar sobre o passado da banda. O disco seguinte a ser revisitado foi “Lay It Down”, de 1996, e “Common Disaster” levou a audiência a sentir ambientes mais swingantes com bateria e o baixo a ditar leis e a guitarra a destilar alguns feedbacks. Seguiu-se “Cause Cheap is How I Feel”, de "Caution Horses", álbum de 1990, tema que fez bater os muitos pés presentes, que sentiam a voz de Margo a planar na sala.

A acalmia regressou com o tema título de “Lay it Down”, a ser apresentado de forma solene, com os quatro instrumentistas da banda a dar um verdadeiro recital em forma de tour de force. Margo Timmins sai do palco e deixa os “seus rapazes” recriarem-se.

Antes do próximo tema, “Don’t Let It Brig You Down”, de Neil Young, Margo voltou à conversa, sendo Cristiano Ronaldo o centro da mesma. Parece que Margo e seu filho são fãs do craque do Real Madrid. Se Ed gosta da qualidade futebolística de CR7, Margo confessa que é a estampa física de Cristiano que a fascina. A plateia reagiu com risos e aplausos. Depois, “A Horse In The Country”, de “Black Eyed Man”, trabalho de 1992, foi dedicada a todos as senhoras com mais de 50 primaveras, como a própria vocalista.

“My Little Basquiat” e “Good Friday”, temas de “All The End Of Paths Takes” e “Miles From Home”, respetivamente, antecederam um dos momentos altos da noite. “Misguided Angel”, um regresso a “The Trinity Session”, foi absolutamente brilhante, com laivos de perfeição.

Depois disto, a banda abandona o palco. A espera pelo encore foi curta e os primeiros acordes de “Blue Moon” aquecem corações e almas. A última canção da noite foi de uma intensidade brutal e foi natural uma merecida ovação de pé. Finalizado o concerto, vestem-se casacos, sai-se para a noite fria e escura mas, por dentro, sentimos calor, estamos em paz.

In Palco Principal

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